Isto anda tudo ligado embora suspeite que os animais que estão ao colo não têm culpa nenhuma. Em todo o caso, centrando o debate onde mais importa, parece-me provável que neste contexto o Chega vá ter na CML o seu primeiro desastre eleitoral. Das duas uma, ou não elege vereadores ou elege Graciano o que, a bem dizer, ninguém pode vender como uma vitória. Estou de resto convencido que até o próprio Ventura votará Moedas sem dizer nada a ninguém.
Então e a lista de jornalistas prometida?
No meio de toda esta pandemia não se consegue estar atento a todas as notícias. Por isso deixo a pergunta: o Expresso já publicou a famosa lista de jornalistas avençados do BES? É para um amigo…
Rui Rio, o amordaçado líder da oposição
Quando confrontado com a expressão “democracia amordaçada”, utilizada recentemente pelo mesmo Cavaco que tentou amordaçar a arte de Saramago, Rui Rio afirmou que “não iria por aí”. Mas foi bom senso de pouca dura. É que, imediatamente a seguir, num acto de calimerismo político que não é novo, Rio queixou-se da falta de comentadores afectos ao PSD, indo mais longe e afirmando “Identifiquem-nos já comentadores que não sejam afetos ao PS”, transportando a discussão para o patamar da demagogia barata.
Em 2019, um trabalho jornalístico de Paulo Pena revelava já que, apesar da maioria de esquerda existente no parlamento, a representatividade dos partidos de direita no comentário televisivo era bastante superior à dos partidos de esquerda. Era, no fundo, desproporcional à sua representação parlamentar, sendo que, nessa óptica, o CDS surgia como o partido mais beneficiado, sendo o PCP o mais prejudicado. A tal comunicação social controlada por comunistas.
Uma década depois da Geração à Rasca
Faz hoje dez anos que muitos de nós ocuparam as principais ruas do país e da diáspora, naquele que foi o primeiro grande protesto contra a precariedade, organizado por fora das estruturas habituais. O que começou na Geração à Rasca continuou na Plataforma 15 de Outubro, na Acampada do Rossio, na Primavera Global e por fim na plataforma Que Se Lixe a Troika. Estou convencido que cada um destes movimentos, com méritos e defeitos próprios, nasceram todos neste dia e fazem todos parte de um movimento mais amplo a nível internacional, que esteve nas acampadas de Madrid, de Wall Street ou na ocupação da praça Tahrir, no Egipto, e marcou, de forma indelével a última década da resistência. Em Portugal não se teria derrubado Sócrates tão cedo e a Troika da Pàf talvez tivesse durado mais um governo. Não sabemos, mas sabemos que ninguém se arrepende de ter dado o corpo ao manifesto.
Os liberais que afinal são estatistas
Desde que começou a pandemia, um ataque comum aos liberais é tentar provar que estes afinal querem que o Estado exista. Uma semana já não é a mesma coisa se não for dito que afinal os liberais gostam do dinheiro do Estado. Lembro-me de uma intervenção do género do primeiro-ministro dirigida a João Cotrim Figueiredo e, mais recentemente, um artigo de opinião no ECO de Pedro Sousa Carvalho. Será que os liberais afinal querem que o Estado exista?
Sim, querem. Se não quisessem, não eram liberais. Esta estratégia usada pela esquerda para descredibilizar os liberais e também usada pela direita magoada por não os ter atrelados é muito fácil de explicar. Criam a ideia que os liberais não querem o Estado para nada e atacam esta mesma ideia que inventaram cada vez que se fala em Estado. Basicamente, os liberais não são refutados, mas sim aquilo que gostavam que os liberais defendessem para facilitar. O liberalismo ainda é muito desconhecido neste canto da Europa e isso justifica a facilidade com que se mete palavras na boca de quem nunca as disse. Qualquer dia, inventam que os liberais querem é acabar com a saúde pública e a educ… Não, isso já fazem.
Afinal, o que querem esses perigosos liberais? Querem um Estado forte, mas pequeno. Um Estado que proteja as liberdades individuais, social e economicamente. Um Estado que garanta um acesso universal à saúde e à educação, mesmo que não seja sempre o prestador, colocando a escolha do cidadão em primeiro lugar. Uma justiça independente, ao serviço dos cidadãos e não do Estado. Um Estado que estimule a criação e a inovação em vez de ser um entrave, através de cargas fiscais que fazem corar os nórdicos e burocracias ao estilo caricaturado pelos Gato Fedorento no “Papel? Qual papel?”. Um Estado preparado para apoiar os mais vulneráveis, garantindo a igualdade de acesso às oportunidades. Um Estado com menos intervenção na economia, garantido que temos uma economia capitalista e não uma economia amiguista, em que conta mais ter um primo na Câmara Municipal do que ser o melhor empresário da tua terra. Um Estado transparente e que valorize a separação de poderes, diminuindo assim a corrupção pela raiz. Um Estado que garanta que nenhum indivíduo é discriminado pela sua natureza. Um Estado que dê liberdade de escolha aos cidadãos no que à vida privada diz respeito. Resumindo, um liberal defende que todos os cidadãos devem ser tratados com dignidade e que devem ver as suas liberdades respeitadas, sem condescendências ou paternalismos.
