O relambório da OCDE e a educação

Assim a correr, dar importância aos estudos encomendados por este governo é dar-lhe a seriedade que não tem. O Relatório da OCDE refere a educação nestes termos:

Investment in school-based teacher training and school leadership, a consolidation programme to create larger school units, and the introduction of school evaluation routines yielded significant gains in the 2009 PISA test scores for reading, mathematics and science.

Liderança nas escolas traduz-se pela destruição de um modelo de gestão que funcionava, somam-se os mega-agrupamentos, as avaliações das escolas, e temos os resultados do PISA 2009. Ainda podia explicar ao idiota que escreveu isto como em educação os ganhos, e as perdas, nunca são imediatas, mas nem é preciso: todas essas medidas começaram a ser aplicadas em larga escala precisamente em 2009. Donde se conclui que os resultados dos alunos no PISA são uma consequência retroactiva, uma inovação científica que vale um Nobel de qualquer coisa.

Como não chegasse, o resto das referências incluem o choradinho do custo de reprovar um aluno, discurso muito caro a Maria de Lurdes Rodrigues e detestado por Nuno Crato. Devem pensar que ela ainda é ministra da Educação. Só pode.

O estado comatoso do ensino em fim de ciclo político

Por SANTANA CASTILHO

Poucas semanas volvidas sobre a divulgação pela OCDE do “PISA 2009” e o consequente discurso encomiástico do Governo, veio a público o “Projecto Testes Intermédios. Relatório 2010”, um instrumento de avaliação do desempenho dos alunos portugueses, da responsabilidade do Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação.
Que podemos retirar deste relatório? Que os alunos portugueses raciocinam mal e escrevem pior; claudicam quando solicitados a relacionar conhecimentos a que foram expostos em disciplinas diferentes ou a construir um raciocínio lógico, ainda que simples e utilizando informação explicitada no corpo do próprio teste; quando se exprimem ficam-se por níveis elementares de proficiência, longe do rigor frásico e revelam-se ignorantes gramaticalmente; têm manifestas dificuldades em ultrapassar o nível básico na resolução dos problemas colocados, seja qual for a área disciplinar em análise, com incapacidade de ultrapassar o que não seja elementar, simples e curto. Particularmente no ensino secundário, o relatório identifica a falta de rigor científico e a manifesta dificuldade de construir ideias próprias ou lidar com raciocínios demonstrativos.

Aparentemente, há uma contradição insanável entre os dois estudos em análise. Mas não há. Eles chegam a conclusões semelhantes, usando metodologias distintas, o que reforça a solidez do diagnóstico sobre a mediocridade do ensino nacional. O que foi diferente foi o tratamento mediático e a manipulação triunfalista que Sócrates fez do “PISA 2009”. [Read more…]

PISA 2009 vs. GAVE 2010?

 

Relatório 2010. Alunos não sabem raciocinar nem escrever

Aguardam-se as reacções de Sócrates e respectivas corporações à notícia acima referida, cuja base está neste relatório produzido por um departamento do Ministério da Educação.

Já comentei (aqui e aqui) os tão celebrados resultados do PISA. A verdade é que todos os foguetes que se largaram, então, são apenas consequência de um provincianismo estéril, próprio de quem prefere alegrar-se conjunturalmente a agir estruturalmente. Seria igualmente provinciano transformar este relatório do GAVE num momento de depressão. O que, verdadeiramente, interessa é saber com rigor em que patamar estamos – e há muita gente que sabe – e planear a partir daí. O que interessa é que, finalmente, a Educação passe a constar de uma agenda de cidadania e que deixe de ser um departamento ao sabor de delírios financeiros e pseudo-pedagógicos.

Pisa em números, o universo e a amostra

Finalmente o ministério da Educação libertou alguns números sobre os testes Pisa 2009. Ainda não publicou a lista das escolas seleccionadas porque diz que não a tem, dado o hábito da mentira fazer parte compulsiva deste governo, como o Reitor demonstra.

A análise rigorosa da amostra não é possível, dado que o Pisa tem por alvo uma faixa etária (15 anos) para a qual não temos informação em detalhe. Mesmo assim, seguem-se os números publicados:

basico

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As escolas que fizeram os testes Pisa em 2006 e as que fizeram em 2009

Seria muito interessantes saber quais foram as escolas que participaram no Pisa em 2009. Perante as suspeitas, o Ministério da Educação fecha-se em copas e é a própria Ministra a dizer que não sabe quais foram as escolas que fizeram os testes. É curioso, porque a OCDE também diz que não sabe. Ninguém sabe.
Os procedimentos do Ministério devem ter mudado muito. É que em 2006 todos sabiam quais tinham sido as escolas a participar nos testes PISA. O relatório do GAVE, coordenado por Carlos Pinto-Ferreira e publicado em Dezembro de 2007, descreve pormenorizadamente os resultados em função da área geográfica dos alunos e chega mesmo a distinguir entre escolas públicas e escolas privadas.

Já quando se analisam os níveis médios de desempenho a literacia científica dos alunos segundo a região onde se localiza a escola que frequentam pode-se observar no mapa seguinte que os alunos portugueses obtêm níveis de desempenho muito semelhantes, sendo mais baixos nas ilhas (463 na Região Autónoma dos Açores e 466 na Região Autónoma da Madeira) e os mais elevados no Algarve (486), Centro (481) e Lisboa (477).

Ora, se sabem as regiões também sabem quais as escolas decada região que participaram. E quais delas eram públicas ou privadas. Sabem mas, pelos vistos, não querem dizer.
Como dizia o Paulo Guinote há uns dias, [Read more…]

Agora como não chumbam estão no 10º ano e fazem testes Pisa com muito melhores resultados

Onde é que meteram em 2009 os alunos com 15 anos que em 2006 estavam no 7º e 8º?

No Expresso de hoje Isabel Leiria pensa que estão no 10º ano, porque agora não reprovam e como tal sabem mais. Fantástico. Mas também podem estar num Curso de Educação e Formação (CEF) e não terem feito os testes Pisa.

A grande mudança no ensino em Portugal entre 2006 e 2009, afectando os alunos que dantes chumbavam de forma a estarem no 7º e 8º com 15 anos, foi precisamente terem sido encaminhados para os CEF’s (e muito bem, acho eu).  Nos CE’Fs pelo menos não chumbam. Mas os CEF’s não constam desta tabela. Até parece que os alunos dos CEF’s foram marginalizados desta oportunidade de demonstrarem as suas competências, o que seria uma enorme injustiça, e para alguns uma grande batota.

Por coincidência a subida da média nacional nos testes Pisa resulta sobretudo da subida dos piores alunos. Ou do truque de terem sido substituídos por outros, correspondendo aos que em 2006 estavam no 10º ano, bastando para isso que os alunos dos CEF’s com 15 anos não tenham feito o teste.

Um caso em que uma escola básica pediu escusa porque o “grupo de estudantes a avaliar tinha uma taxa muito elevada de casos de insucesso,” é conhecido.

Nesta remota hipótese, que não queria colocar mas já coloquei depois de esfregar os olhos na caixa de comentários do post onde esta tabela foi publicada pelo Paulo Guinote,  toda a propaganda que o governo tem feito seria um enorme barrete, a enfiar por todos nós, e ainda pela OCDE a quem primeiro teria servido.

O que está totalmente fora de causa, é claro, mas fará de Maria de Lurdes Rodrigues a maior prestidigitadora de números da História da Educação em Portugal.