Escrita portuguesa na vertente brasileira ― não há polémica

[O] projecto de texto de ortografia unificada de língua portuguesa (…) constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional

Resolução da Assembleia da República n.º 26/91

A exigência de ‘escrita portuguesa na vertente brasileira‘ (repito e saliento, para quem não tiver lido com atenção: escrita) impedirá qualquer candidato a director do CCBM de grafar coisas estranhas como ‘receção’, ‘aceção’, ‘confeção’, ‘interceção’, ‘perceção’, ‘perentório’ ou ‘rutura’. Isto é, um candidato a director do CCBM que tenha a ousadia de grafar, por exemplo, ‘recepção’, ‘acepção’, ‘confecção’, ‘intercepção’, ‘percepção’, ‘peremptório’ ou ‘ruptura’ demonstrará um “desejável conhecimento da escrita portuguesa na vertente brasileira”. Sim: brasileira.

Ou seja, qualquer português que adopte o AO90 encontrar-se-á automaticamente excluído do rol de candidatos a director do CCBM, independentemente das ‘ações’, dos ‘diretores’ e de grafias afins ― incluindo ‘fatos’, ‘contatos’ e ‘seções‘. Bem-vindos ao mundo da “ortografia unificada de língua portuguesa”.

Felizmente, já tudo se resolveu, uma vez que «a Embaixada do Brasil em Maputo declinou pronunciar-se sobre a matéria por entender que “não há polémica no concurso”».

Portanto, não há polémica, está tudo bem. Antes isso.

Comments

  1. Rui Miguel Duarte says:

    Qual polémica? É claro como água. É para brasucas ou para quem queira e saiba escrevinhar em brasileiro… Claro como água.

Trackbacks

  1. […] ocorrência da palavra ‘facção’ na Folha de S. Paulo, como acontece com ‘recepção’, ‘acepção’, ‘confecção’, ‘intercepção’, ‘percepção’, […]

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