Nevermind

Li a notícia do casaco de lã com mais de vinte anos, desbotado, com um buraco de queimadura e um botão em falta, que foi vendido em leilão por 137.500 dólares, perto de 130 mil euros. O casaco pertenceu ao Kurt Cobain (sim, posso usar o artigo para nomeá-lo, we go back) e foi usado por ele no célebre concerto unplugged da MTV, aquele que permitiu que ouvidos sensíveis (que consiste, no fundo, noutra forma de dureza de ouvido) apreciassem pela primeira vez os Nirvana.

O meu primeiro pensamento foi, naturalmente: “Puta que os pariu”. As voltas que o gajo daria no túmulo se soubesse. Um casaco todo lixado, que já estava todo lixado há vinte anos, porque não nos passaria pela cabeça que ele usasse outra coisa senão um casaco todo lixado, a ganhar valor de mercado, a transformar-se num item cobiçado, capaz de valer o que muitos não ganham em duas décadas. Pareceu-me uma espécie de derrota, vá. Que o Kurt se tenha transformado num desses ícones que os gajos fabricam para consumo rápido, lá vai overdose aos 27, ou morte na estrada, ou tiro de revólver, foi uma derrota que já era esperada. Mas vê-lo transformar-se em peça de mercado é do caraças. Até uma madeixa do seu cabelo louro tinham para leiloar, mas desistiram em cima da hora. [Read more…]

Sou Trendy com um toque vintage

Aí em cima, no título, está o “estilo” de um gajo que responde a uma série de perguntas de uma revista “Pública”.
E o que veste? Camisola Burberry, calças h&M, sapatos Fly London, casaco vintage. E…
E depois, porra? O que é que isso tem a ver com a felicidade das pessoas, a começar pelo próprio? Eu calço (deixa ver…) Rockport, calças Armani (mentira…) e camisa H&M (não consigo ver a etiqueta no pescoço, deve ser mentira.). Visto-me assim todos os dias? Sei lá, visto o que está mais à mão, os sapatos mais confortáveis, conforme está frio ou calor.

Se vou a um jantar visto um casaco e uma gravata (por acaso sou doido por gravatas tenho uma legião delas compradas em sítios muito diferentes) que é sempre a mesma, isto é, uma para as alegres outra para as tristes, mas isso não concorre em nada para o meu estilo.
Andei anos seguidos de fato e gravata, no inverno e no verão (profissão oblige…) chegava à loja e trocava um dos fatos por outro igual, por acaso todos muito caros, mas era porque eu não aguento a “fazenda” junto ao corpo, tinha que ser do melhor, nem assim me safava estava sempre com vontade de urinar o que só me passava quando vestia umas jeanes.

Será que nem trendy consigo ser? E vintage? Quem não aguenta andar muito direitinho para não amarrotar os casacos “armani” tem que, forçosamente, andar mal vestido?
Eu ando bem vestido! Mas a verdade é que ninguem me pergunta nada sobre o assunto, ao contrário de um amigo meu jornalista que me telefona e pergunta-me uma coisa qualquer sobre economia, ou Gestão de Empresas, e só na semana passada descobri que apareço no jornal a dar doutas sentenças!
Um gajo quando é pobre…