Deus (não) existe

Em 2010, a editora Aletheia publicou este livro de Antony Flew (1923-2010) e Roy A. Varghese.

O primeiro, é o filósofo britânico que ficou conhecido pela sua defesa do ateísmo por mais de meio século.

Esta obra é a “narrativa da conversão” de Flew, que abandonou o ateísmo aos 80 anos, afirmando: “não foi provocado por qualquer fenómeno ou argumentos novos. (…) Quando finalmente acabei por reconhecer a existência de Deus, não se tratou de uma alteração de paradigma, porque o meu paradigma permanece (…)”; “hoje acredito que o universo foi criado por uma Inteligência Infinita (…). Acredito que a vida (…) têm origem numa fonte Divina. Por que razão acredito nisto, eu que professei e defendi o ateísmo por mais de meio século? (…) A ciência põe em evidência três dimensões que apontam para Deus” [: a natureza obedece a leis; a dimensão da vida e a própria existência da natureza].

O filósofo inglês “sabia que a ciência não pode provar ou negar a existência de Deus”. A “viagem” da sua “descoberta do Divino” foi “uma peregrinação da razão”. Flew limitou-se a seguir a razão até onde ela o levou. E ela levou-o a “aceitar a existência de um Ser auto-existente, imutável, imaterial, omnipotente e omnisciente”. (Cf. crónica de Frei Bento Domingues, Pùblico, 27-6-2010).

O que mais me surpreende é que Flew foi ateu praticamente toda a vida e é pouco tempo antes do fim que descobre Deus. Descobre-O pela razão, não pelo coração.

Comments

  1. MAGRIÇO says:

    Ao que leva a senilidade…

  2. Era capaz de jurar que me cruzei com ele hoje no caminho para o mercado(s). boa semana

  3. maria celeste ramos says:

    Ser ateu e idiota
    e demais

  4. maria celeste ramos says:

    Muito democrata e respeitador de quem é quem

  5. Convém clarificar que Antony Flew disse ser um deísta não um teísta. Ou seja continuou a não aceitar a igreja, os santos e afins e isto dificilmente se pode chamar uma conversão.

    Mais tarde o próprio Flew disse ter sido enganado por alguns trabalhos que tentavam demonstrar o design inteligente (coisa que nem a própria Igreja Católica…), nomeadamente a impossibilidade de evolução de biologias complexas sem a intervenção divina.

    Finalmente, acerca deste livro, o Antony Flew disse a um jornalista do NYT que a maior parte do livro nem tinha sido ele a escrever, já não tinha idade para isso…

    Notem que não me chocava nada que na velhice o homem se tivesse convertido, realmente. Esta história do Antony Flew, fez-me lembrar o Jean Meslier, ou seja, a vida é cheia de surpresas. 😉

  6. Dá-me por pensar que na teorização sobre a existência de Deus, cabe tudo, pois são infinitos os tecidos da sua ausência. Por casualidade, acabo de lêr no meu ultimo livro de cabeceira, “Extinção” de Thomas Bernhard, o seguinte, a ver com o Deus popularmente conhecido em Portugal, que entendo ser o da Igreja Católica: A Igreja Católica tería que compensar-me de muitas coisas, disse-me, se tirara a conta do que, com a sua doutrina, fêz-me de menino, e destruiu e deitou a perder, assustaría-se, por muito sangue frio que tenha, pensei.”
    O de pôr isto aqui, vem porque sugere até que ponto uma crença desta natureza está sujeita a um universo de filtros de sensibilidade, tantos como as experiências implicadas. Concerteza este senhor Antony Flew, não leva mais marcas de Deus, que a sua experiência conductora à elaboração deste livro, o que lhe permite um navegar sobre a temática, desatado de experiências traumáticas relacionadas, como para questionar de base a capa da vida Divina. Fora da sua dissertação literária e de que até possam haver oficiantes por espírito vocacional (que actuantes também os há, pela razão que seja), abundam pessoas que levam incrustradas experiências infames em nome de Deus, chovidas sobre a inocência da sua substração de Deus. Deus e o seu conceito construído à imagem do seu USO, devem encerrar uma das piores “caixas negras da Histöria”.

  7. A mim o que, na realidade, me choca é o conceito que temos de deus: é um conceito paternalista, pateta, lamecha, absurdo e pueril.

