(Continuando)
Os dias que se seguiram foram de trabalho. Trabalho árduo em que Zé Pequeno investia com persistência no seu juramento. Dias a fio trabalhando a pedra e saciando a sua fome de saber. De olhos vivos e atentos, de um azul que parecia reflectir o céu, buscava o saber e o aperfeiçoamento da sua arte. Queria ser o melhor pedreiro da obra, o melhor pedreiro do mundo. Era na sua arte que todo o seu ser se sustentava, o seu orgulho, a sua vaidade e a sua força.
Zé Pequeno não tardou a ser notado e comentado como bom artista, e volta meia volta a vida premiava quem se fazia vingar pela sua arte. Numa dessas raras voltas, Zé Pequeno foi contratado para a obra de S. Macário. O Senhor Nogueira carecia de alguém de confiança para trabalhar com o ferro e Zé Pequeno iniciara-se já com sucesso nessas lides. Sucesso que não obsta às más fortunas. Zé Pequeno em auxílio da dobra do ferro para uma cofragem, viu o seu braço direito ser infligido pela dor. Um dos ferros soltou-se, atingindo-o. Foi a confusão na obra. Todos acorreram para ajudá-lo, improvisando compressas para estancar o sangue que jorrava a impulsos. Não havia transporte da obra, o camião tinha ido carregar areia. Não restou alternativa a Zé Pequeno senão caminhar até à estrada, para apanhar a faniqueira que fazia serviço de carreira à Vila. Ali aguardou pelo transporte, enquanto o seu braço latejava por debaixo da compressa de trapos improvisada.
Por entre os minutos que sabiam a horas, ia-se queixando da sua má sorte e praguejava. Até que, por fim, o transporte quedou-se em sua frente. Entrou, e munido do bilhete descobriu o lugar sobrante que alcançou em três pequenos passos.
Foi então que encarou Luísa que se encontrava do lado da janela. De repente deixou de sentir qualquer dor, anestesiado que ficou pela surpresa. “E agora?” pensou ele, ao mesmo tempo que balançava a impulsos da estrada fraca. Instintivamente sorriu ao mesmo tempo que fazia evidenciar o seu braço martirizado, como que buscasse na pena uma ajuda. E Luísa sorriu com candura. Zé Pequeno sentou-se a seu lado e com a mão esquerda abriu o porta-moedas de Luísa que repousava no seu colo, guardou o bilhete e fechou novamente.
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