As viagens da Galp e o estranho caso do deputado do PSD

CN

Cristóvão Norte é deputado do PSD e ocupa vários cargos de direcção na estrutura do partido. Tal como os secretários de Estado de quem o seu partido pediu a cabeça, Cristóvão Norte também viajou para França a convite da Galp para assistir ao Portugal-Hungria. A diferença é que, ao contrário dos infames socialistas, o deputado do PSD alega ter sido convidado por um amigo, que por acaso até trabalha na Galp, pelo que aceitou um convite pessoal “e não de natureza institucional”, podemos ler no insuspeito Observador. Terá sido o amigo a pagar as despesas? Claro que não. Tal como com Rocha Andrade e seus camaradas, as despesas ficaram a cargo da petrolífera. Cristóvão Norte ainda tentou dar a volta á coisa, referindo que aceitou o convite por ser fruto de “uma relação de amizade que tem a ver com aquela pessoa e não com a empresa onde trabalha”. Está encontrada a melhor explicação de sempre para justificar presentes oferecidos pelo sector privado aos nossos políticos. Daqui para a frente será sempre um amigo a convidar. Quem paga a factura é irrelevante.

Porque não somos todos parvos, importa esclarecer se o PSD será igualmente implacável com o seu dirigente e deputado. Cristóvão Norte não exerce funções governativas, é certo, mas é titular do poder legislativo e o seu voto, no plenário como nas comissões em que participa, configura uma manifestação de poder. Governantes sérios não aceitam presentes de empresas privadas. E isto vale para membros do governo, deputados e autarcas.

Na reacção oficial do PSD ao caso que envolve os três secretários de Estado socialistas, Fernando Negrão coloca uma questão pertinente:

Como é possível que três governantes em áreas estratégicas e com ligações a essa empresa, podem continuar a exercer as suas competências numa situação em que de alguma forma estão comprometidos por terem aceite uma oferta dessa empresa?

Acontece que, seguindo o mesmo raciocínio do PSD, Cristóvão Norte encontra-se numa situação semelhante, ainda que num grau de gravidade inferior. É que este deputado integra a Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, cujas funções podem afectar a área de negócio da Galp. Mais: no mesmo discurso, Fernando Negrão afirma, referindo-se ao caso dos deputados Luís Montenegro, Hugo Soares e Luís Campos Ferreira, que alegadamente assistiram a jogos do Euro 2016 a convite da Olivedesportos, que “se outras situações houver, naturalmente que teremos o mesmo grau de exigência que tivemos em relação aos membros do governo“. Ficamos então a aguardar os comentários do PSD sobre o presente da Galp do amigo de Cristóvão Norte que trabalha na Galp. Como diz, e bem, Fernando Negrão, “a corrupção é um acto muito sofisticado” e “quem deu nunca se esquece de fazer lembrar a quem recebeu, que deu“.

Foto@Algarve Primeiro

Trackbacks

  1. […] Com o caso a chegar a uma fase em que os três secretários de Estado serão muito provavelmente constituídos arguidos, Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Oliveira decidiram apresentar a sua demissão ao primeiro-ministro, que a aceitou. Uma decisão rara vinda de um governante, o que não invalida que resulte de pressões e que peque por tardia, e que infelizmente não foi acompanhada por outros responsáveis eleitos, que também tomam decisões que afectam a Galp e outras empresas, mas que preferem fazer de conta que não há nada mais normal que um político honesto e responsáve…. […]

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