Já acompanhei alunos em visitas à Assembleia da República. De uma maneira geral, ficam espantados com o comportamento de alguns deputados que, enquanto alguém está a discursar, passeiam pelas bancadas, lêem o jornal ou conversam em pequenos grupos de costas para o púlpito. Numa dessas ocasiões, um aluno chegou a dizer-me: “Se nós fizéssemos o mesmo, o professor marcava-nos falta disciplinar.”
Na sala de aula, já, por várias vezes, fui obrigado a censurar comportamentos, o que faz parte do ofício, como é evidente. Entre outros, dei por mim espantado com uma aluna a pôr creme nas mãos de uma colega, acto que foi interrompido prontamente, ainda que com algum espanto por parte das minhas vítimas.
Isabel Moreira foi fotografada a pintar as unhas durante o debate do Orçamento. Não me parece pior do que estar a conversar enquanto outra pessoa fala. Parece-me igualmente mau. Entretanto, alguém defendeu a deputada, afirmando que há deputados que lêem o jornal no Parlamento. O problema está, evidentemente, em ter defendido o comportamento da deputada.
É demasiado fácil dizer mal dos deputados e desprezar a importância do seu trabalho – o que os torna estranhamente próximos dos professores -, mas a verdade é que estamos a falar de pessoas que foram eleitas pelo povo e que devem encarar a sua presença no Parlamento tendo em conta que são observados e que, portanto, servem de exemplo. Se um dia alguém estiver a pintar as unhas numa aula, serei obrigado a dizer qualquer coisa como “Mas já chegámos ao Parlamento?!”
Thumbs Up!
O jornal sempre é menos mau, sempre se estão a actualizar sobre o seu trabalho. O verniz rouba menos atenção, mas é um bocadinho falta de respeito por não ter nada a ver com a função.
Se no parlamento se trabalhasse não havia tempo para pintar as unhas ou estar no Facebook. E o problema é esse, no parlamento não se trabalha, não se ensina nem se aprende. E se fosse uma empresa que tivesse que ser produtiva despedia-se metade daquela gente toda porque efetivamente não fazem a puta dum corno.
No parlamento faz-se tudo aquilo que se faz nos outros lados. Seja no público, seja no privado.
Até coçar o escroto, em dia de muita transpiração na zona das virilhas. Ainda há dias vi umas imagens de um parlamentar português em Estrasburgo, numa sessão do PE, a tirar catotas do nariz. Desconheço se aquilo não será mais umas das montagens cinematográficas das nossa Redes Sociais. Mas que ele não se livra do odioso, lá isso não.
A mediatização dos parlamentos, torna os deputados e funcionários mais expostos ao radar social, logo mais vulneráveis aos olhares recriminatórios de quem os vê, numa espécie de reality show.
Não estou a desculpá-los. Parece-me incorreto. Só que isso para mim pesa muito menos do que aqueles cozinhados que eles lá parem, para nos fornicar a todos. Isso sim, deixa-me completamente “Quilhado”!
A Isabel Moreira tinha obrigação de saber que uma coisa desta num partido da “geringonça” jamais passaria incólume. Pensará ela que teria a mesma benevolência de que beneficiam outras bancadas? Sobretudo aproximando-se eleições, era bom que esta malta tivesse juízo e fosse extra-cuidadosa quanto a este tipos de coisas.
Ora aqui está um comentário lúcido.
“E logo a Isabel Moreira que é toda fracturante”.
Juizinho, precisa-se…
Pessoas que passam as 8 horas de trabalho sem fazer nada no Twitter ou no Facebook, que é como quem diz nas “redes sociais”, alguns, muitos, avençados em organismos públicos e câmaras municipais;
pessoas que passam as 8 horas de trabalho sem fazer nada no Twitter ou no Facebook, que é como quem diz nas “redes sociais”, alguns, muitos, funcionários públicos porque sim e pelo mestrado do cartão do partido, a fazerem cada três o trabalho que podia ser feito por um no privado que tanto elogiam, com horário de entrada ás 9, chegada ás 9 e meia e pausa de 20 minutos ás 10 para o cafezinho e um cigarro sentados de esplanada, a criticarem uma deputada por pintar as unhas na hora de trabalho.
Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Discordo do António.
Pôr creme nas mãos ou pintar as unhas em nada perturba os outros. Falar sim, é muito grave, pois perturba.
São comportamentos perfeitamente admissíveis quer numa sala de aula, quer no Parlamento, quer num teatro ou sala de concertos, etc.
Fazer barulho é que não!
Ademais, o facto de estar a pôr creme nas mãos ou a pintar as unhas não impede que esteja com atenção àquilo que o professor, ou outra pessoa, está a dizer.
Completamente de acordo Sr Lavoura
Eu acrescentaria a “Fazer barulho é que não!”, com ter os telemóveis ligados e a tocar e pior atender os mesmos.
Mas o pior é “não estar com atenção a quem fala”, seja la quem for, seja um professor, parlamentar ou padre na Igreja, mesmo que não se concorde minimamente com o que diz, o que me acontece frequentemente nos funerais de familiares ou amigos.
A isso tudo chama-se civismo e não chega dizer que somos um Pais Europeu, quando não há civismo no dia a dia das pessoas
.
Luís Lavoura, a vida em sociedade é feita de muitas convenções escritas ou por escrever. É certo que gestos não implicam necessariamente ruído, mas as convenções estipulam que são mais íntimos ou menos íntimos, que devem ser resguardados ou públicos. Pergunto-lhe se acharia bem que alguém se maquilhasse durante uma aula ou que coçasse as partes baixas diante de várias pessoas, mesmo com a mão por cima da roupa. Desde que não faça barulho e garanta que está a ouvir, um aluno até pode ler um jornal durante a aula.
Isabel Moreira deu mais uma modesta contribuição para a credibilidade da classe política. Nada de novo, desde o sec XIX que sabemos quem são. Apenas um reparo, por ser quem é, fosse outra deputada mais à direita, provavelmente a personagem, acompanhada por uma certa cronista, não ficariam caladas. Olha para o que digo, não para o que faço…
De resto o assunto nem merece grande importância, ainda que tenha mais relevância que a protagonista, que para mim não tem nenhuma.
“(….) Entretanto, alguém defendeu a deputada, afirmando que há deputados que lêem o jornal no Parlamento”
Esqueceram-se, os filho da puta (desenvergonhados do caralho, com/sem unhas), que é diferente ler um jornal e pintar as unhatas da bicha.
Puta que pariu a bicha e as unhatas da dita puta.
Bem hajam,
O Parlamento é um circo, um rosário de frases demagógicas para fazer efeito. Quando muito, trabalha-se em comissões. As instituições democráticas precisam de uma remodelação de raiz, mas estes tempos são ocos quanto a ideias corajosas e os interesses perpetuam o acomodamento.
Mas já que assim é, ao menos um mínimo de decência na prática destes rituais arcaicos. Estou contigo, Nabais.
Também temos um presidente que gosta de fazer metade das intervenções em tronco nu, mas ao menos consegue comer bolo-rei.