E sai uma requisição civil para a mesa do canto.

Na tarde “informativa” das televisões foi dito e re-dito que a situação estava normal, apesar de aqui e ali faltar algum combustível. Pudera, com o pânico gerado durante a passada semana, devem ser poucos os que não não tenham o depósito cheio. Na televisão, um sujeito do governo justifica a requisição civil dizendo, entre outras coisas, que é para tranquilizar os portugueses. Fica bem, depois do estado de sítio montado pela comunicação social ao longo de um mês.

Adenda: São 20:25 e as “reportagens” televisivas continuam a bater no mesmo tema, com todo o jeito de assim continuar. Está montado o circo, mas deste não sairá palhaçada que faça rir.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Quando uma associação de transportadores de mercadorias, a ANTRAM, vem dizer que a adesão à greve é de cerca de 1%, fracassando em toda a linha, e a seguir vem o governo a seu pedido, decretar a Requisição Civil, só posso concluir que vivo num país de “faz de conta que sois todos parvos”.
    Ou a adesão à greve é bem maior do que aquilo que vaticina a ANTRAM, ou o governo anda a reboque do patronato, sem saber o que fazer.
    Um dia destes vamos ver este mesmo PS queixar-se do infortúnio. O caminho da pasokização começa sempre assim.

    • j. manuel cordeiro says:

      Toda esta encenação durante o fim-de-semana e hoje não é uma reacção à greve, mas sim campanha eleitoral direccionada ao eleitorado de direita, tradicionalmente mais apoiante de governos musculados. É o PS a procurar a maioria absoluta, sem olhar a meios.

      • Carlos Almeida says:

        Concordo inteiramente.
        O PS ficou um pouco atemorizado com a sondagem depois da bronca dos primos e resolveu dar uma cartada forte para a qual o “Pardal” se pôs a jeito e os trabalhadores foram a reboque.
        Da ANTRAM já nem falo, por ser neste momento o departamento logístico do PS.

      • Rui Naldinho says:

        Resta saber se o PS alcança esse resultado. O meu presságio é que lhes vai sair o tiro pela culatra, mais uma vez. Isto independentemente de achar que esta greve tem um lado racional e um lado oportunista ao mesmo tempo.
        Estou do lado dos motoristas nas suas aspirações por um enquadramento profissional que lhes permita ter os seus rendimentos agregados em boa parte à remuneração base, remuneração essa que lhes dará a salvaguarda de uma pensão condigna, ou se algum infortúnio os apoquentar, não ficarem de baixa ou no desemprego com meia dúzia de tostões no bolso. Mas já acho um pouco irracional, a ser verdade, estarem a fazer uma greve por causa dos vencimentos de 2021, por exemplo.
        Imagine-se se todos os portugueses fizessem o mesmo?

    • Qbrosr says:

      Aparentemente, os números de adesão a greve avançados não incluem os motoristas de matérias perigosas, só os de transportes de mercadorias (que também estão em greve). Isso foi esclarecido na entrevista as 19h na SIC Notícias

    • Paulo Marques says:

      Falta contar a perventagem em greve as horas extraordinárias, que isto é tudo boa gente.

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Na Idade Média o recurso ao boato era altamente penalizado, sendo os sujeitos que praticavam a acção sujeitos a medidas de coacção que passavam pelo açoitamento e exposição em locais públicos.
    Compreende-se que a organização da altura se mantivesse muito atenta a essas questões, onde entravam suspeitas de epidemias e mesmo, ataques inimigos.

    Ora a nossa sociedade vem dando mostras de um recuo civilizacional preocupante, pelo tudo que se assiste ligado às “fake news” e ao empolamento e especulação dos factos corresponde a mais “um prego para o caixão” da credibilidade do noticiado.

    Se não me atrevo a pedir a volta dos pelourinhos, com as consequências da altura, para chamar à razão os empoladores, aldrabões e especuladores que inundam os jornais e televisões, seria de bom tom que o recurso a um denominado provedor das notícias ou da informação, um personagem físico com credibilidade para que os ditos “jornalistas” e as agências “noticiosas especializadas em criar confusão”, fossem desmascaradas, em vez de continuarem impávida e serenamente na senda do débito da confusão, via submissão a uma linha editorial ou a uma situação política manipuladora.

