um homem morreu. mas não era só um homem. era poesia. ainda é.

O A. Pedro Correia já deu a notícia aqui, mas quando morre um poeta, é preciso escrever em toda a parte e infinitamente que a poesia não morre nunca. Morreu um homem. Chamava-se António. Era poesia. Ainda é. Está vivo. E escreve sol. 

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«Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram as suas faces
e na minha língua o sol trepida

melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde»

(António Ramos Rosa, ‘estou vivo e escrevo sol’)

 

Fotografia roubada ao Artigo 21.º

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