Depois de ter falhado a tentativa de pôr os ucranianos a escolher em referendo se preferiam o imperialismo americano ou o russo, as forças “ocidentais” resolveram forçá-los de modo vário. Quando patrocinaram um governo golpista com a participação de confessos nazis, sabiam (saberiam?) qual seria resposta da terra dos heróis.
Uso estas palavras sem receio de exagero. Há muitos anos, quando estive na Ucrânia vi o que qualquer observador minimamente atento veria: a(s) diversidade(s) dessa república. A oeste, com forte presença católica (sobretudo junto à fronteira polaca) e uma história que envolveu manchas de colaboração com o nazismo; a leste um verdadeiro culto aos mártires e heróis da Grande Guerra Pátria (segunda Grande Guerra). Não admira, pois a extraordinária resistência destas populações perante o avanço das hostes nazis deixou um rasto de morte ( a maior chacina num só país na II Grande Guerra) e de feitos de coragem que ainda hoje são venerados com respeito, o que é patente nos muitos monumentos e memoriais que lembram estes eventos.
Ora, quando os povos das regiões a leste do Dniepre viram a composição do governo “arranjado” pela crise, só podiam dar esta resposta. Eles não se deixam reduzir à qualificação de “pró-russos” que a nossa comunicação social repete até à náusea. Eles proclamam a autonomia e recusam um governo (“pró-NATO”, já agora) que lhe querem impor. Todas as armas de vigarice comunicacional e de terrorismo informativo da NATO estão mobilizadas para os esmagar.
Putin, sejamos claros, jamais quereria esta situação à porta de casa e não tem meios ou vontade de resgatar economicamente (e muito menos militarmente) a Ucrânia (a União Europeia também não, mas não quer que se fale nisso…).
Entretanto, lideres de papelão brincam com o fogo e os seus discursos – a começar por Barroso, ansioso por mostrar serviço que justifique o futuro tacho – entram no domínio do puro delírio. E nestes desatinos nos encontramos enquanto a orgia de morte e o mais genocida dos nihilismos se espalha pelo Médio Oriente. Mas é melhor eles não falarem muito nisso, não vá alguém perguntar-lhes como é que armas vendidas pelos americanos a países árabes “amigos” aparecem, pouco depois, nas mãos dos jihadistas.
Partilho a sua opinião. Tenho ficado surpreendida com a diferença de tempo de antena que se dá à tensão existente entre Rússia e Ucrania (ou Gaza-Israel)- com comunicados de altas entidades quase diariamente e a situação que se está a viver na Siria e Iraque, com a crescente ocupação de território deste denominado estado islâmico. As armas não vêm exclusivamente dos estados unidos. França, Inglaterra e Alemanha têm parte da sua economia baseada na indústria bélica – será tudo para a NATO e/ou defesa de território? Tenho sérias dúvidas!
Escrevi sobre isso há alguns dias – numa altura em que os jornais portugueses pouco ou nada diziam sobre isso. http://agoradigoeu.wordpress.com/2014/08/22/o-movimento-jihadista-as-coisas-atrozes-que-se-fazem-em-nome-de-deus/
Que nunca te doam os dedos, e que nunca sejas politicamente correcto!
Näo existem “separatistas pro-russos”, existem “federalistas anti-(fascistas de )Kiev”. Ah, mas isso näo convém a Bruxelas, que säo os fascistas deles.
Muito bom texto.
É raro, mas desta vez discordo (em grande parte, não na totalidade) do seu ponto de vista: a História não começa em 1989 — a política expansionista e subjugadora do Pоссiйская Имперiя nunca mudou, independentemente do regime, dos Romanov aos actuais ‘democratas’, passando pelas mais ou menos sinistras figuras da revolução comunista. A verdade é que com a sua manipulação das proporções das etnias residentes em vastas áreas da Ucrânia, com a imposição do alfabeto quirílico, com a constante instigação, e, já sob o primado da ‘democracia’, o financiamento e, provavelmente, coordenação de movimentos ‘pró-russos’ ou separatistas na Moldávia e na Ucrânia, a Rússia preparou o campo de batalha para uma guerra civil que a todos nos afecta. Uma nova Jugoslávia se prefigura no horizonte, porque cada acção produzirá sempre uma reacção: nada que os responsáveis russos ignorem. O NOSSO lado não tem a exclusividade da razão — é evidente que não! Mas é o lado que tem mais razão… Não temos de comprar argumentos religiosos, não temos de nos travar de razões político-partidárias. Enquanto Europeus e Democratas, temos é de tentar perceber o que nos dizem as diversas interpretações de direito internacional, de tentar ler a História, e de perceber e de denunciar actos de guerra e de terrorismo de estado e de actividades empresariais de pura extorsão quando elas ocorrem nas fronteiras da nossa Europa (ou, mesmo, dentro dela: como os cortes de abastecimento de gás, em pleno inverno — já o experimentei!). Um abraço!