    Se conseguíssemos olhar o conceito não endeusando-o ou personificando-o mas como o elo de ligação entre ciência e realidade, como uma explicação com base na razão e totalmente isenta de fantasia para o que todavia desconhecemos, talvez o Homem estivesse bem mais avançado do que está e talvez as religiões não desempenhassem um papel tão estupidamente relevante, quer para a sociedade quer para o indíviduo.

  8. Pedro Manuel Freitas says:

    Qual razão? A ser assim, o homem ter-se-á deixado levar apenas pelo medo da morte, nada mais. A razão vale o que vale, mas às vezes pode servir para alguma coisa, como por exemplo, evitar que façamos a triste figura de passar a acreditar no que nunca acreditámos apenas por medo de morrer, como se ao longo da vida não tivéssemos passado por situações bem mais difíceis.

  9. Falo de razão, não de medos ou fobias. Ou o caro Pedro acha que a sua vida, as suas atitudes, se pautam pela falta dela? Quando falo em razão, falo de lógica. Há com certeza para si uma linha ao longo da qual traça a sua vivência, não é assim?

    E não é a razão que evita que façamos figuras tristes: é a falta dela pensando que dela não se carece!

  10. LUCINO DE MOURA PREZA says:

    Ser democrata, é aceitar os textos escritos por alguém com ou sem erros… com ou sem uma sensibilidade que a encaminhe a comentar o que o artigo nos expõe e não escrever fugindo, ao tema que o autor nos preconiza a ler. Ser democrata, é aceitar com respeito aquilo que um comentador quer expôr à sociedade sem imposição. Ser democrtata, é receber de outrém os comentários que se julgue com direito sem se exaltar.
    Para que serve a Bíblia?
    Platão, o célebre filósofo grego, disse certa vez que há três coisas: fontes válidas do conhecimento.
    1 – Os cinco sentidos – tacto, paladar, olfacto, audição e visão – que o homem compartilha com o reinpo animal.
    2- A razão – que distingue o homem dos animais inferiores.
    3- A terceira fonte de Platão deu o nome de ” Divina Loucura”- referindo-se assim ao mundo espiritual da comunicação sobre-natural.
    Mais tarde Aristóteles, discípulo de Platão, eliminou a terceira fonte – aquela faculdade inteiramente intuitiva pela qual o homem recebe ou obtém apenas pela utilização dos cinco sentidos e da razão.
    O mundo Ocidental foi profundamente influenciado pelos ensinamentos de Aristóteles. Em culturas Orientais e em cultuiras primitivas, no entanto, a referência ao mundo dos espíritos – o mundo dos sonhos, visões e comunicação sobre-natural – é comum a todos os níveis sociais.
    Embora Aristóteles viesse certamente a rejeitar a Bíblia como fonte do conhecimento ( se a tivesse conhecido), Jesus nunca hesitou em aceitá-lo como – e afirmar que era – a maneira principal pela qual Deus se revela a humanidade.
    Agora, dois mil anos passados, cada vez mais pessoas se apercebem de que Jesus tinha razão. Voltaire, o famoso pensador francês, ateu declarado, seguidor de Aristóteles, morreu em 1778. Antes de morrer, ele afirmou que a fé cristã e a Bíblia não teriam qualquer aceitação daí a 100 anos. No 100º. aniversário dessa afirmação, a Sociedade Bíblica de Geneve comprou a editora e começou a imprimir a Bíblia
    na casa que outrora lhe pertencera. Duzentos anos depois de Voltaire, o Presidente dos Estados Unidos viria a declarar o ano de 1983: ” O ANO DA BÍBLIA” o que teria levado o presidente da nação mais poderosa da Terra a proclamar a Bíblia como a principal fonte de conhecimento humano
    A Bíblia é Deus a revelar-se à humanidade. Billy Graham afirmou: a Bíblia é um livro antigo e, no entanto, é sempre nova.

  11. adão cruz says:

    Perfeitamente de acordo com a Isabel G. O conceito de deus e as funestas religiões que dele decorrem são, de facto, absurdos, quer queiramos quer não. Quanto ao Sr. Antony, concordo com o nosso Magriço. Senilidade. Enfraquecimento da capacidade mental. A ciência e a depuração do conhecimento do Mundo e do Universo, muito dificilmente serão agonistas de tais crenças absurdas. Pelo contrário, o seu antagonismo é são, crescente e progressivo. Se algo abala este progresso, não será difícil encontrar a causa de retrocesso. Tantos anos a observar pacientes, algumas vezes me dei conta de tal fenómeno que nunca me pareceu com qualquer conversão, mas imediatamente aceite e divulgado como tal. Dou um exemplo. O meu próprio pai, ateu de sempre, morreu novo, em 1969. Exalou o último suspiro nos meus braços. Morreu lúcido. Eu não permiti a ministração de quaisquer sacramentos, pois considerava que para ele isso seria um ultraje. No entanto, perante as lágrimas e a insistência de minha mãe em pânico, ao vê-lo morrer “sem Deus”, aguardei os últimos momentos, e quando a sua consciência já se esvaía, permiti, com repugnância, a entrada do padre, o que, de boca em boca, levou a que se espalhasse a esperada conversão.

