António Costa, André Ventura e Mamadou Ba entram num bar

António Costa considera estar a abrir-se uma fractura perigosa para a nossa identidade. Até aqui, tudo bem. Tem razão o Primeiro-Ministro e prova que tem estado atento às conjunturas da política nacional, o que é natural, não fosse António Costa o primeiro representante do Governo português.
 
O pior veio depois. Em entrevista ao jornal Público, disse o Primeiro-Ministro, que “nem André Ventura nem Mamadou Ba representam aquilo que é o sentimento generalizado do país”. Partindo de um pressuposto verosímil, o Primeiro-Ministro formula uma opinião que mais não é do que uma tentativa de atirar areia para os olhos, e agora digo-o eu, da generalidade do país. Se pode ser verdade que nem todos os portugueses são da extrema-direita, também é verdade que nem todos os portugueses querem lutar contra o racismo. No entanto, esses portugueses existem, e o Primeiro-Ministro também os representa. Um pouco mais de tacto naquilo que diz não faria mal nenhum a António Costa, mas o mesmo já nos habituou a tiradas arrogantes do alto do seu pedestal moralista.
 
A incapacidade do Primeiro-Ministro em falar de frente para esses portugueses, quer os do lado do populismo da extrema-direita, quer os do lado do excesso metafórico recorrente do representante da SOS Racismo, denota, mais uma vez, a falta de noção do mesmo e a já recorrente incapacidade em descer à Terra. Saber pôr os pontos nos i’s não é uma das qualidades do Primeiro-Ministro, definitivamente. Para Costa, Ventura não é uma ameaça, mesmo sabendo que, mal possa, o PSD, maior partido da oposição, unir-se-á aos novos (que não são novos) fascistas do burgo. Se tal não preocupa o Primeiro-Ministro, é prova de que a cadeira onde se senta já começa a ganhar calos. Ver André Ventura e o Chega como uma ameaça “é dar-lhe a credibilidade que ele não tem”; deduzo, portanto, que a melhor arma contra o extremismo de direita, para António Costa, seja a indiferença. Acho que não preciso lembrar ninguém do resultado que deu essa estratégia no passado.

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Ressurreição

Cavaco Silva é a prova de que existe vida depois da morte.

No entanto, se a vida depois da morte tiver o aspecto actual do antigo Primeiro-Ministro e ex-chefe de Estado, digo já que não quero padecer desse mal.

Quem poderá traduzir “Lágrima de Preta”?

O racismo pretende construir muros e prisões. Estrutural ou não, deve ser combatido. O objectivo é erradicá-lo, extinguir o racista, não através da violência física, mas condenando-o à inexistência, através da educação, da cultura e das artes. Das artes, insisto. Tudo isto será utopia, mas é pela utopia que devemos ir.

O anti-racismo deve servir para derrubar muros, para explicar ao mundo que não estamos separados pela cor da pele. Como tantas lutas legítimas, também o anti-racismo está sujeito a exageros e perversões. Qual é a diferença? O racismo deve ser destruído, o anti-racismo precisa de ser melhorado. O problema de quem faz força em sentido contrário reside, por vezes, num excesso nascido da revolta ou da necessidade de compensar a força do inimigo.

Recentemente, na Holanda, surgiu uma polémica a propósito da tradução do poema que Amanda Gorman escreveu e declamou na tomada de posse de Joe Biden. Quando se soube que Marieke Lucas Rijneveld, a tradutora escolhida, era uma mulher branca, houve uma revolta tal que esta, apesar de avalizada pela própria autora, pediu desculpa e retirou-se. Pelos vistos, aquele poema só pode ser traduzido por alguém com a mesma cor de pele da autora.

O anti-racismo transforma-se, assim, num racismo de sinal contrário, mesmo que as intenções sejam, originalmente, as melhores. [Read more…]

Democracia comunista…

Ou democracia estalinista?

Ainda o Montijo

Num artigo que tresanda a spin para justificar a opção do governo, fica logo claro porque é que Montijo foi escolhido.

Mesmo descontando perdas motivadas pelos anos a mais que demorará a obra, o custo extra de uma infraestrutura construída de raiz, no caso, em Alcochete, ascende a 6 mil milhões de euros. É o quíntuplo do valor que a ANA Aeroportos se comprometeu a investir até 2028 na reconversão da infraestrutura do Montijo e melhoramento e expansão da Portela. O custo de Alcochete ascenderia a 7,6 mil milhões – cujo custo iria necessariamente recair, ao menos em parte, sobre os contribuintes -, em vez dos 1,5 mil milhões no Montijo, assegurado pela ANA e financiado pelas taxas aeroportuárias. [DN]

“que a ANA Aeroportos se comprometeu a investir até 2028”

Esta é a chave para a decisão.

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Moedas, family & friends

Há dias escrevi aqui que Carlos Moedas foi uma boa escolha de Rui Rio para a CM de Lisboa. Uma escolha forte e agregadora. Continuo convencido disso. E a quantidade de partidos que o apoiam parece confirmar a ideia, pelo menos no que ao factor agregador diz respeito: CDS, Aliança, MPT, PPM e até o RIR, do antigo autarca socialista e ex-candidato presidencial, Vitorino Silva, a.k.a Tino de Rans. Só falta a IL. Parece que o Chega foi pré-excluído por Moedas. Tem o meu respeito por isso.

Depois fui confrontado com um:

  • Mas tu sabes quem é Carlos Moedas?