Os socialistas dizem que os liberais vivem numa fantasia – Estónia e Irlanda riram-se – quando defendem que são medidas liberais que ajudarão Portugal a crescer, mas que se tornam estatistas com a realidade. Será assim?
Os liberais, ao contrário de quem afirma isto, vivem na realidade. Ao contrário do que os socialistas fazem com as suas ideias, qualquer liberal admite facilmente que o liberalismo não é perfeito. Um liberal não tem como maior ambição provar que estava certo ou enriquecer à custa dos contribuintes, porque se fosse para isso mais valia ser do PS. O que um liberal quer é dar a oportunidade às pessoas de melhorarem a sua vida e… tem resultado. O objetivo não é provar à força toda que Friedman ou Hayek estavam certos, mas sim adaptar estas ideias à nossa realidade. E como os liberais vivem com os pés no chão, sabem que os portugueses têm um enorme esforço fiscal e que o Estado português não se pode queixar de falta de dinheiro dos contribuintes nos seus cofres. Se este dinheiro não serve para apoiar pessoas numa pandemia, para que serve o Estado então? Sustentar companhias aéreas e bancos falidos? Pagar o café com cheirinho da comitiva?
Quem está a falhar com a sua missão é o Estado. E num país que tem um Estado tão pesado na vida das pessoas, esse falhanço é ainda mais grave. Quando um liberal defende, por exemplo, que alunos do privado e do público sejam tratados da mesma forma pelo Estado, não está a ir contra os seus princípios. Quem o acha é que está a colocar a sua ideologia acima da vida das pessoas. Ora, quando eu andei num colégio de freiras, os meus pais deixaram de pagar impostos? Não. Não deixaram. O problema é que o Estado tem um produto e faz fita quando poucos o querem. Sim, porque ao contrário de um socialista, um liberal não pretende criar o sistema de privado para ricos e público para pobres. Se todos os cidadãos cumprem com o seu dever, também devem ser tratados de igual forma. Caso contrário, confirma-se que temos um país e dois sistemas. Um país em que, como cidadão, tens de ficar em casa, mas como militante, podes ir a aniversários partidários.
O que o Estado está a fazer às pessoas, e espero que um dia se olhe para isto como erro a não repetir, é amarrar a população. Não deixa as pessoas trabalhar e, com a mesma facilidade, também não as apoia. Alguns, do alto da sua arrogância, até ridicularizam dizendo que afinal sempre é necessário o Estado. Isto é o mesmo que eu querer ir trabalhar, a minha mãe dizer que não, eu pedir-lhe dinheiro e ela exclamar: Vês como não és nada sem a tua mãe?
Quanto mais pobres estamos, mais desesperados ficamos. E este desespero leva à vulnerabilidade que é instrumentalizada por populistas que encontram um inimigo comum e por medidas milagrosas de redistribuição que colocarão o Ronaldo e um colega meu do Cerco com a mesma qualidade de vida em 3 dias. São piores que os moços com dobragens terríveis das televendas. Esta iliteracia financeira em Portugal reflete-se, por exemplo, no facto de um partido liberal apenas ter assento parlamentar em 2019, sendo um dos únicos países europeus que ainda não tinha. Também temos um dos maiores partidos comunistas da Europa, a par de países como a gloriosa Grécia. E não conseguimos resistir à evolução da direita populista que está a causar divisões sociais graves no leste europeu.
Os liberais não viraram estatistas. Os liberais, simplesmente, sabem que existe diferença em apoiar alguém que perdeu tudo devido à pandemia ou financiar as empresas dos amigos que “não podemos deixar cair”.
Os liberais pretendem criar pontes e permitir que os cidadãos possam confiar no contrato social, com um equilíbrio entre as liberdades positivas e negativas. Ao contrário deste sistema em que as pessoas votam e são afastadas quatro anos da política.
O Estado traiu a população. O Estado não cumpriu a sua função.
Com que direito se decreta a perversidade?

Mulheres afegãs assistindo a um evento no dia mundial da mulher. Foto: AFP
Foi noticiado hoje:
As raparigas e mulheres jovens no Afeganistão estão proibidas de cantar em público. O Ministério da Educação afegão decretou que mulheres jovens e raparigas com mais de 12 anos não podem cantar em público – nem sequer o hino nacional.
A decisão do Ministério da Educação é vista como uma concessão aos Talibãs, que, de acordo com um novo plano de paz que recentemente se tornou conhecido, deverão estar envolvidos num próximo governo.
As mulheres vão pagar um preço brutal pela paz com os Talibã. Não poder cantar em público pode ser apenas o início das muitas violações de direitos humanos que se vislumbram.
Onde nasce e de que se alimenta todo este ódio às mulheres?
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