A conferência de imprensa de Sérgio Conceição: precipitações e choradeira

Foto: DailyMail (https://bit.ly/38vmMtM)

Schwer… Est tut weh.
Pinchas Zukerman

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Anteontem, o FC Porto eliminou a Juventus e qualificou-se para os quartos-de-final da edição deste ano da Liga dos Campeões. Eliminada a Juventus e depois dos festejos, Sérgio Conceição, actual treinador do FC Porto, fez-se acompanhar por um assessor e dirigiu-se à sala de imprensa de Lo Stadium, para responder às perguntas dos jornalistas, através da plataforma Zoom. Passados 37 segundos, não havendo perguntas, o assessor e o treinador do FC Porto foram à vidinha deles, mas essa precipitação desencadeou outras precipitações.

Há cerca de cinco semanas, tive uma reunião de trabalho às 10 da manhã, via Teams. Duas horas antes da reunião, liguei o computador e este começou a actualizar-se. Fui tomar um café e arrumar uma papelada. Passados 30 minutos, regressei à máquina, mas a actualização ainda ia nos 7%. Rapidamente percebi que não iria ter aquela reunião naquele computador. Aliás, nem naquele, nem em qualquer outro, devido às restrições de circulação. Peguei no telemóvel e criei um grupo no WhatsApp, enfiando lá para dentro os colegas que participam no meu projecto. Ouvidas as instruções técnicas, instalei uma aplicação no telemóvel e, às 10 da manhã, como previsto, estávamos todos reunidos. O meu computador, lentamente, continuava entretido nas suas actualizações. Um colega fez o favor de passar os meus diapositivos e eu lá os fui explicando, enquanto me desenvencilhava com o telemóvel. Mas o mais importante de tudo foi o problema ter ficado resolvido. Podia dar outros exemplos meus e não só. Na vida a sério, convém encontrar soluções, aprender com os problemas que vão aparecendo e não perder tempo com choradeiras, como as dos meninos mimados da bola.

Ontem de manhã, cerca de 12 horas depois da conferência de imprensa, li quer a notícia, quer o pathos dos calimeros do costume, com queixinhas, porque ninguém quer saber do FC Porto, coitadinho. Perguntei, num grupo de amigos em que há portistas, benfiquistas, arqueólogos, professores, advogados e até um sportinguista, se não era estranho os santinhos dos jornalistas d’O Jogo e do Jornal de Notícias não terem perguntas a fazer a Conceição (o Porto Canal já fizera, presencialmente, as suas perguntas ao treinador do FC Porto). E, tão ou mais importante, por que motivo não era ponderada a hipótese de ter havido um problema técnico, por exemplo, com a ligação do Zoom.

Durante a tarde, uma simples procura em órgãos de comunicação social francófonos

En premier lieu et selon nos informations, beaucoup de journaux portugais n’auraient pas reçu le lien zoom de l’UEFA pour participer à la conférence de presse.

e germanófonos

Doch als sich dann beim Meeting über Zoom auch keine portugiesischen Medienleute an ihn wandten, dürfte den früheren Nationalspieler dann doch verwundert haben. Wie nachher bekannt wurde, waren für die Absenz seiner Landsleute technische Gründe verantwortlich.

confirmou as minhas suspeitas.

Ao serão, recebi a notícia em português:

E aqui é que esteve o problema: o link de zoom enviado era igual ao link da conferência antes do jogo de Pirlo. Ou seja, provavelmente por um lamentável engano, a Juventus enviou para os jornalistas portugueses o link para o zoom pré-jogo e não o link para o zoom pós-jogo.

O assessor e o treinador do FC Porto, em vez de despacharem o problema com aquele ar de enfado, deveriam ter criado (ou incumbido alguém da tarefa de criar) as condições para um normal desenrolar da conferência de imprensa no final do jogo, apesar de a responsabilidade técnica ser do clube da casa. Isto é, (pelo menos) meia hora antes de acabar a partida, alguém do FC Porto deveria ter ido verificar com os homólogos da Juventus se os órgãos de comunicação social portugueses convidados estariam prontos para intervir, nestes tempos em que a comunicação (aulas, conferências, palestras, reuniões) é feita à distância, com necessidade de mais preparação e sem grande margem para o improviso.

Pessoalmente, estou-me nas tintas para as conferências de imprensa de treinadores de futebol, a não ser que tenham interesse linguístico. O futebol, comigo, é no campo. Todavia, convém que quem condena a propaganda no mundo real não ceda à propaganda futeboleira, transformando a incompetência ou a distracção da Juventus e do FC Porto noutra coisa qualquer. A culpa, frequentemente, não é dos outros. Jogai mas é à bola.

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Comments

  1. Paulo Marques says:

    Exacto, a culpa é sempre de quem não tem nada a ver com o assunto. Lembre-se disso quando lhe disserem que não perceberam nada da apresentação.

  2. Filipe Bastos says:

    É natural alguém de letras como o Valada ficar orgulhoso por ultrapassar um problema ‘técnico’, e é sempre bom confirmar tudo, ser desenrascado, etc.; mas neste caso todos ganharam:
    — menos umas perguntas parvas;
    — menos umas respostas cretinas;
    — menos uns minutos de Conceição mete-nojo;
    — mais uma prova da Grande Conspiração Anti-Porto;
    — mais uma oportunidade de choradinho tripeiro-futeboleiro.

    Quem nos dera o mesmo em todas as conferências e todos os ‘debates’ da bola. Seria um mundo melhor.

  3. Rui Naldinho says:

    ESTA PANDEMIA É SODA!
    (Podem trocar o S por um F, se quiserem. Soa melhor)

    Esta pandemia teve a lata de “encovidar” Jesus e meia equipa do Benfica, ao ponto de os colocar fora da Liga dos Campeões e da Liga Europa.
    Deixou o Conceição à beira de um ataque de nervos, depois deste nos garantir que 11 contra 11, o Sporting de Braga levava 5 ou 6. Acabou a perder por 3-2, com o mesmo clube, jogando meia parte com mais um jogador do que o adversário.
    Colocou o Sporting, o eterno terceiro, quando não em quarto, o sempre adiado candidato, a um passo de conquistar o título que lhe foge nos últimos 19 anos.
    Agora por manifesta ausência dos jornalistas nas salas de imprensa, fruto do distanciamento social exigido às partes, limita a comunicação entre os interlocutores a uns quantos links, cujo acesso depende da arbitrariedade de um informático não distraído.
    Não, decididamente o futebol e os seus agentes não estão preparados para pandemias.

  4. Luís Lavoura says:

    O assessor e o treinador do FC Porto deveriam ter criado as condições para um normal desenrolar da conferência de imprensa

    Eles provavelmente não sabem fazer isso, nem têm nada que saber. A sua função é jogar futebol, não é fazerem arranjos técnicos em computadores.

    Cada pessoa tem a sua profissão e especialização. Eu dou aulas por zoom, mas não percebo nada de zoom, nem é minha obrigação perceber. Se o zoom funciona, muito bem, se não funciona, não sei o que faça.

    • Paulo Marques says:

      Não sabe? Oferece um iPhone já configurado ao aluno para fazer a chamada, não pode deixar o trabalho correr mal, Luís. Afinal, vive para o quê?