O Acordo Ortográfico de 1990 é mais difícil de executar do que o scherzo da Nona de Beethoven

Kein Crescendo.
 H. von Karajan

***

O scherzo da 9.ª Sinfonia de Beethoven tem um tempo muito rápido, é molto vivace – presto, sendo a execução extremamente difícil. Como não estamos nos Sons do Aventar, convém esclarecer que “tempo” aqui é entendido na acepção de «unidade de medida da pulsação rítmica, geralmente correspondente a cada uma das partes de um compasso musical». E “muito rápido”, salvo melhor opinião, é mesmo a designação mais correcta, pois rapidíssimo é o prestissimo. Portanto, o melhor é ficar pelo muito rápido e evitar superlativos sintéticos. Ao escutar este scherzo, sou imediatamente transportado para as margens do Mosela, quando entra na Alemanha, terminados os percursos francês e luxemburguês. Depois, o Mosela acaba por desaguar no Reno. Mas esse é outro assunto. Voltando àquilo que actualmente nos ocupa, como é sabido, apesar de difícil, a execução do scherzo da Nona é viável. Ou seja, é possível que isto

etc.

se traduza nisto [Read more…]

O exagero dos liberais

Desde já, alerto que este texto irá conter vestígios de bairrismo e de sentimento. Todos nós temos as nossas hipocrisias e, por muito que eu gostasse de ser totalmente racional, não consigo. Prefiro admitir desde já em vez de tentar arranjar razões forçadas para justificar os meus sentimentos.

Ontem, o meu Porto acordou diferente. A Avenida principal da cidade, que até contém a estátua do Rei Liberal, estava de uma ponta à outra repleta de bandeiras comunistas. Eu não sou contra a existência do Partido Comunista nem sou contra propaganda comunista, mas sou completamente contra este tipo de propaganda. Faria este texto se fosse o PAN ou o PSD? Sim. Seria tão chocante para mim? Não.

Os liberais nunca se revoltaram com cartazes comunistas, mas ontem sim, porque quem não se sente não é filho de boa gente. A disposição daquelas bandeiras lembra perfeitamente um regime comunista típico de Século XX. Uma coisa é um cartaz na berma da estrada, outra é ocupar a Avenida dos Aliados com bandeiras de um partido. E não, não é um partido qualquer, é um partido comunista. Um partido que defende Estaline, que comemora hoje 68 anos como comunista bom, um partido que defende Lenine, um partido que não condena o regime ditatorial existente na Coreia do Norte, entre outras barbaridades. Mas que se engane quem acha que isto é “só lá fora”. Como muito proclama, o PCP não lutou pela liberdade, lutou para impor a sua ditadura. Isto não é querer a liberdade, é querer o poder. Mas aos comunistas é fácil perdoar tudo sob a desculpa de ser apenas uma parvoíce ou uma utopia. Ainda na última festa do Avante se ouviu que é necessário acabar com o capitalismo pela força. Facilmente, se passeiam camisolas de assassinos como Che Guevara e Fidel. Isto não é admissível num partido democrático. [Read more…]

Crónicas do Rochedo 43 – Ainda discutem um novo Aeroporto???

Nos últimos dias foram publicadas duas notícias que são todo um programa para o que nos espera nos próximos tempos. A primeira foi no Observador, uma entrevista ao Presidente do Grupo Jerónimo Martins onde ele explica que estamos a caminhar para uma crise grave, muito grave. Profunda, nas suas palavras. “Relativamente ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “que está proposto, para mim ainda não está totalmente claro como é que vai funcionar, nem em que áreas”, prosseguiu, salientando que aquilo que tem sido transmitido pela comunicação social portuguesa sobre o tema não o deixa “minimamente confortável”, fim de citação.

A outra foi num dos jornais de economia de Espanha, o Expansión. Onde é explicado que este verão é a última oportunidade para salvar a economia espanhola se e só se o governo espanhol consiga elaborar um plano de regresso a uma normalidade económica. Caso contrário, o abismo. Algo que se aplica a Portugal – a Grécia, a Turquia e o Chipre já se adiantaram e ficaram com a fatia de leão das reservas de verão que se vendem no primeiro trimestre do ano. Ora, perante tudo isto, qual a mensagem que passam os nossos governantes?

Estão a discutir o novo Aeroporto de Lisboa. Ainda e sempre. Ora agora é no Montijo, ora depois é em Alcochete e por fim será onde as negociatas do eterno e sempre em pé bloco central deseje. A sério que estão a discutir esta merda? No meio de uma crise económica sem precedentes continuam com a treta do novo aeroporto? Olhem, aproveitem o elefante branco de Beja, metam um comboio rápido e vão ver que não será muito diferente, em termos de distância/tempo do caso de Beauvais (Paris) ou Memmingen (Munique), entre outros exemplos nas grandes cidades da Europa.

A sério que os nossos (ir)responsáveis políticos consideram, hoje, que a construção de um novo aeroporto é algo útil para a nossa economia? É o novo aeroporto que vai salvar o turismo (em Lisboa, no Algarve, no Porto, nas ilhas?), que vai salvar da falência as centenas de milhar de empresas que estão, na realidade, falidas? Que vi criar postos de trabalho em número suficiente para regressarmos aos valores pré pandemia? É esta a visão de futuro do governo de Costa?

António Barreto e o “sistema”

António Barreto voltou a dar o ar da sua graça na imprensa nacional. Ainda no início de Fevereiro deu uma entrevista à TSF/DN, mas no Sábado passado estava de regresso à capa de um jornal de grande tiragem, desta feita o Sol, que agora se chama Nascer do Sol, excluído, perseguido e censurado como só este eterno barão do bloco central sabe ser.

António Barreto personifica, como poucos, aquilo a que comummente nos referimos que recorremos ao termo “sistema”. Se Olof Palme, sobre quem escrevi há dias, estava sempre do lado certo da luta, António Barreto tende a estar sempre do lado certo do poder, de mãos dadas com ele.

Senão reparem: António Barreto foi comunista durante o declínio do fascismo, quando era moda ser oposição ao Estado Novo, ministro do PS no tempo do soarismo, virou mais tarde à direita, trabalhou no sector público, trabalhou no sector privado, andou por fundações e órgãos de comunicação social, escreveu e escreve regularmente nos principais jornais nacionais, comenta a actualidade nos telejornais, enfim, está – literalmente – em todo o lado. E, curiosamente, nunca – mesmo nunca – é nada com ele. São os outros. É o sistema. O sistema que ele conhece, por dentro, como poucos. Muito poucos.

Mas não é nada com ele.

Rigorosamente nada.