Zero à esquerda e à direita

Com um raciocínio maquiavélico, Marcelo pergunta aos professores se dois é mais do que zero. A questão não é assim tão simples, como poderá saber quem queira saber (lendo, por exemplo, um texto do Paulo Guinote): a solução escolhida pelo governo, para além de sonegar aos professores o pagamento de uma dívida, acrescenta injustiças ao provocar ultrapassagens na carreira. Marcelo, embora simpático, é o criado que atira uma moeda aos alperces da pobre hortaliceira de Cesário: “Se te convém, despacha; não converses./ Eu não dou mais.”

O PSD, pela voz igualmente maquiavélica de David Justino, declara que não cairá na armadilha do Bloco de Esquerda, fazendo de conta que está do lado dos professores e fingindo que está contra o governo, alegando, ainda, que repor o tempo de serviço por via legislativa poderá ser considerado inconstitucional. O PSD, como se sabe, tem um passado recente de respeito cego pela Constituição.

Entretanto, a Plataforma Sindical prepara já a organização da habitual vigília, da costumeira manifestação e da usual luta que fechará para férias. Os inimigos dos professores e da Educação são, assim, o governo, os sindicatos, a maioria dos partidos e uma grande parte (a maioria?) dos professores.

Não estou optimista e, o que é pior, já começo a não estar preocupado. Se for só eu, talvez não seja mau sinal. Sinto-me a regressar aos tempos infantis em que deixava a outra equipa meter golo, quando havia um contra-ataque, porque os mamões dos meus colegas ficavam quietos lá à frente.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Ontem no “eixo do mal”, Luís Pedro Nunes afirmava mais ou menos isto:
    Há um António Costa que quer ser reeleito, e até estava na disposição de negociar com os professores e enfermeiros. Mas também há um Mário Centeno que não quer gastar mais dinheiro, prefere manter o deficit descendente, continuar a ser bem visto no EuroGrupo, quem sabe voar para outros lugares.
    Eu diria que no fundo há mais um PS, calculista. Ou nós a conta gotas, ou a PàF às negas.
    Marcelo já percebeu e alinha na onda. Não fosse ele também um “rato Jerry”.
    Vamos ver qual o resultado das europeias. Será sempre uma boa sondagem, mesmo com forte abstenção, e dela se extrapolará se o PS está disposto a arriscar alguma coisa, ou se já está a preparar uma coligação com o PSD, pós legislativas, isto caso Rio se aguente. Porque se não houver Centrão, só pode haver Geringonça, e aí o PS vai ter que fazer um acordo à esquerda, com números, prazos e datas. Desenganem-se da ideia do PS governar minoritário, com acordos pontuais à esquerda e à direita, pois da última vez que isso aconteceu, o PS acabou num pântano.

  2. António Cruz says:

    O que é que os professores propõem que o Governo dê às centenas de milhares de portugueses que perderam o emprego durante o congelamento das suas progressões automáticas (avaliações, não, que horror)?
    Imagine-se um esquema igual nas forças armadas e todos chegariam a generais.

  3. Luís Lavoura says:

    “Não há dinheiro! Qual destas três palavras é que não entende?”

    Vítor Gaspar dixit.

    • António Fernando Nabais says:

      Primeiro: há dinheiro. Segundo: não é uma questão de dinheiro. O que é que não entende?

      • Luís Lavoura says:

        É claro que é uma questão de dinheiro. Para que é que os professores estão a lutar? Para recuperarem o tempo de serviço. E para que querem eles recuperá-lo? Para subirem (imediatamente, ou a prazo) de escalão. E para que querem eles subir de escalão? Para ganharem mais dinheiro (sob a forma de salário e/ou de pensão de reforma). Logo, é uma questão de dinheiro – para eles, professores, e para quem lho paga.
        Sobre haver ou não dinheiro – é claro que há sempre dinheiro, se ele fôr retirado de outra coisa qualquer. O problema é que será muito difícil tirar de outra coisa o dinheiro que seria necessário.

        • Ana A. says:

          “O problema é que será muito difícil tirar de outra coisa o dinheiro que seria necessário.”

          Oh, se é!

          Mas, dentro em breve, é capaz de entrar algum para abater à “dívidazinha” daquele senhor que aparecia muito ao lado do senhor Cavaco, da Coelha.

          https://sol.sapo.pt/artigo/648470/casas-de-duarte-lima-estao-a-venda-em-leilao

        • António Fernando Nabais says:

          O dinheiro é uma consequência da reposição de um direito. O dinheiro nunca falta para bancos, PPP ou falsos ajustes directos, entre muitos outros actos de corrupção legal ou ilegal. Os sindicatos, ainda por cima, propuseram uma solução que incluía prazos para que essa reposição se fosse fazendo. Os professores reclamam pouco e mal e esse é um dos grandes problemas da Educação. O outro é sermos governados por Lavouras.

          • Julio Rolo Santos says:

            Ao satisfazer as exigências dos professores a corrupção continua e o dinheiro dos contribuintes não chega para todos como ja se percebeu, portanto, o melhor é começar pelo princípio, acabar primeiro com a corrupção e depois o pagamento aos professores logo se vê.