  12. Se falo por mim, a jeito directo, a espessura da questão sobre a existência de Deus, tem-me um ponto de afogadora, pela vastidão de estímulos que suscitam – atendendo razão e coração – todo o contrário à sua existência.

  13. Pedro Manuel Freitas says:

    Não escrevi em função ou em resposta àquilo que a Isabel havia escrito. Mas, e uma vez que me respondeu directamente, aproveito para lhe dizer que me limitei a brincar com o próprio conceito de razão, razão que, como sabe, já foi apeada há muito do seu pedestal.
    A frase que me levou ao comentário foi, e passo a citar: “…Descobre-O pela razão, não pelo coração.” Foi isto que eu questionei. Na realidade, até ao momento, a razão apenas Lhe garantiu a morte, nada mais.
    A razão dificilmente pode conduzir a Deus; o coração (ou a alma) talvez; o medo, particularmente o medo da morte sim, quase sempre. Eu, que não ponho as mãos no fogo pela razão, espero, ainda assim, que ela me salve da conversão no derradeiro momento.

  14. Konigvs says:

    Toda a gente surpreendida porque um homem mudou de opinião oitenta anos depois!!! Grande coisa!!
    Eu passo a vida a ver homens que conduzem os destinos do meu país, todos os dias, a dizerem uma coisa de manhã, outra completamente diferente depois de almoço, e o oposto à noite!!!

  15. palavrossavrvs says:

    Acho belo e fascinante. Corajoso também.

  16. MAGRIÇO says:

    Julgo que ninguém com um mínimo de bom senso e de respeito pelas opções alheias pode criticar quem crê, assim como quem é crente só tem de aceitar que outros o não sejam. O que se condena são os excessos que chegam ao ridículo, por exemplo, de afirmar ter havido um milagre quando sobrevive uma criança de um acidente que vitimou dezenas, ou quando se vai a Fátima agradecer uma cura que deu muito que fazer ao médico. A decisão que o Adão Cruz tomou nos últimos momentos do seu pai é absolutamente compreensível e até louvável.

  17. Maquiavel says:

    Pois exactamente, MAGRIÇO. “Milagre” era o acidente/terremoto/seja lá o que for que matou um ror de gente näo acontecesse!

  18. Carlos Adelino da silva says:

    Os crentes andam desesperados, porque a cada dia que passa, nem o seu deus lhes aparece, a dar uma prova da sua existência,nem ao livro a que se agarram ja na totalidade nele confiam, porque o que não lhes agrada tentam ignorar ou dar muitas explicações de que aquilo hoje ja não faz sentido ,blá blá blá blá| e os ateus que são a cada dia que passa cada vez mais, teem cada vez mais e melhores argumentos, para combate a irracionalidade das suas crenças. e depois andam as voltas com estes poucos ou falsos casos.

  19. Céu Mota says:

    Carlos: Não estou há espera que Deus apareça. Ele não precisa de provar nada a ninguêm, é Deus! A Bíblia é um bom livro de cabeceira. Claro que há coisas que não compreendo e não fazem muito sentido para os homens e mulheres do séc. XXI. É verdade que há cada vez mais ateus. São poucos casos talvez, mas não são falsos. Cumprimentos.
    MAGRIÇO: o que me diz às centenas de peregrinos que temos visto pelas nacionais a caminho de Fátima? Estão todos a sofrer de senilidade ? Os crentes são senis?

  20. A meu ver, e com o devido respeito pela Céu Mota, cuja sensibilidade muito admiro, o problema de Fátima não é uma questão de acreditar ou não em deus: é uma questão de falta de informação por parte dos peregrinos e uma questão de manipulação e extorsão por parte da igreja.

    Eu fico chocadíssima com o teatro que a igreja tem preparado em Fátima desde 1917 e com a forma como tem manipulado milhares de pessoas. Fico chocada com o negócio que a própria igreja promove em seu redor. Mas, para mim, o pior de tudo é que a igreja SABE que se trata de um fantástico e bem urdido embuste!

