No ventre da baleia

Uma vez meteram-me num aparelho de ressonância magnética para procurar uma doença que eu tinha medo de ter e afinal não tinha. Fui sozinha, vou sempre sozinha para as coisas difíceis, por feitio e por hábito de não estar acompanhada. Mandaram-me tirar a roupa e vestir um fato do hospital, depois sair para o corredor e esperar que me chamassem. As salas eram azuladas e nuas, as pessoas passavam por mim e não me viam, todas as portas tinham avisos de acesso proibido, luzes que se acendiam e apagavam. Uma central nuclear não deve ser muito diferente.

Encolhi vários centímetros e sentei-me, muito me custou trepar, na cadeira do corredor, com os pés a balouçar, e aquele sorriso falso que eu ponho quando estou cheia de medo, e só não sacudi muitas vezes o cabelo para trás, como também faço quando estou cheia de medo, porque me tinham mandado pôr uma touca. Veio uma enfermeira entregar-me um questionário, saber das minhas possíveis doenças, operações, se eu tinha próteses, parafusos, pacemakers, piercings, tatuagens. Eu não tinha nada. Ela ficou contente comigo, por eu não ter nada dessas coisas que nos complicariam a vida às duas, e disse-me que a seguir era eu, só tinha de esperar mais um bocadinho.  [Read more…]

O “Pinóquio dos Submarinos”

Pinóquio dos submarinos

Por Fernando Saraiva.