Por Nuno Gouveia
Parabéns aos resistentes da blogosfera. A começar pelo Aventar, um dos principais blogues do inicio da década passada que ainda se mantém em atividade. E efervescente. Confesso que, como muitos outros, depois de ter deixado de escrever regularmente em blogues também deixei de ser leitor regular dos resistentes, como é o caso do Aventar, mas também de outros como o Delito de Opinião, o Insurgente ou o Blasfémias, só para citar alguns dos mais antigos ainda em actividade. Bem diferente de há 10 anos, quando passava parte do meu tempo livre a escrever e ler blogues. Entre 2008 e 2013 participei em diferentes blogues, como a Revista Atlântico, o 31 da Armada, o Cachimbo de Magritte ou o Era uma vez na América. Isto quando não dava uma “perninha” em blogues de campanhas políticas, como o Jamais ou o Papa Myzena, ou também analisando comunicação política, no “imagens de Campanha” ou até debatendo futebol, um tema eminentemente aborrecido de discutir – não de ver, claro – no Catedral da Luz.
Conforme se pode observar pelo meu “cadastro”, estive vários anos muito activo em blogues, mas a pouco e pouco, fui abandonando este cluster digital. Bem sei que os blogues não desapareceram e alguns até permanecem bem activos e influentes. Mas a novidade foi desaparecendo bem como a capacidade de influenciar o debate público e com a emergência das redes sociais, especialmente do Twitter, outros espaços foram assumindo o significado social que era anteriormente ocupado pelos blogues. Curiosamente, o Twitter em Portugal continua a ter uma particularidade distintiva que caracterizava os blogues nessa fase (e diria que ainda se mantém actual): a sua abrangência reduzida e a forte incidência no mundo político. Nessa altura, quando escrevíamos em blogues, sabíamos perfeitamente que os seus leitores não eram muitos nem que a sua mensagem chegava a muita gente. Mas eram lidos sobretudo na bolha “política”, o que fez com que rapidamente surgissem muitos blogues identificados com um partido ou uma determinada corrente política. O Aventar sempre foi uma das poucas excepções, pois nunca pretendeu fazer parte destas “guerras” (talvez esteja aí uma das razões da sua longevidade), mas a regra eram blogues de direita, de esquerda ou até de facções partidárias. Foi um tempo de grande guerrilha entre esquerda e direita, entre socráticos e não socráticos, onde até direita e esquerda se juntaram para organizar uma manifestação – fez há um mês dez anos da grande* manifestação “Todos pela Liberdade”.
Penso que todos os que viveram esse período de forma intensa terão alguma nostalgia, pois fizeram-se grandes amizades (e inimizades) e debates profundos, nem sempre sobre política. Mas a emergência de novas realidades não pára e veja-se a voracidade com que surgem novas ferramentas digitais que vão ocupando os mais novos: do tik tok adolescente ao Clubhouse mais adulto, há sempre novas ferramentas ao virar da esquina.
Não sei se podemos dizer que houve uma década dourada da blogosfera portuguesa, mas apostaria naqueles anos entre 2003 e 2013. Eu, conservador que sou, não substituiria os blogues por nada que lhe seguiu na era digital, sejam as diferentes redes sociais ou até os podcasts. Mas parece-me que o tempo não volta mesmo atrás e nem eu nem os blogues voltarão àquele inicio de década passada. Apraz-me que o Aventar ainda esteja por cá a escrever a sua história e continuar a fazer parte da história da blogosfera portuguesa. São como sempre foram: um grupo livre e heterogéneo de autores, das mais varias origens ideológicas. É assim que vale a pena.
*na verdade, foi bem pequena, penso que terão estado pouco mais de 100 pessoas, apesar de ter reunido alguns milhares de assinaturas
Obrigado Nuno.