Não o conheço, claro está, mas sei umas coisas. Lembro-me do tempo em que era o Secretário de Estado Adjunto de Pedro Passos Coelho, e um dos responsáveis por acompanhar o takeover da Troika. Um dos homens por trás da máxima “ir além da Troika”. Um político que, antes de chegar ao governo, esteve no Deutsche e no Goldman Sachs, dois dos beneficiários da desnecessária privatização dos CTT, com os resultados que se conhecem. Os CTT que, anos mais tarde, convidaram Celine Abecassis-Moedas para a administração da empresa.

Quem?

Exactamente: a esposa de Carlos Moedas.

Por isso sim, sei umas coisas sobre Carlos Moedas. Mas isso não invalida que seja um dos nomes mais fortes que o PSD poderia avançar, mais ainda se considerarmos o período particularmente delicado que o partido atravessa. Pese embora o mau arranque, com a péssima (e desnecessária) encenação do “sonho” e do “projecto de vida” de vir um dia a presidir à CM de Lisboa. Consegui visualizar o jovem Carlos, num banco do liceu de Beja, a sonhar com o dia em que entrava pelos Pacos do Concelho de Lisboa, com o colar ao pescoço. Não havia necessidade…

*

P.S. Estou particularmente curioso para saber se a IL alinha na coligação de direita, encabeçada por Moedas. Se fosse socialista, certamente teria direito a um cartaz @comPrimos. A ver vamos, se isto é uma questão de primos. Ou de socialismos.

Carta Aberta ao jornalista Pedro Tadeu (DN)

O jornalista Pedro Tadeu escreveu ontem, no DN, um artigo sobre jornalismo. Sobre o que se passa no jornalismo actualmente. Citando:

“Desde que esse meu amigo me contou o que se passou com ele, sempre que vejo uma notícia sobre a covid-19 fico desconfiado: “Será mesmo assim ou isto foi uma encomenda?” E quando constato a grande quantidade de peças que estão dentro da área de interesses destes “recrutadores de jornalistas”, quando vejo que essas peças se repetem no foco e na mensagem, exageradamente, nos últimos meses, fico espantado com a minha ingenuidade estúpida: “Como é possível eu ter achado que isto era, apenas, um exercício editorial insensato e incompetente, mas genuíno?” A seguir vem o desgosto: “Como é que a minha profissão chegou a este ponto!?”

Aqui fica a minha carta aberta ao Pedro Tadeu:

Caro jornalista Pedro Tadeu, eu tenho um amigo, não sei se o mesmo, que já nos idos de noventa me contava existirem jornalistas no activo a fazer assessoria de comunicação para privados. Esse meu amigo deparou com altos quadros, dirigentes, de canais de televisão cujas mulheres (ou irmãs ou mesmo primas, a minha memoria já não me ajuda muito) trabalhavam ou eram donas de empresas de assessoria de comunicação e ele, pasme-se, avisava que se o “pedido” viesse por essa mão amiga, a coisa teria direito a telejornal e tudo, veja bem. Isto já em pleno novo milénio e, suponho, não deve ter mudado assim tanto. E advogados comentadores nos media que, simultaneamente, tratavam dos problemas pessoais dos seus entrevistadores? E o mesmo se diga no tocante a médicos? Já ele me falava na confusão entre o que era pessoal e o que era profissional. Nisso e nos políticos que conseguiam ser, simultaneamente, informadores do jornalista A ou B e articulistas no mesmo jornal ou comentadeiras na mesma televisão. Uma festa. Ou, usando as palavras desse meu amigo (será p mesmo?), um festim.

Caro Pedro Tadeu, pelo que percebi do seu amigo e juntando com o meu, desconfio que não se fique apenas pelo Covid, ao que parece já não se pode confiar em praticamente nada do que se vê nos noticiários tal a confusão entre o que são noticias e o que são apenas encomendas. É claro que aqueles 15 milhões não ajudam nada. Isso e a propriedade actual dos meios de comunicação. De qualquer forma, obrigado pelo seu artigo e que nunca nos faltem os amigos.

Com os melhores cumprimentos.

A triste realidade do País em que a Burocracia e a Incompetência continua a fazer escola

O caso da jovem Constança Bradell é um daqueles filmes que tantas vezes vimos ao longo das últimas décadas no nosso país, em particular, nos casos que envolvem a relação entre o Estado e os portadores de doenças raras: é uma manifesta incúria, uma manifesta incompetência, uma manifesta negligência provocada por um sistema altamente burocrático que reflecte sobretudo a falta de empatia dos decisores e dos funcionários públicos perante o seu semelhante. Sim, o funcionalismo público português está, para nossa infelicidade, desde as camadas de base até ao topo, cravejado de funcionários que aparentam (ou talvez não tenham mesmo essa capacidade de tão insensíveis à dor do outro que se tornaram) não ter o mínimo de empatia perante o problema e a dor do próximo. A não ser que os visados pelo infortúnio sejam os seus filhos, os filhos dos seus colegas, os filhos dos seus hierárquicos ou os filhos dos deuses com pés de barro a quem lambem sistematicamente as botas à espera de benefícios.

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O negócio de Montijo

Governo já tem proposta para substituir lei que bloqueou aeroporto no Montijo

Essencialmente, o que António Costa e o seu PS, apoiado pelo PSD de Rui Rio, se prepara para fazer é deixar claro que estamos num Estado onde a lei não é o alicerce da governação mas sim um instrumento para se atingir um fim. Não é propriamente uma novidade mas é de registar que a inversão de valores não é alheia a este executivo. Também mostra bem de que lado está o Governo e não é do lado dos cidadãos.

Sobre o negócio de ocasião para a ANA e a Vinci, pouco há a acrescentar ao que anteriormente se disse. Excepto que é de se sublinhar que os dois submarinos ainda vão dar jeito ali.

Subida do nível das águas – projecção para 2030 (fonte)