Mathieu Van der Poel não é humano

À partida para a Strade Bianche, a primeira grande prova de um dia do calendário velocipédico internacional, já poderíamos predizer com um altíssimo grau de certeza que a prova seria discutida pelo denominado trio do cyclocrosse (composto por Mathieu Van Der Poel, Wout Van Aert e Thomas Pidcock) e pelo campeão do mundo de ciclismo de estrada em título Julian Alaphillippe, não obstante o gap ao nível de preparação desportiva apresentado pelo último em relação aos três primeiros, que sucede naturalmente, do facto destes se apresentarem em melhores condições devido ao facto de estarem em constante preparação desde o passado mês de Novembro no sentido de prepararem a sua participação na temporada de cyclocross, temporada que ocorre normalmente nos meses de paragem do ciclismo de estrada. Dos 3 citados, Van der Poel e Van Aert protagonizaram de resto incríveis duelos na terra quer na prova de Taça do Mundo disputada em Namur, quer nos campeonatos do mundo disputados em Oostend.

Em função do espectáculo que já havia protagonizado nas provas belgas da semana passada (Oomlop Het Nieusblad, Brussels-Kuurne-Brussels e GP LeSamyn; nesta última, o holandês partiu o guiador da sua bicicleta nos quilómetros finais da prova, mas tal facto apenas veio a ser impeditivo para a possibilidade de discutir a vitória na prova; o corredor haveria de comunicar o sucedido ao carro de apoio de equipa e de mudar toda a táctica da equipa num ápice, passando para a frente do pelotão de forma a transportar consigo o ex-campeão belga Tim Merlim para com classe lançar-lhe o sprint para a vitória na prova), todos já estaríamos decerto avisados para a possibilidade de vermos um extraordinário ataque de Mathieu Van der Poel nos locais onde outrora se eternizou Fabian Cancellara: no sector de gravilha do Monte Santa Marie ou na dureza do verdadeiro muro que caracteriza a chegada à icónica Piazza del Campo em Siena, o coração do Pallio Histórico daquela cidade da região toscana, local que poderia ter sido perfeitamente o escolhido por António Manuel Ribeiro para a gravação do videoclip dos cavalos de corrida.

O que não estaríamos certamente à espera era de ver estes dois portentosos ataques, fazendo jus à letra dos Cavalos de Corrida, estes “dois verdadeiros assaltos” (e a esse respeito, devemos referir que para a realização do primeiro contribuiu efectivamente o cheiro a sangue que Van der Poel sentiu quando olhou para trás e viu Van Aert a dar as últimas) com uma ftp, respectivamente de 1200 watts e 1100 watts em duas pendentes com a inclinação de 8,6% e 12,4%. Sim, o holandês da Alpecin-Fénix, neto do lendário Raymound Poulidor e actual campeão do seu país de estrada e campeão do mundo de cyclocross, gerou um nível de potência (Força Máxima no menor período de tempo) similar aquela que é produzida pelos melhores sprinters da actualidade em 150 metros de sprint com sprint lançado em terrenos planos, o que é algo que deixa qualquer pessoa ligada a esta modalidade de boca aberta. O próprio Julian Alaphillippe, que costuma ser useiro e vezeiro (e bem sucedido) neste tipo de ataques em perímetro curto, ficou, como podemos ver pelas imagens sem qualquer reacção e muito já fez este, quando no primeiro ataque, foi ao choque e precisou apenas de 200 metros para se recolar ao estrondoso homem dos países baixos.

 

Comments

  1. Filipe Bastos says:

    Portentoso, estrondoso, extraordinário, altíssimo. Perímetro curto. Calendário velocipédico internacional. Cheiro a sangue.

    Incríveis duelos. Respectivamente de 1200 watts e 1100 watts.

    Soa fascinante o ‘cyclocross’. Estou excitadíssimo e nem sei porquê.

  2. Filipe Bastos says:

    Muito menos importante e estrondoso, a Comuna de Paris vai fazer 150 anos. E 150 anos depois tudo diferente, tudo na mesma.

    As suas principais reinvindicações: mais igualdade, menos mama, mais democracia. Ou melhor, uma democracia a sério. Não a fantochada ‘representativa’ que tanto nos contenta.

    • João Branco says:

      E um pouco de noção? Terás porventura por aí um pouco de noção?

  3. Abstencionista says:

    Caro Filipe Bastos, não misture, p. f.,

    Estamos a falar de coisas sérias … ciclismo!!!

    Estamos a falar de Mathieu van der Poel, mas também de Wout van Aert, Remco Evenepoel, Filipo Gana e Tadej Pogacar que pertencem a uma nova geração de ciclistas que chegaram viram e venceram.
    Vamos ter uma época de ouro tanto nas clássicas como nas grandes voltas.
    Não se pode dizer que é um choque de gerações porque os outros adversários pouco mais velhos são.
    Ainda por cima com portugueses presentes como o João Almeida (3º lugar nos emiratos) e praticamente com a presença garantida no Giro.
    Gosto de ciclismo, especialmente na Eurosport, quando comentado pelos seus comentadores residentes.
    Especialmente quando o pivot Luís Piçarra não puxa conversa mole e deixa os outros falarem sobre ciclismo e sobre a cultura das cidades e países que o ciclismo dá a conhecer.

    Gonçalo Moreira é um generalista que sabe de ciclismo como poucos e conhece bem a cultura dos locais onde as provas se desenrolam.
    Paulo Martins , ex-ciclista, explica de forma simples o que é o ciclismo visto por dentro.
    Olivier Bonamici está ao nível do Gonçalo Moreira, tem um sentido de humor extraordinário e um grande poder de encaixe para aguentar as palermices do Piçarra.

    (Com isto não pretendo negar a enorme qualidade de comentador do Marco Chagas na RTP mas, infelizmente, o seu acompanhante é chato como a potassa.)

  4. luis barreiro says:

    Ciclismo um desporto racista onde os corredores de côr negra são sempre colocados de fora de ganhar os grandes circuitos desde sempre.