    Do lado do povo, era importante que cada qual soubesse pensar pela sua cabeça e visse as coisas com olhos de ver, embora muita desta gente seja a mesma que recorre aos jerricans, IBC’s e outras manigâncias quando alarmada por um qualquer “ai-Jesus”, numa atitude de egoísmo bem “tuga”.
    Assim, hoje passei por dezenas de postos de abastecimento na região litoral norte e centro num longo périplo que efectuei. Tudo estava calmo, exceptuando-se o nº de litros destinados ao abastecimento. Mas com 25 litros de cada vez, não me consta que possam haver problemas.

  3. Julio Rolo Santos says:

    Primeiro o país e quem nele vive e só depois as politiquices.

  4. Com a devida vénia ao autor :

    «Até esta segunda-feira, a cenografia em torno da greve dos motoristas tinha sido perfeita, um relógio suíço. Alto lá, dirá a leitora ou o leitor atento: mas há mesmo uma greve, provoca alarme social, incomoda quem está em férias, assusta quem anda com a casa às costas, isso não é só encenação. Certo, é muito mais do que encenação. O que há é uma greve que podia e devia ter sido evitada se tivessem ficado fixados calendários de negociação, se o pré-acordo de maio tivesse sido generoso, se o patronato não tivesse sentido desde logo que tinha uma parceria com o Governo e se tivesse sido concluído entretanto um arrastadíssimo processo negocial com o maior sindicato do sector. A pergunta que, por isso, fica no ar nos primeiros dias da greve é esta: e por que é que não a quiseram evitar e, pelo contrário, quiseram empurrar esta greve veraneante?

    Pode-se dizer que aquele sindicato ajudou à festa. Não há dúvida. Os trabalhadores estão fartos de uma situação de vulnerabilidade com um salário-base baixíssimo e depois com subsídios e pagamentos dependentes da discricionariedade patronal. Quem trabalha no privado sabe bem como funciona este truque do salário de referência ser insignificante e ter depois complementos e subsídios vários. Os motoristas querem, portanto, uma resposta ao impasse salarial de tantos anos. Bem merecem essa justiça. Mas, como um dos sindicatos é representado por um presidente quase evanescente e por um vice-presidente que não é sindicalista, antes se anuncia com alguma pompa excessiva como o dono de um dos maiores escritórios de advogados do país, além de se ter logo alcandorado a candidato a deputado, foi fácil ao patronato e ao Governo acusarem os trabalhadores dos crimes mais nefandos. Na disputa da opinião pública, os motoristas entraram a perder.

    Ainda por mais, e antecipando a greve, o Governo preparou a sua campanha meticulosamente. Tudo estava no seu lugar. Houve recibos de salários, bem selecionados, para serem exibidos nos telejornais: os motoristas ganham muito mesmo que ganhem pouco. Houve o anúncio da escassez, para lançar as pessoas para as filas desde uns dias antes da greve. Houve a contagem decrescente, como se se tratasse de uma tempestade devastadora e com hora marcada. Houve a escalada de ministros em declarações sucessivas, poupando os que são os principais candidatos em outubro, Centeno nem vê-lo, vai ser precisa uma campanha em tom diferente e é bom que não se note a consequência da sequência, temos então Vieira da Silva em doses reforçadas, Eduardo Cabrita porque assim encerra o arreliador caso das golas, o primeiro-ministro nos momentos cruciais. E todos delicados, nada de empolgamentos, estão tão pesarosos como o professor primário do antigamente que aplicava reguadas às crianças, as marcações no palco foram minuciosas, todos recitaram o seu papel. O país, diga-se, não se assustou por demasia e, no fim de semana e no primeiro dia de greve, uma grande parte das bombas de combustível funcionava tranquilamente.

