MOAMBA

  • Tens-te transformado numa coisa muito ruim! – disparou o homem enquanto comia uma garfada de bacalhau.
  • É o que tu dizes. Outras pessoas dizem o contrário. – respondeu a mulher mordiscando um palito de batata frita.

  • Quem? – quis ele saber.

O diálogo prosseguiu neste tom que a excessiva proximidade das mesas me impedia de não ouvir, apesar do ruído de fundo do restaurante cheio.

Refugiei-me na moamba e nas memórias de sabores que, no meu caso, recuam até à infância e a outras geografias.

Enquanto o homem se lamentava em voz alta e a mulher, em silêncio, se arrependia pela milionésima vez de se ter casado com aquela besta, eu sentia alguma nostalgia porque, se quase tudo é reproduzível, isso não acontece com o travo do óleo de dendém caseiro dessa infância longínqua, aquele que marca pela eternidade fora o verdadeiro gosto de uma boa moamba de galinha.

Uma história de amor

Conheci-os na enfermaria e, no que a estas linhas diz respeito, decidi chamar-lhes Maria e António. Ela já fez 80 anos, a ele falta-lhe pouco para lá chegar. São casados há muito tempo, tanto que ela já não recorda a vida sem ele. Ele deixou de saber como se chama, onde está, quem ela é, e passa boa parte do dia agitado, a tentar mover os dedos crispados pela artrose e a murmurar palavras ininteligíveis, e foi isso que me chamou a atenção, ainda antes de conhecê-la a ela. Tantas horas passadas a tentar falar, um tão grande esforço para articular palavras, que poderá ter ele para dizer-nos? Importar-lhe-á se conseguimos decifrá-las ou não? Sorrio-lhe, fraco consolo, sou tão desconhecida para ele como aqueles com quem passou a vida, não entendi uma palavra de todas as que ele pronunciou, e duvido que ele veja esse sorriso do lado de lá da névoa que lhe cobriu os olhos.

Só mais tarde a conheci a ela, uma mulher de passos inseguros, parece hesitar antes de pousar cada pé no chão. É bonita, tem um olhar inteligente e essa avidez de conversa de quem passa os dias só. Vivem um com o outro, sem filhos, e é ela quem trata dele, com a ajuda de uma cuidadora do centro de dia local. [Read more…]

Sinais de retoma

Número de casais desempregados aumenta 45% em Junho

Vamos todos entregar crianças a casais homossexuais

Tenho 2 filhas bebés, lindas. Espero que não venham a ficar órfãs enquanto são pequeninas. Se por algum azar ficassem, família e amigos seriam os primeiros a chegar-se à frente.
Mas de uma coisa tenho a certeza. Se não houvesse ninguém disponível e a solução fosse a adopção por estranhos (a institucionalização nunca), preferia mil vezes que fossem entregues a um casal homossexual (masculino ou feminino) do que à Maria Teresa Alves e ao seu marido.
No fundo, compreendo os medos da senhora, inculcada que tem sido dos fantasmas da homossexualidade pelo beatério de que certamente faz parte. Da mesma forma que compreendo a posição de Luis Villas-Boas, do Refúgio Aboim Ascenção. A ele, interessa-lhe ter um exército de institucionalizados. No fundo, é o seu ganha-pão.
No meio disto tudo, uma palavra para a maturidade democrática revelada pelo Parlamento e pela sociedade portuguesa em geral, que não dá um pataco por toda esta polémica. As suas maiores preocupações são outras e o facto de casais de homossexuais poderem vir a co-adoptar não é certamente uma delas.