Salazar nunca morrerá

Acredito, intimamente, que isto de se ser democrata não está inscrito no ADN de nenhum animal e que, portanto, a solidariedade, o respeito pelo outro, a aceitação da opinião contrária faz parte do treino para que o homem seja diferente do resto dos animais. Dentro de cada um de nós, está o lobo do homem que pode chamar-se Salazar ou Hitler, mas que é sempre o mesmo animal.

Ser democrata é, portanto, uma aprendizagem e um homem será tanto mais humano quanto mais democrata conseguir ser. Julgo que não será muito arriscado dizer que foi a Europa que inventou a democracia e que a levou a patamares inimagináveis há menos de cem anos. É a mesma Europa que, comandada pelo instinto ditatorial, castiga jornalistas da TVI por divulgarem uma conversa sinistra entre um empregado português e o seu patrão, conversa essa que deveria ser do domínio público, porque diz respeito ao público.

Em Portugal, os homenzinhos que detêm poder não conseguem chegar a ser lobos, ficando-se pelo pior que há nas raposas, verdadeiros pilha-galinhas da liberdade de expressão, como se pode deduzir das decisões tomadas na RDP porque um cronista resolveu exprimir aquilo que pensa, atitude condenável pelos pequenos salazares que infestam administrações e chefias.