Tentei circunscrever, caro Álvaro Nunes de Sousa, a minha nota a uma dimensão precisa do problema da Ucrânia. Desconheço e não consigo pensar em termos de “nosso” e “deles” nem nesta questão nem na da Jugoslávia que refere na seu. comentário. De resto, o senhor tenta abordar a questão da Ucrânia pela perspectiva da história do país e, sendo assim, mergulharíamos numa complexidade que não cabe nesta troca de opiniões. Na verdade, se quisermos ser rigorosos, teremos muitas dificuldades em encontrar um país chamado Ucrânia. Esta região já foi Polónia, Lituânia, Rússia, Império Otomano, etc.,etc. O que ela (quase) nunca foi, foi Ucrânia.A republica da Ucrânia que conhecemos é uma criação de Lenine que, tendo consciência – como está amplamente documentado – dos perigos das tendências expansionistas da Rússia, estimulou, para o que entendia ser o equilíbrio da União, a autonomia de repúblicas autónomas em volta do núcleo duro do antigo império. Isto só durou até à morte do próprio Lenine. Quanto à Crimeia, todos conhecem a história bizarra de Krushchev e da sua prenda de aniversário. Com uma tal história, é claro que o que conhecemos por Ucrânia já passou por muito e em todos os regimes. Tal decorre, até, da sua posição geográfica. A própria deslocação de populações que refere não são exclusivo de nenhum regime. As maiores são, como é natural – sem juízos de valor – as que ocorrem para desmantelamento do Império Otomano. Dou-lhe, pois, razão, Álvaro de Sousa, quando afirma que a história não começa aqui. E, convenhamos, um estudo da história desta região, ajudaria a compreender muito do que se passa. Na minha nota, limitei-me a sublinhar um aspecto radicado na II Grande Guerra por ter observado no próprio lugar aquilo que ali narro. E não estou agarrado a mitologias que parecem preocupar alguns dos nossos amigos. Quando falo em “terra de heróis” falo de uma região e de uma história muito exacta e ligada ao que os habitantes chamam a “Grande Guerra Pátria” e que sentem profundamente. Tentei compreender o que pensariam as pessoas que conheci (alguns sobreviventes da guerra) ao ver no “governo” da república os simpatizantes dos seus algozes (20 000 000 de mortos, só na Ucrânia). Não faço, pois, uma análise histórica. Tento compreender – limitadamente, decerto – para além das grelhas habituais de leitura. E, como acontece com a maioria de nós, lamento que não possa existir uma Ucrânia livre de influências imperialistas, quaisquer que sejam; mas o problema é que os nossos desejos podem valer pouco, uma vez que nem os ucranianos parecem entender-se neste ponto.
É estranho que não se refira explicitamente o monstruoso crime estalinista de Holodomor, “diluído”, de alguma maneira, na história da II Guerra Mundial e no climax do fascismo vs anti-fascismo.
Estranha forma de ver a História e o valor da vida humana…
porquer será que onde há guerra os estados unidos e os facistas europeus estão lá sempre ?
Por duas vezes, no último século, os Estados Unidos estiveram “lá”, na guerra, e os nossos avós e pais não se queixaram da sua vinda… Por acaso, alguém consegue defender a actuação da Rússia em toda esta crise? Há uma invasão em curso! Um avião civil de uma terceira bandeira, transportando civis de nacionalidades múltiplas foi abatido por um míssil terra-ar cedido e pela Rússia e, possivelmente, até operado por um ex-militar russo. Onde é que está a dúvida? De que fascistas europeus fala, Niko?
Tem alguma prova de quem abateu o avião?
As únicas provas que existem:
– pessoas ligadas ao actual governo de Kiev dispararam sobre os manifestantes da Maidan e sobre a polícia
– na “zona rebelde” o exército ucraniano anda a bombardear zonas residenciais, hospitis, escolas, e elementos do Sector da Direita entraram por hospitais adentro a matar feridos que pudessem ser “separatistas”
– o aviäo presidencial de Putin passou por onde o aviäo da MA passou, pouco tempo antes, e de terra parecem iguais
– o aviäo da MA foi desviado pelo controlo aéreo ucraniano da rota inicial, fazendo-o ir mais para dentro da zona de guerra, e foi escoltado por cac,as ucranianos durante algum tempo
– uma bateria de mísseis terra-ar ucraniana desapareceu da caserna vizinha horas antes do abate do aviäo da MA, porquê se os “separatistas” näo têm aviöes?
– o local onde caiu o aviäo foi deixado em paz pelos “separatistas” para que fosse analisado; nunca foi, porque foi sujeito a morteiradas do exército ucraniano
– e por aí fora…
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