    Só que o plano tinha de ser cumprido. Talvez então o relógio tenha sido forçado em demasia: não foi jogada inteligente fazer a requisição civil logo no primeiro dia. E muito menos pôr tropas a conduzir camiões logo passadas poucas horas. As fardas eram para ser notícia grandiosa, eram para assustar, só entrariam quando Portugal inteiro suspirasse pela autoridade de galões. Era para ser quando o país se declarasse nas últimas (curiosamente, é isso que conclui a assustada imprensa internacional, enquanto aqui nos entretemos com problemas mais comezinhos e nos perguntamos se chegou finalmente o mês de agosto). Mas o Governo quis comprometer o Presidente da República com a operação e, por isso, não esperou e requisitou a tropa. Sempre dá umas boas imagens de televisão.

    Percebe-se a razão da aceleração do plano, os patrões gritavam por requisição e perceberam que a eles não lhes é pedido que cumpram a lei dos serviços mínimos, ao passo que o Governo aspirava a chegar a este momento culminante, foi para ele que trabalhou, e nestas coisas os conselheiros de imagem e os spin-doctors têm sempre pressa, não se pode deixar perder o pássaro que temos na mão. E assim se antecipou o momento dramático para o fim do dia de segunda-feira, a novidade durará ainda por hoje. Temos as fardas na rua. Só que a partir daqui é só repetição.

    E, ressalvada alguma provocação de qualquer tipo, se o que fica é repetição, então é demasiado pouco. O Governo só consegue usar isto para cavalgar na sua ânsia de maioria absoluta, que é ao que tudo se resume, se houver emoção suficiente mas não excessiva, não pode parecer falso ou cínico, ou instrumental. Não se brinca com o país, isso devia estar escrito na parede do Conselho de Ministros. Se o Governo se deixa embriagar pelo sucesso das suas primeiras duas semanas de campanha eleitoral com este abençoado pretexto dos motoristas, em que conseguiu tudo, o risco agiganta-se. Até agora, calou a direita, fala sozinho nos telejornais de fio a pavio, neutralizou os outros sindicatos, raras vozes criticam a restrição ao direito de greve. Mas gastou demasiados cartuchos de emoção. E agora como vai manter o crescendo? Deixa banalizar a coisa, o tempo corre e não acontece nada, ninguém é preso, o pelourinho fica vazio, não há medo? Para ser forte como racha-sindicalistas e para ser enérgico como a voz da autoridade, o Governo precisa de emoção doseada mas crescente. Se gastou todas as surpresas, se só sobrar a rotina das reuniões de emergência sem qualquer urgência, um dia destes acorda e ninguém ligará ao caso. E o dia 6 de outubro ainda vem longe.»

    Francisco Louçã
    .

  5. Com a devida vénia ao autor :

    «Até esta segunda-feira, a cenografia em torno da greve dos motoristas tinha sido perfeita, um relógio suíço. Alto lá, dirá a leitora ou o leitor atento: mas há mesmo uma greve, provoca alarme social, incomoda quem está em férias, assusta quem anda com a casa às costas, isso não é só encenação. Certo, é muito mais do que encenação. O que há é uma greve que podia e devia ter sido evitada se tivessem ficado fixados calendários de negociação, se o pré-acordo de maio tivesse sido generoso, se o patronato não tivesse sentido desde logo que tinha uma parceria com o Governo e se tivesse sido concluído entretanto um arrastadíssimo processo negocial com o maior sindicato do sector. A pergunta que, por isso, fica no ar nos primeiros dias da greve é esta: e por que é que não a quiseram evitar e, pelo contrário, quiseram empurrar esta greve veraneante?

    Pode-se dizer que aquele sindicato ajudou à festa. Não há dúvida. Os trabalhadores estão fartos de uma situação de vulnerabilidade com um salário-base baixíssimo e depois com subsídios e pagamentos dependentes da discricionaridade patronal. Quem trabalha no privado sabe bem como funciona este truque do salário de referência ser insignificante e ter depois complementos e subsídios vários. Os motoristas querem, portanto, uma resposta ao impasse salarial de tantos anos. Bem merecem essa justiça. Mas, como um dos sindicatos é representado por um presidente quase evanescente e por um vice-presidente que não é sindicalista, antes se anuncia com alguma pompa excessiva como o dono de um dos maiores escritórios de advogados do país, além de se ter logo alcandorado a candidato a deputado, foi fácil ao patronato e ao Governo acusarem os trabalhadores dos crimes mais nefandos. Na disputa da opinião pública, os motoristas entraram a perder.

