O novelo

2013-03-30-17h06m45Como seria a vida se fosse um fio estendido, simples, esticável, uma sequência linear que não se enrodilhasse pelos dias? uma profunda chatice, suponho, um sossego, imagino; tranquila, acredito.

No bairro por onde deambulo não é assim. As ruas não foram desenhadas rectilíneas, traçaram-se a si mesmas por sua alta recreação tortas e escorregadias, e os seus habitantes acrescentam artes de complicar a  vida que nelas decorre..

As crianças podiam brincar às coisas simples a que os pais não brincaram, mas preferem sempre um risco detonador de aflição casas fora.

Os homens amam mulheres que amam outros homens, ou não amando são levadas a imitá-lo. As mulheres, por sua vez, amam os homens errados porque não estão certas de os amarem. Vice-versa, troquem homens por mulheres e mulheres onde está homens, é a mesma desafinação e corrupio.

As lojas continuam de portas todas abertas em plena caloraça ou invernaça, esbanjando pelo ar condicionado, que assim não condiciona.

Veio-me isto a propósito de nada e coisa nenhuma.  A vitória de Merkel, o mau dia para os meus clubes, o peditório de Portugal aos mercados à espera do resgate seguinte, são outro novelinho. Mas há dias em que nos sentimos enrolados. Para a semana o Domingo será melhor.

Ainda o inglês

Se há coisa que eu detesto é quando um político, nomeadamente estes de última geração, nos tentam fazer de burros! E Nuno Crato está nesse registo. O de um telelé de nova geração, daqueles que em três tempos é trocado por um outro qualquer .

Vejamos:

– com a Escola a tempo inteiro introduzida por José Sócrates o inglês passou a ser obrigatório nas actividades extra-curriculares. Isto é, no 1ºciclo (1-4º ano) os alunos passariam a ter um espaço para a introdução à língua inglesa nas “aulas” depois das “aulas normais”, naquele espaço que ia entre as 15h30 e as 17h30. É verdade que era facultativo, mas a maioria dos alunos passou, realmente, a ter inglês;

– Nuno Crato, no seu projeto de construção de uma Escola Nova , talvez inspirado no Estado novo, resolve retirar ao Inglês esse carácter obrigatório e, ao mesmo tempo, atira para as escolas a possível oferta dessa língua. Possível, porque, na verdade boa parte dos Agrupamentos não terá condições para o fazer e… [Read more…]

A segunda vez é plágio

psr a primeira vezQuando vemos uma candidatura do PSD/CDS a plagiar descaradamente em formato vídeo um cartaz do PSR (provavelmente o melhor cartaz político que se fez em Portugal nos últimos 40 anos), ficamos entre dúvidas e certezas sobre a sanidade mental do país em que vivemos.

 

Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não

Hugo Ferreira

Tomada de posse como membro do Conselho Fiscal da AAC Janeiro de 2011

Na semana em que toda a gente fala de praxe, lembrei-me do meu primeiro dia de aulas na Faculdade (2006).

Aula de Direito Romano e História do Direito Português, Professor Santos Justo, sala cheia. Subitamente, e ainda antes da chegada do Professor, uma data de histéricos invade a sala ao berros, insultando tudo e todos, exigindo que saíssemos da sala para ir para a praxe.

Os primeiros berros só intimidaram os mais frágeis e a sala permaneceu cheia. Depois vieram as ameaças: “Suas bestas, vamos ficar à porta da sala a recolher os nomes de quem não vier à praxe! Não vão ter amigos em Coimbra! Não vão usar o traje e se o usarem nós vamos rasgá-lo!”.

Aí a sala esvaziou. Fiquei eu e mais uns dois ou três colegas. Não houve aula.

À saída cercaram-me e exigiram que me identificasse para sentir na pele “as consequências dos meus actos“. Como acontece sempre que alguém não lhes baixa a cabeça, sentiram-se vexados quando questionei o seu poder e autoridade – de onde vinha? que fundamento tinha? em que valores assentava? – e quando lhes disse, cara a cara, que por mais longínqua e patética que fosse a sua tradição, não tinham legitimidade nenhuma para tratar alguém daquela forma. [Read more…]

Da Prodigalidade Divina

Jesus2 (1)O excerto que a seguir reproduzo vale por todas as minhas aspirações humanísticas, por todos os meus erros, juízos indevidos, e talvez resuma um dia o que tenha sido minha vida. Há uma grande indiferença e até hostilidade para com a tradição judaico-cristã, mas devo reforçar a profunda felicidade que há para mim em viver impregnadamente os valores e a cultura dos Evangelhos, Caudal de Vida desaguado pelos Textos Sagrados do Antigo Testamento. Especialmente para quantos não cortam Poesia às fatias, a reconhecem em qualquer recanto e aderem a ela porque ao Belo e ao Sublime nunca se resiste, pois não há sofismas nem preconceitos perante o Belo, façam todos muito bom proveito, se conseguirem:

