A salada de intervenções e a linearidade simplista – em Moçambique

No passado dia 12 de Julho, o Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia aprovou uma missão de treino militar e apoio logístico e financeiro do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz para Moçambique – tudo isto com fraca legitimidade democrática, nomeadamente à margem de qualquer debate no Parlamento Europeu.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, veio ufanamente anunciar que a Presidência Portuguesa se “empenhou muito” no “lançamento” da missão de formação militar da União Europeia (UE) em Moçambique (…)”.

Maior o contentamento porque a missão militar será chefiada por um brigadeiro-general do Exército português (Nuno Lemos Pires).

Outra coisa não era de esperar de uma diplomacia que põe as relações entre os chefes acima dos direitos e aspirações dos povos. Numerosas análises já demonstraram que o que se passa em Cabo Delgado tem causas que vão muito além de violência “jihadista” do Estado Islâmico.

„Se, de facto, quisesse ajudar a população de Cabo Delgado, o Governo português, com apoio do secretário-geral da ONU, deveria ter tido coragem e dado o exemplo, posicionando-se contra a corrente dominante de belicistas. Isso implicaria que Portugal tivesse tido a coragem de usar a influência da UE para enfrentar o corrupto GoM, apelando à implementação de todos os meios pacíficos de resolução do conflito, em vez de usar quase exclusivamente o trunfo militar.“

Forças do Ruanda, SADC e UE irão agora formar uma “salada de intervenções militares” – como lhe chama a ONG moçambicana CDD (Centro para a Democracia e Desenvolvimento) – e há fundados receios de „que o conflito se agrave e arraste durante anos, à custa da população civil.“

Pão e vinho

Lembrei-me de escrever este artigo, a propósito da “missa do galo”.

Sou membro da igreja católica, baptizado, comungado e crismado por opção própria, coisa que nem qualquer católico se pode gabar.

Embora nunca tenha sido muito dado a missas – porque raro é o padre que consegue cativar a minha atenção com o seu discurso -, o certo é que tenho desde há muito um complicado sentimento contraditório quanto aos rituais da missa.

Por um lado aprecio o modo cuidadoso com os padres tratam das questões de “menage”. O modo como limpam o cálice do vinho e o prato da hóstia no fim de cada comunhão cuidando das migalhas e do asseio dos utensílios.

É, sem dúvida, um bom exemplo até mesmo para os homens casados e que, estou certo, as mulheres apreciam.

Por outro lado, quanto aos modos como se realiza a comunhão, acho, com o devido respeito, que não são os melhores. Entendo mesmo que violam o princípio da igualdade apregoado pelo ideal cristão, e acaba por ser um entrave á participação de mais gente nas missas e á concretização de uma das mais importantes missões da Igreja, além da evangelização.

Primeiro porque só o padre bebe, o que acho mal pois a hóstia não se pega só no céu-da-boca dos padres, mas sim de toda a gente. Além de que o vinho é produto nacional e há todo o interesse em promover o seu consumo, desde que com moderação.

Em segundo lugar, porque a distribuição daquela película que é a hóstia, não satisfaz o paladar e muito menos o estômago. Obviamente que a hóstia tem um valor simbólico, e deverá ser encarada numa perspectiva litúrgica. Mas se Cristo dividiu pão, deveria ser o pão, e não aquela coisa que se cola na boca, e, pior, nas próteses dentárias dos crentes.

Pão e vinho, sempre com moderação, deveriam ser os elementos da comunhão. Porque essa é a raiz histórica, e essa é uma das missões maiores do cristianismo: matar a sede e a fome ao próximo.