    Ainda por mais, e antecipando a greve, o Governo preparou a sua campanha meticulosamente. Tudo estava no seu lugar. Houve recibos de salários, bem selecionados, para serem exibidos nos telejornais: os motoristas ganham muito mesmo que ganhem pouco. Houve o anúncio da escassez, para lançar as pessoas para as filas desde uns dias antes da greve. Houve a contagem decrescente, como se se tratasse de uma tempestade devastadora e com hora marcada. Houve a escalada de ministros em declarações sucessivas, poupando os que são os principais candidatos em outubro, Centeno nem vê-lo, vai ser precisa uma campanha em tom diferente e é bom que não se note a consequência da sequência, temos então Vieira da Silva em doses reforçadas, Eduardo Cabrita porque assim encerra o arreliador caso das golas, o primeiro-ministro nos momentos cruciais. E todos delicados, nada de empolgamentos, estão tão pesarosos como o professor primário do antigamente que aplicava reguadas às crianças, as marcações no palco foram minuciosas, todos recitaram o seu papel. O país, diga-se, não se assustou por demasia e, no fim de semana e no primeiro dia de greve, uma grande parte das bombas de combustível funcionava tranquilamente.

    Só que o plano tinha de ser cumprido. Talvez então o relógio tenha sido forçado em demasia: não foi jogada inteligente fazer a requisição civil logo no primeiro dia. E muito menos pôr tropas a conduzir camiões logo passadas poucas horas. As fardas eram para ser notícia grandiosa, eram para assustar, só entrariam quando Portugal inteiro suspirasse pela autoridade de galões. Era para ser quando o país se declarasse nas últimas (curiosamente, é isso que conclui a assustada imprensa internacional, enquanto aqui nos entretemos com problemas mais comezinhos e nos perguntamos se chegou finalmente o mês de agosto). Mas o Governo quis comprometer o Presidente da República com a operação e, por isso, não esperou e requisitou a tropa. Sempre dá umas boas imagens de televisão.

    Percebe-se a razão da aceleração do plano, os patrões gritavam por requisição e perceberam que a eles não lhes é pedido que cumpram a lei dos serviços mínimos, ao passo que o Governo aspirava a chegar a este momento culminante, foi para ele que trabalhou, e nestas coisas os conselheiros de imagem e os spin-doctors têm sempre pressa, não se pode deixar perder o pássaro que temos na mão. E assim se antecipou o momento dramático para o fim do dia de segunda-feira, a novidade durará ainda por hoje. Temos as fardas na rua. Só que a partir daqui é só repetição.

    E, ressalvada alguma provocação de qualquer tipo, se o que fica é repetição, então é demasiado pouco. O Governo só consegue usar isto para cavalgar na sua ânsia de maioria absoluta, que é ao que tudo se resume, se houver emoção suficiente mas não excessiva, não pode parecer falso ou cínico, ou instrumental. Não se brinca com o país, isso devia estar escrito na parede do Conselho de Ministros. Se o Governo se deixa embriagar pelo sucesso das suas primeiras duas semanas de campanha eleitoral com este abençoado pretexto dos motoristas, em que conseguiu tudo, o risco agiganta-se. Até agora, calou a direita, fala sozinho nos telejornais de fio a pavio, neutralizou os outros sindicatos, raras vozes criticam a restrição ao direito de greve. Mas gastou demasiados cartuchos de emoção. E agora como vai manter o crescendo? Deixa banalizar a coisa, o tempo corre e não acontece nada, ninguém é preso, o pelourinho fica vazio, não há medo? Para ser forte como racha-sindicalistas e para ser enérgico como a voz da autoridade, o Governo precisa de emoção doseada mas crescente. Se gastou todas as surpresas, se só sobrar a rotina das reuniões de emergência sem qualquer urgência, um dia destes acorda e ninguém ligará ao caso. E o dia 6 de outubro ainda vem longe.»

    Francisco Louçã
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