«Ele, que não nasceu da raça humana, nem do desejo humano, nem da vontade humana, mas do próprio Deus, um belo dia juntou tudo e foi-Se embora com a sua herança e o seu título de Filho. Foi para um país remoto… para uma terra longínqua… onde Se tornou como os seres humanos, nada mais. O seu próprio povo não O aceitou e a sua primeira cama foi uma cama de palha! Cresceu entre nós como uma raiz em terra árida, foi desprezado, foi o mais insignificante dos homens, perante o qual se tapa o rosto. Muito depressa conheceu o exílio, a hostilidade, a solidão… Depois de ter gasto tudo levando uma vida de abundância: o seu valor, a sua paz, a sua luz, a sua verdade, a sua vida… todos os tesouros do conhecimento e da sabedoria e o mistério oculto mantido em segredo desde tempos imemoriais; depois de Se ter perdido entre os filhos da casa de Israel; depois de ter dedicado o seu tempo aos doentes (e não aos ricos), aos pecadores (e não os justos), e até às prostitutas, prometendo-lhes que entrariam no reino do seu Pai; depois de ter sido apelidado de glutão e bebedor, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores – a samaritana, o possesso, o blasfemo; após ter dado tudo, até o seu corpo e o seu sangue; após ter experimentado Ele próprio a dor, a angústia e a inquietação d’alma; após ter tocado o fundo do desespero com que Se revestiu voluntariamente ao sentir-Se abandonado pelo Pai, longe da fonte que mana água de vida, gritou da cruz onde estava crucificado: ‘Tenho sede’. Ficou estendido, descansando, no pó e na sombra da morte. E ali, ao terceiro dia, ergueu-Se das profundezas do inferno aonde havia descido, carregado com os pecados e tristezas de todos nós. E de pé, erguido, gritou: ‘Sim, vou ter com o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. E subiu de novo ao céu. Então, no silêncio, ao ver o seu Filho e os outros seus filhos, o Pai disse aos seus servos: ‘Depressa! Trazei a melhor túnica e vesti-Lha; ponde-Lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; comamos e façamos festa! Porque os meus filhos que, como sabeis, estavam mortos, voltaram à vida; estavam perdidos e voltaram a encontrar-se! o meu Filho pródigo trouxe-os de volta!’. Então todos começaram a festejar, vestidos de longas túnicas, lavadas no sangue do Cordeiro».

Pierre Marie (Irmão), «Les fils prodigues et le fils prodigue», Sources Vives 13,
Communion de Jerusalem, Paris (Março 87), p. 87-93.

O contra-ataque das cores

passadeira arco iris emb russia

Passadeira defronte da embaixada da Rússia em Lisboa. Fotografia roubada ao Exército de Dumbledore, no facebook.

Francisco Lopes (PSD/CDS Lamego) é sexy

Um morto?

Helena Matos descobre um morto que não morreu. O MRPP teve um morto, mas assassinado por gente da UDP. Respeitemos os defuntos.

A lição de Leonardo Jardim

Não vale a pena estar a falar dos prejuízos e benefícios. As equipas que são beneficiadas não falam quando o são e só falam quando não são. É uma hipocrisia e não entro nesse campo.

Leonardo Jardim

arbitroSe fosse possível que os bodes expiatórios, sempre metafóricos, se materializassem, teríamos uma fonte abundante de exportação. Já imagino os estrangeiros fascinados com o sabor e a textura do bode expiatório português.

Infelizmente, o bode expiatório não é comestível e não será por aí que equilibraremos a balança comercial. Por outro lado, continua a ser o alimento de muitos portugueses, nomeadamente os agentes e/ou os adeptos do futebol, sempre prontos a atribuir qualquer revés à intervenção maldosa de outros.

O bode expiatório coincide quase invariavelmente com o árbitro, responsável por simples derrotas e perdas de taças e de campeonatos. É natural que assim seja, porque, de qualquer modo, o árbitro é confundido, frequentemente, com vários quadrúpedes herbívoros, com menções nada pontuais a chifres ou alusões indirectas à promiscuidade sexual da figura materna, o que nos leva de volta aos chifres, com a figura do bode ainda e sempre à espreita.

Leonardo Jardim recusou-se, ontem, a contribuir para a criação nacional de bodes expiatórios e deu uma lição que poucos querem aprender.

Nem Anjos Nem Demónios

Estou convencido, caro JP, que no próximo Domingo a passividade e o desânimo nacionais não vão ter demasiadas razões de excitação ou contraste, aconteça o que acontecer, dada a constrição económico-financeira do País e sobretudo dada a espessa incerteza europeia em que vivemos.

Os dados estão lançados, hoje, na Alemanha. Alguma mudança no horizonte? Népias. O nosso País está muito além do protesto e muito aquém da esperança, mas a Política, enquanto pretexto para o insulto frustrado e a esperança fundada ou infundada de aperfeiçoamento e progresso, deve concitar das pessoas a importância que realmente merece. Imensa.

Nesta medida é que duvido sinceramente que o voto nestas autárquicas exprima essa tal dimensão nacional em que insistes. A família, o bairro, a vila, a cidade, têm aspirações muito radicadas na classe e competência dos bons candidatos locais os quais não podem pagar pelas borradas que pautaram especialmente os anos de baderna socialista-socratista, onde não faltaram malícia e lógicas fascistas de fabricação de factóides publicitários e propagandescos longe, muito longe da verdade. [Read more…]

Um filho nos exames e nas análises

Acho que sonhei ou antes, acho que tive um pesadelo.

Havia um tipo que iria para deputado, mas infelizmente uma empresa internacional precisava de algumas lanças nos corredores do poder. Vai daí, troca-se o anterior candidato e avança o filho do que manda. Uns tempos depois, já no poder, essa empresa começa a tomar conta do mercado graças a legislação elaborada com o dedo do filho.

E o que é que isto tem a ver com a escolha de um candidato? Nada.

Deve ter sido mesmo um pesadelo.