As urgências e os cortes no SNS

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Pedro Castro Rodrigues

Nunca faço posts a sério. Hoje vou fazer.

Há 6 anos que sou médico. No meu primeiro ano era escalado 4 vezes por mês para fazer urgências. Há uns anos por vezes comecei a ser escalado 3 vezes. Este mês estou escalado para fazer urgência 2 vezes.
Mesmo que quisesse fazer mais, não me deixavam.

Porquê? Porque para reduzirem os gastos com a Saúde há cada vez menos serviços de urgência. Actualmente em Lisboa há apenas 2 serviços de urgência abertos 24 horas 365 dias por ano (São José e Santa Maria). Nestes serviços fazem urgência os médicos destes hospitais e agora também os dos outros serviços de urgência que foram sendo fechados. Daí cada médico ser cada vez menos escalado para fazer urgências. Porque há menos serviços de urgência e quantos menos médicos lá estiverem, mais barato fica. Mas não há menos pessoas com problemas urgentes.

Para além disso, para reduzirem ainda mais os gastos com a Saúde inventaram algo chamado “prevenção”, na qual os médicos em vez de estarem presentes no serviço estão de chamada. Algo que, como é óbvio, em casos de emergência extrema, não resolve absolutamente nada. Para além de ser, em muitos sítios, ilegal.

A culpa da morte do rapaz de 29 anos não é dos médicos que não estavam lá.
É de quem faz cortes na Saúde para salvar bancos em vez de vidas.

Comments

  1. José Chorão says:

    Exactamente! A culpa da morte do rapaz é de quem fez cortes nos serviços.
    Não se preocupe que ninguém com 2 ou 3 neurónios culpa os médicos, toda a gente percebeu que se os médicos não estavam lá é porque quem manda não os colocou lá.
    Os médicos são profissionais qualificadíssimos e têm de ser pagos (bem pagos) como tal, não têm de suportar do seu bolso os cortes ou trabalhar por quantias indignas.
    O que não se compreende é porque carga de água, sabendo todos nós dos cortes na saúde, na educação, nos subsídios, nas reformas dos velhotes…ainda houve tanto palerma que deu uma maioria relativa aos criminosos que transformaram este país num triste lugar onde apenas se tenta sobreviver (e nem sempre se consegue…).
    Serão os portugueses uma corja de estúpidos?

    • joaovieira1 says:

      Lógica inatacável, sem dúvida. Digo, apenas, 1º) o poder político de direita investido, em fins de Junho/2011, começou a usar o “bisturi orçamental”, na saúde (SNS), chegando às urgências, das menos às mais emergentes e dramáticas, 2º) nada de grave acontecendo, quem mandava continuou a não mandar, não nomeando qualquer médico ou equipa médica para os casos mais graves, 3º) o aparecimento de um infeliz jovem de 29 anos numa urgência sem médico e sem equipa médica desmascarou estas situações cruéis e desumanas e fez cair a ficção da “bondade austeritária” criada pelo anterior governo” para iludir os portugueses e portuguesas

  2. Ah valente! É assim mesmo!
    Há que denunciar o que merece ser denunciado!
    É que, ele há cortes que, no âmbito da Saúde, podem ser “a morte do artista”!
    Ah pois é!… erros crassos que não têm forma possível de devolver um BEM precioso, como é o da VIDA!

    Paula Pedro

  3. Nightwish says:

    Tal como nos transportes públicos, ninguém é obrigado a fazer horas extraordinárias, era o que mais faltava.

  4. Estela says:

    a minha unica pergunta é:porque não enviaram o David para um hospital com urgência de neurocirurgia? nomeadamente o Hospital da Luz ou até os HUC (coimbra) a viagem de ambulância até Coimbra pouco mais de 2h poderia ter-le popado a vida a vida

    • Nascimento says:

      Essa pergunta vale uma resposta que ninguém quer dar. Eu já opinei em relação a estes filhos da p. do M.da Saúde, mas, também sei que a cobardia dos senhores de bata branca existe. A verdade sabem todos:: ao fim de semana? Tudo uma grande chatice, não é?

  5. Mário says:

    Há uma pergunta que não consigo obter resposta, muito menos perceber porquê:
    Segundo parece, havia uma equipa de neurocirurgiões de serviço no Santa Maria. Em função do diagnóstico efetuado ao malogrado jovem, por que raio não o transferiram do São José para lá !!!!?????

    • Não havia equipa de Neurocirurgia Vascular em Santa Maria nesse fim de semana. Foi por essa razão que a presidente do conselho de administração do Santa Maria também se demitiu.

  6. Maria says:

    Não vale a pena chegar um médico com estas coisas. Ninguém e muito menos a família vai entender a razão da não transferência para um hospital mais próximo. Ou melhor entenderá que uma vida humana não vale assim tanto. Questão de números e de falta de vontade para enfrentar burocracias nas transferência. Houve preocupação com tudo menos com o rapaz.

  7. joão lopes says:

    a responsabilidade politica é tão obvia,que ate a fanatica helena rtp3 matos ao tentar desviar as atenções do paf(atacando os sindicatos ou os esquerdistas) ,acaba por mostrar(no mirone) que para o paf,o objectivo era mesmo acabar com o SNS.claro que a senhora iliba o paulo macedo,e nem podia ser de outra forma.a senhora no rtp3 ganha mais dinheiro do que qualquer medico a trabalhar aos fim de semana.Esta na altura de por esta senhora fora da RTP.ou seja,na rua,como qualquer liberal,que o seja realmente,e não um mamão do estado.

  8. Em caso de aneurisma roto, será pior o transporte do doente para onde quer que seja… O problema é que, segundo parece, o doente nunca devia ter ido para S. José, se já se sabia que havia um problema do género a resolver.

    • Quando foi transferido para o S. José, só se sabia que era um AVC hemorrágico, não se sabia que era por ruptura de aneurisma.

  9. luisa gaiao says:

    Tanta polémica , a situação do infeliz rapaz não devia dar para deslocações quem devia ir onde ele estava para a resolver não foi, ou porque não foi chamado para evitar custos e para eles tanto faz é mais um menos um, ou foi chamado e não quis ir porque não lhe pagam tanto como querem ganhar,era um anónimo para eles todos, só eles sabem o que se passou, os desgraçados é que sofrem. Quando acontece algo de urgente a uma figura pública, até fazem cirurgias de borla só para serem, comentados… o sr doutor tal fez, a cirurgia ao sr fulano tal.

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