“O STOP e a cidade que queremos construir“, artigo aberto, no Público.
Stop
Foi centro comercial nos anos 80, com cinema, lojas, restaurantes. Depois começou a perder fôlego para a múltipla concorrência e decaiu. Foram encerrando-se lojas, houve algum episódio de violência, o local tornou-se indesejável. Esteve fechado, a apodrecer lentamente aos olhos de quem passava, uma ruína mais numa cidade que acumulou demasiadas. Mas há poucos anos, ganhou uma nova vida quando os músicos da cidade começaram a alugar as antigas lojas e a convertê-las em salas de ensaio. A porta da rua reabriu-se, voltou a ver-se gente por ali, um segurança, um café à entrada – sintomas de vida num corpo que estivera inerte.
A vida deste local, a sua experiência distinta de todos os outros grandes espaços comerciais da cidade, tornou-o um lugar especialmente interessante. Desde logo, essa nova vida não se fez acompanhar de uma renovação estética. O Stop continua a parecer um local abandonado. Há paredes grafitadas, zonas mal iluminadas, beatas no chão, lojas que ainda exibem os seus antigos cartazes, agora arruinados, montras que deixam ver salas vazias, janelas tapadas, algum caixote abandonado pelos últimos inquilinos, uma lista telefónica manchada de humidade, um calendário de um ano longínquo. Os estúdios dos músicos, tapados dos olhares de quem passa, não se distinguem das salas para alugar. Os elevadores funcionam, mas as escadas rolantes estão paradas. As casas de banho, de paredes cobertas de rabiscos, estão reduzidas ao mínimo. Aí não há espelhos, não há sabonete e é quase com espanto que confirmamos que há retretes e água corrente. [Read more…]
O «Brasília» e a profusão de Centros Comerciais
Fui num dos útimos dias ao «Brasília», o velhinho Centro Comercial do Porto. Foi o primeiro grande Shopping da cidade, construído muito antes do «boom» que depois se verificou.
O «Brasília» acompanha-me desde muito novo. Ali vi o «Bambi», no histórico Cinema Charlot que já fechou portas há muitos anos. Por ali andei diariamente, durante a adolescência, a coleccionar postais e calendários antigos na loja do Simarro.
Anos depois, já na Faculdade de Letras, ali bem perto, era cliente diário da «CopiPorto», o mais simpático Centro de Cópias que então existia na cidade.
Pela mesma altura, ainda um rapaz livre e descomprometido, o «Brasília» era uma parte obrigatória das minhas noites. Jantava no «Diário», ali na Carvalhosa, ficava até às duas da manhã no «Diu», do outro lado da rua, e depois siga para o Bingo da «Brasília» até às 3 horas. Os outros iam para jogar, eu só ia para continuar na cerveja, porque àquela hora nada mais restava senão o bar do Bingo. Uma vez, não me deixaram entrar e não percebi por quê. 🙂
Depois do Bingo, iamos acabar a noite nas «roulottes» da rua D. Pedro V. Chegava às 5 da manhã a casa e dormia umas horitas, porque às 9 tinha de estar a trabalhar no Museu da Imprensa ou então a estudar (dormir) nas aulas da manhã.
Há uns 15 anos que não entrava no «Brasília». Desta vez, fui por causa da Venda de Natal do MIDAS e da ajuda que todos devemos aos animais. Mesmo ao lado, está também a Venda da UNICEF e do Lions.
Apesar de tudo, fiquei contente. O piso principal do Shopping, por exemplo, está todo ocupado e uma grande parte com lojas mais ou menos importantes. Dizem-me que por vezes tem mais gente do que o Cidade do Porto, o tal mamarracho que – não me admira – um dia acabará mesmo por ser demolido. E não será pelo facto de o Tribunal já ter emitido há anos a respectiva ordem.
Por estar em plena Rotunda da Boavista, o «Brasília» tem sabido resistir. Algo ainda mais admirável quando não param de abrir novos Centros Comerciais – ainda neste mês, foram mais dois na Maia, o Jardim e o Vivaci.
Ainda bem. Já faz parte da memória da cidade.
Comentários Recentes