João Cotrim de Figueiredo: E depois do Adeus

(João Cotrim de Figueiredo, Presidente da Iniciativa Liberal e deputado à Assembleia da República)

A revolução estava planeada. As tropas, de prevenção, aguardavam a senha para dar execução ao plano. Na verdade, duas senhas que tinham de chegar, simultânea e discretamente às várias unidades conjuradas. Em 1974, só através de uma rádio se poderia fazê-lo.

Foi assim que, às 22:55h do dia 24 de Abril de 1974, quem estava sintonizado na frequência da estação Emissores Associados de Lisboa pôde ouvir, sabendo-o ou não, a primeira senha do movimento militar que haveria de derrubar a ditadura no dia seguinte. Paulo de Carvalho cantava “E depois do Adeus” e Portugal nunca mais seria o mesmo.

Quis saber quem sou/

O que faço aqui/

Quem me abandonou/

De quem me esqueci

(Letra: José Niza. Música: José Calvário)

 

A canção devia ser, por esses dias, das mais ouvidas na rádio. Menos de um mês antes tinha representado Portugal no Festival da Eurovisão em Brighton. Ficou em último lugar, sem surpresa. Mas a sua popularidade entre portas continuava alta pelo que ninguém estranharia, nem mesmo a polícia política, ouvi-la na rádio. Era uma canção popular e sem conotações políticas. Foi escolhida como primeira senha da revolução exatamente por isso: para passar desapercebida a todos menos aos capitães de Abril. [Read more…]

Educação sempre a rimar com confusão: NO chegam ao Superior

A formação inicial dos professores corresponde, em termos simplistas, ao curso superior que confere a um indivíduo a necessária habilitação para poder dar aulas. Com o controlo que a mentalidade eduquesa vem exercendo, há vários anos, sobre as políticas educativas, a componente científica da formação inicial foi-se tornando cada vez mais irrelevante: o professor é, na realidade, visto como alguém que pode leccionar qualquer matéria, independentemente da especialização científica, como se pode confirmar no projecto de prolongar a monodocência até ao 6º ano.

aqui tive oportunidade de dar a minha opinião: a monodocência, mesmo no primeiro ciclo, é um disparate. Veja-se, por exemplo, o plano de estudos da licenciatura em Educação Básica da Escola Superior de Educação do Porto, curso esse que, complementado com o Mestrado em Ensino do 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico, permite a formação de professores “para a docência generalista, no 1.º e 2.º Ciclo do Ensino Básico.”. Assim, as almas que inventaram este plano acreditam que um jovem mestre, ao fim de cinco anos, está preparado para leccionar Matemática, Língua Portuguesa ou outra coisa qualquer a alunos do 1º ao 6º ano.

No Público de hoje, ficamos a saber que o Ministério da Educação pretende que as Escolas Superiores de Educação possam, também, formar professores para o Ensino Secundário. É claro que se trata de uma nova oportunidade de negócio que as ESE não quererão enjeitar, aproveitando as habituais frestas da legislação produzida: a formação de professores do Secundário só pode ser feita através de licenciatura, grau que, desde 1997, pode ser concedido, também pelas Escolas Superiores de Educação. Estranha-se que tenham levado tanto tempo a descobrir esta abertura, mas a necessidade aguça o engenho. [Read more…]