          • António Fernando Nabais says:

            Que ideia espectacular, Júlio! Vamos não resolver problema nenhum! Até podemos transferir isso para outras situações:
            – Vou dar-te um murro!
            – Mas tinhas prometido que não me ias dar murros!
            – Tem de ser. Às vezes, temos de quebrar as promessas, que outros valores mais altos se “alevantam”!
            – Mas isso vai aleijar-me!
            – Pronto, levas o murro e logo se vê.

    • Rui Naldinho says:

      Essa célebre frase de Vitor Gaspar ao Ministro da Economia de então, seu colega de governo, acabou na demissão do Secretário de Estado da Energia, com festejos e champanhe, e um ano depois, o Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, a bater com a porta.
      Tudo porque só havia dinheiro para as rendas da EDP.

    • Paulo Marques says:

      Pois, mas são socialistas que acabaram com a austeridade, têm uma solução milagrosa, deram a volta a Bruxelas e mais 1000 disparates propagandistas e, no fim, a única diferença é que não continuam a política porque querem, mas porque tem que ser.
      E, no fim, sabem tanto sobre economia como o merceeiro da esquina, só têm é uma porta dourada para Bruxelas e mais além.

  4. E o que é que o Estado deve repor às centenas de milhares de portugueses que perderam o emprego durante a crise?
    Alguém pode explicar qual é o esquema de que beneficiam os professores?
    É só esperar que os anos passem e de tanto em tanto tempo subir de escalão e de vencimento? Sem avaliações nem nada mais a ser tido em conta?
    Por ex., aplicando isso aos militares, poderiam todos chegar a generais?
    Que maravilha.

    • António Fernando Nabais says:

      A dívida dos que têm (des) governado. Se bem percebo a sua visão, a justiça consiste em prejudicar toda a gente. A carreira dos professores, para satisfação, decerto, dos ignorantes e dos invejosos, tem, já há uns anos, dois afunilamenros que impedirão a maioria de chegar ao topo de carreira, independentemente da sua qualidade, já que o pobre sistema de avaliação assim o permite.
      A imagem do “general” é uma treta, porque um professor no topo de carreira não passa a ser superior hierárquico dos professores de escalões inferiores.
      De qualquer modo, ainda bem que defende a desvalorização de uma classe profissional e ainda bem que exerce o direito a exprimir a sua ignorância.

      • Julio Rolo Santos says:

        Porque todos os que não apoiam a luta dos professores são ignorantes no dizer do Sr.(?) Antonio Fernandes é de prever que a luta dos professores fique pelo caminho porque a maioria do Ze povinho não lhes dá razão. Todos fomos prejudicados no famigerado governo de Passos 🐰 incluindo as milhares de famílias que tiveram de entregar a casa aos bancos porque ficaram sem salário e nem por isso agora pedem a sua devolução. A justiça social a fazer-se deve ser para todos.Para estar a defender os professores não sei se pertence á classe se sim então está a dar uma péssima imagem da classe.

        • António Fernando Nabais says:

          Eu explico: ignorante é aquele que não domina um assunto. Pode acontecer que um ignorante não apoie a luta dos professores e essa ausência de apoio pode nascer da ignorância. É o seu caso.
          Como o Júlio não sabe ler, explico-lhe, ainda outra coisa: eu crítico a minha classe. Sim, sou professor. Quando estou convencido da justeza das minhas ideias e quando estou farto dos ignorantes atrevidos, estou-me nas tintas para a imagem que dou. Neste momento, os professores, porque lutam pouco e mal, têm má imagem.
          É-me indiferente que me considere um senhor (pensou que tinha ferido, foi?) ou que me chame Fernandes (se não sabe ler, quem pode culpá-lo?). Para já, não sabe que não se escreve “á”; depois, logo se vê.

        • Ana A. says:

          “Todos fomos prejudicados no famigerado governo de Passos 🐰 incluindo as milhares de famílias que tiveram de entregar a casa aos bancos porque ficaram sem salário e nem por isso agora pedem a sua devolução.”

          E não pedem porquê?!

          Porque estão solidários com os governos que os maltratam e espoliam?!

          Ou quem sabe, acham que o dinheiro entregue à Banca está em melhores mãos?!

          Vamos é lutar pelos nossos interesses no geral, como povo que se supões viver em Democracia, e deixar de fazer o jogo dos poderosos, que é: “Dividir para reinar”!

  5. JgMenos says:

    A Constituição só serve para que se diga a uns milhões de portugueses que têm sobre si a responsabilidade de uma fiança que garante a umas centenas de milhares de portugueses que a sua vida não pode andar para trás.

    Um Carnaval constitucional…

    • ZE LOPES says:

      Pois! Por exemplo para os titulares de certas profissões reguladas (advogados, contabilistas…) a cujas (des)Ordens são dados poderes para barrar o livre acesso à profissão e assim manter rendimentos e privilégios.

    • Paulo Marques says:

      E, no entanto, continua a andar para trás.

  6. Julio Rolo Santos says:

    É não pedem porquê? interroga a Ana, dando de seguida a resposta: “Porque estão solidários com os governos que os maltratam e espoliam?!” Talvez mas não foi isso que os professores fizeram com o governo que os lixou? Quanto ao Sr. professor (?) António Fernandes Nabais dir-lhe-ei que se o termo “ignorante” não lhe sai da cabeça temo que seja um defeito de fabrico ou um complexo de inferioridade obtido nos bancos da escola.

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