    As pessoas que para lá vão são dignas de compaixão. São instrumentos dóceis e crédulos ao serviço dos interesses quer manipulativos quer económicos da igreja; e por isso acreditam em aparições, em danças do Sol, em pastorinhos beatos, etc.; e esta é a mais perigosa forma de fé: a fé cega incutida por agentes externos!

  21. MAGRIÇO says:

    Cara Céu Mota, sei que é capaz de melhor e que as perguntas que me endereça foram escritas num momento menos feliz. Em primeiro lugar, como sabe, a maioria não significa sabedoria nem ter razão (muito pelo contrário: basta recordarmos como agem as pessoas quando integradas em grupos anónimos); em segundo lugar, lamento que tenha cedido à tentação de generalizar, porque a minha referência a senilidade dizia respeito a um caso concreto de alguém que, depois de 80 anos como ateu, de repente “descobre a luz”. Sei que, para os crentes mais dogmáticos, pode parecer normal e que até possam afirmar tratar-se de uma manifestação divina, mas estou no meu direito de duvidar de factos que não possam ser provados pela prática comum. Possivelmente não leu o meu comentário #16 , onde faço questão de referir o respeito que me merecem os crentes (que não os fanáticos!), porque compreendo a necessidade humana de acreditar, é uma maneira de transferir a responsabilidade de decisão que não têm, muitas vezes, a coragem de assumir, tal como se tem necessidade de um líder. Não pude deixar de reparar na sua frase “Ele não precisa de provar nada a ninguêm, é Deus!” . É bastante reveladora da sua incondicional aceitação de conceitos definidos pela igreja. Mas está no seu direito, e se isso a ajuda nos momentos difíceis da sua vida, tanto melhor.

  22. MAGRIÇO says:

    Muito oportuno e lúcido o comentário #20 da Isabel G! Gostaria de o complementar citando Guerra Junqueiro:
    “Não insulto quem bebe a droga venenosa :
    acuso simplesmente o charlatão que a faz !!”

  23. palavrossavrvs says:

    Cada qual toma as doses de Fátima que quiser e segundo a consciência e cultura que possuir. Fátima, para mim, é um lugar de espiritualidade por excelência. Sempre que estive lá, fui infinitamente feliz, como sei que voltarei a ser. A Frequência Ìmpar haurida em Fátima repleta-me de paz e há uma voz que borbota irreprimível do meu coração.

    Falar em abstracto das motivações de cada qual para ir a ou estar em Fátima nunca será incarnar as motivações de cada qual.

    Da mesma forma, cada um toma o bafio da Igreja, ou o Seu bálsamo ou a Sua cura nas doses e segundo a Fé que tiver. Alvitrar para além disto é discorrer sobre a vida íntima, a lingerie e o cheiro a urina ocasional em qualquer ser humano. E o que é que temos a ver com isso?

  24. adão cruz says:

    Quanto à monumental patranha de Fátima, o mais monstruoso embuste do século XX, eu ia responder à amiga Céu Mota, mas a amiga Isabel antecipou-se e fê-lo muito bem. Não é preciso dizer mais nada. Notar apenas que, estar contra a pulhice de Fátima, não é estar contra as crenças da Céu Mota ou do palavros…entendámo-nos.
    Quanto ao número de ateus no mundo, amiga Céu Mota, há estudos sociológicos que dizem que os ateus constituem mais de 50% da população mundial, simplesmente em nada lhes interessa publicitá-lo

  25. Carlos Adelino da silva says:

    palavrossavrvs (Cada qual toma as doses de Fátima que quiser e segundo a consciência e cultura que possuir) Reconheço e defendo o direito de cada um , mas atenção ADULTOS de de tomar as suas doses de fátima ; Mas ensinar as criancinhas e pò-las a acreditar e a manipular o entendimento das crianças , PARA MIM É CRIMINOSO . Claro que a minha mãezinha que era bem pobre me mandou para a catequese mas eu assim que abri os saltei fora. MANIPULAÇÃO DE CRIANÇAS NÃO.

  26. Konigvs says:

    Graças à maldita da catequese perdia o “Bel e Sebastião” que dava aos domingos de manhã. Não tenho quaisquer dúvidas que essa série infantojuvenil teria feito muito mais pelo meu crescimento como pessoa do que ter aprendido umas dezenas de rezas de cor.

  27. insulas ocidentaes. says:

    Lê-se muita iliteracia,é o que temos,a democracia Bem subestimado,por muitos,permite…

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