Guerrilha informativa

Devido à dificuldade em se atacar alvos específicos, a guerrilha teve sucesso onde a guerra clássica falhou. Não existe um país que se ataque, por exemplo. Foi o que acabou por derrotar os EUA no Vietname e é desta forma de confrontação que vem o poder do terrorismo.

As redes sociais funcionam como as florestas vietnamitas da informação. Nelas se escondem aqueles que inventam mentiras em forma de notícia, sem se perceber qual é a origem do ataque. Não se consegue silenciar este ou aquele falsário sem se calar a generalidade dos restantes elementos.

O napalm desta realidade é a educação. Já vimos que não é o bem-estar, pois nesse caso não haveria fake news nos países do norte europeu, por exemplo. A diferença acontecerá se cada um, individualmente, rejeitar a propagação da mentira. E, para que tal aconteça, as pessoas precisam de saber que a propaganda da mentira não é uma novidade da web 2.0.

Este tipo de postura não advém de se aprender pela formatação para o trabalho, que é o que se faz cada vez mais nos sistemas de ensino. Ainda há dias, ouvia um presidente de câmara, contente por o seu concelho ter sido bafejado pelo negócio da tecnologia, afirmar que a educação precisa de sair das escolas e de ir para as empresas.

Rejeitar a guerrilha informativa requer que se reflicta sobre o conteúdo que os algoritmos, focados na identificação do que estiver a dar, fazem questão de apresentar ao cliente. Como se observa, a História e a Filosofia são tão precisas quanto a matemática e o inglês técnico.

Comments


  1. Felicito-o por este texto que nos deu tema de reflexão.

    EDUCAÇÃO,+ integridade, +honestidade, precisa-se !


  2. E acrescento esta excelente análise de F. Louçã ( com a suposta autorização do autor.

    «O novo normal tem destas coisas: tem duas faces como Janus, é simultaneamente apocalíptico e banalizador, não poderia ser uma coisa sem a outra. Tem que assustar e anestesiar, mostrando um mundo tremendo a que não podemos resistir e entretendo quem desvia o olhar. Esse mundo é ameaçador, Bolsonaro radicaliza a ameaça de prisão dos seus adversários no Brasil, Trump questiona trinta anos de contenção no desarmamento nuclear, um jornalista é assassinado de encomenda num consulado da Arábia Saudita, nada é hoje impossível ou sequer improvável. E o novo normal é ao mesmo tempo rasteirinho, parecendo até que, nestes últimos dias, essa banalidade tomou conta de Portugal: o que se discute é o transcendente assunto dos beijos dos avós, que já deu em prosas várias de tudólogos encartados, ou se o Presidente arruinou a pátria ao arrancar uns eucaliptos infestantes, o que suscitou uma reação magoada dos defensores do “petróleo verde”, ou se uma dirigente política tem um relógio de vinte e um milhões de euros, uma das mais delirantes efabulações de um aprendiz de fakista que, adorador de Bolsonaro, reconhece brejeiramente que nem sempre escreve “a verdade a 100%”. Não é fácil, mas é a vida, parafraseando um célebre dito, é melhor que nos habituemos.

    Há nisto uma decadência de normas comuns de respeito pelo espaço público que parece irreversível. É aliás impulsionada por instituições que o deviam guardar: uma associação de polícias divulga fotografias forjadas para desse modo criticar um ministro, e a falsificação parece-lhes um ato legítimo. Aqui, o que é mais revelador é que são polícias e que têm por certo que o efeito da condenação pública da mentira é menos grave do que o ganho imediato com o insulto ao governante. Na mesma espiral, uma associação de militares da GNR sugere que os “criminosos” têm que ser tratados como se estivessem condenados e como se parte da pena ainda não lavrada fosse um antecipado enxovalhamento público e linchamento mediático.

    Em todo este discurso catastrofista há um gosto pelo superlativo, uma vontade de chamar a atenção pelos propósitos mais extravagantes, uma forma de confrontação que adote o apoplético como norma, um culto do susto e, portanto, várias explorações dos sentimentos mais assustadores. O tremendismo é, em si próprio, uma linguagem. Um exemplo: um editorial de um jornal, esta segunda.feira, afirma que o acesso à aposentação “se tornou uma palhaçada”. Isto não acontece num jornal de escândalos. Uma “palhaçada”? No discurso político, aliás parente próximo deste jornalismo justiceiro, à medida que nos aproximamos das eleições de 2019 mais sobressairá a mesma atitude.

    O ponto é este: a barreira das regras civilizadas, a tal da presunção de inocência, do predomínio da lei igual para todos, das obrigações que uma farda deve respeitar, o princípio da objetividade e contenção da comunicação social, tudo cede perante esta avalanche. A banalidade, como o debate dos beijinhos ou dos eucaliptos, só narcotiza, o que já é grave, sobretudo quando a tensão está noutro lado, na ecologia do insulto e da mentira. No novo normal, a verdade não vai ser mesmo a 100%, como diz, feliz, o homem do relógio.»

    Francisco Louçã

    • j. manuel cordeiro says:

      Obrigado pela partilha. À banalidade referida pelo autor acrescento a falta de vergonha na cara. Assistimos a um notável nível desta matéria por parte dos actuais políticos. Cobertos por um manto de impunidade e pela certeza de que a sua eleição apenas depende das boas graças do partido, graças ao sistema de listas fechadas, há um leque de políticos que envergonham a democracia. E que levará muitos, imagino, não ir votar. Afinal de contas, os pássarões acabam eleitos na mesma.

      • Elvimonte says:

        “(…) e pela certeza de que a sua eleição apenas depende das boas graças do partido, graças ao sistema de listas fechadas (…).”

        No caso português, é nas listas fechadas, para além de outras maleitas do sistema eleitoral, que reside a génese da degradação da qualidade da democracia. E não apenas em termos do rácio (número de votos / número de eleitores), que afere bem da credibilidade do sistema político, mas também em termos da própria qualidade dos intervenientes, que fica ao abrigo do escrutínio dos eleitores.

        E esta situação, com algumas gradações, mantém-se essencialmente a mesma desde a monarquia constitucional. Acho que já Eça exprimia esta ideia: nós até podemos votar, mas são os partidos que os elegem. E elegem como? À custa dos chamados “lugares eligíveis”.


  3. …assim é, companheiro.
    Porém denunciar fortemente é preciso !