Socialistas ocidentais desunidos dos socialistas ucranianos e russos

Vladyslav Starodubcev, líder da ala esquerda do “Sotsialniy Rukh” dá uma entrevista esclarecedora ao “Business Insider” sobre o que o opõe ao neoliberal Zelensky e, muito particularmente, o que o separa das esquerdas ocidentais, europeias e norte-americanas.

Sendo um forte opositor à desregulamentação do mercado de trabalho levado a cabo por Zelensky e, mais recentemente, contra a suspensão de 11 partidos por usarem na sua designação palavras como “progressista”, “esquerda” ou “socialista”, apoia agora, perante as circunstâncias, o presidente, particularmente por considerar que ele conseguiu unir o país através da sua experiência mediática.

Perante a invasão de Putin a sua posição é muito clara: “Fico na Ucrânia porque quero participar na defesa do meu país e ajudar as pessoas que precisam. Se a Ucrânia foi ocupada, temos de resistir a essa ocupação.”

E é exactamente sobre este aspecto que diverge frontalmente de algumas esquerdas europeias e norte-americanas chegando ao ponto de afirmar que “’Russian leftists are less pro-Russian than Western leftists’”!
O que o leva a proferir uma tão forte afirmação? Simples, enquanto certos socialistas ocidentais, que ele não hesita em nomear – o “Democratic Socialists of America”, o “Podemos” em Espanha e o “Stop the War Coalition” na Grã-Bretanha – não compreendem que, apesar de a Nato ter sido muito pouco cautelosa e até displicente, o que agora está em causa é a invasão da Ucrânia e a sua sobrevivência como país independente! Consequentemente, Starodubcev considera “estúpida” a posição desses partidos ao oporem-se a que o Ocidente ajude a Ucrânia com armamento para se defender da agressão imperialista de Putin!
Não ceder armamento por considerarem que pretendem sabotar a guerra, na verdade, entende o entrevistado, o que estão a fazer é a ignorar que os “ucranianos estão a lutar pela sua vida, pela sua independência”.
Por outro lado, pensa que, se a esquerda ucraniana se demitir de lutar contra a agressão imperialista de Putin, deixará a direita e a extrema-direita sozinhas a combater o invasor, entregando-lhes o monopólio do patriotismo em tempo de guerra.

Sobre o Donbass afirma que tanto o partido comunista ucraniano como os socialistas lutaram contra a política neoliberal de Zelensky, bem como contra a ostracização daquelas populações, mas que a partir da invasão imperialista de Putin, todos esses partidos, tanto ucranianos como russos, se manifestaram contra sem qualquer reserva.

Relativamente à campanha levada a cabo por Zelensky para envolver a Nato no conflito, seja através da criação uma zona de interdição aérea, seja a enviar tropas, Starodubcev opõe-se com veemência, entendendo que se trata de acções de promoção pessoal do seu presidente.
Nesse contexto, não hesita em afirmar:
“The country does not need any foreign military boots on the ground or NATO planes in the sky. It “needs fighter jets and anti-air equipment to defend its cities from bombs and rockets,”. I think that Ukraine can hold — if it would have enough guns.”

Comments

  1. Paulo Marques says:

    O posicionamento dessa esquerda, segundo percebo, é feito numa má leitura de Lenin aplicável a uma situação bem diferente. Um levantamento das massas para a criação do socialismo quando este não tem representação política não vai acontecer, pelo que há que aceitar o menos mau.
    E o menos mau, que o entrevistado não quer admitir como practicamente inevitável, é a tomada do poder por mais uns “democratas iliberais” a particionar o país aos “investidores”. Mas é o que há.

  2. estevesayres says:

    GUERRA DO POVO À GUERRA IMPERIALISTA!
    INDEXAÇÃO MENSAL DOS SALÁRIOS E DAS REFORMAS À INFLAÇÃO A PARTIR DE JANEIRO!
    De um governo servil em relação ao imperialismo não se poderia esperar outra coisa que não fosse secundar caninamente os actos e papaguear o discurso, fosse ele qual fosse, dos seus amos. Mas não perceber imediatamente (ou fingir que não percebe) o que os seus actos acarretariam para o povo português, e só agora precisar de “ir estudar” medidas para “apoiar as famílias mais vulneráveis” é o cúmulo da falta de escrúpulos.
    Vai certamente ter em conta a ameaçadora “resposta à crise” de certos sectores (para já o cerâmico e o têxtil) de enviarem de férias/banco de horas os operários. Toda a gente sabe que essa prática costuma ser a antecâmara do despedimento quando se trata de uma empresa individual isolada.
    Agora não é! Antes é uma táctica concertada de sector visando obter especiais benefícios para esse sector. As transportadoras já obtiveram pleno êxito com a ameaça de emprego de táctica semelhante. Tinham a vantagem de actos anteriores, bastou-lhes agora ameaçar. E, ao contrário do que a acção parece mostrar, nestes sectores quem já tinha vantagem na concorrência internacional, como é o caso da quase totalidade do sector cerâmico e de uma parte importante do sector têxtil, vai aumentá-la e quem não a tinha, vai passar a tê-la principalmente por cancelamento político dos concorrentes. A questão aqui é outra, não é o risco de falência a curto prazo desses sectores, é a disputa dos dinheiros do PRR por quem acha que tem argumentos audíveis. E com uma vantagem paralela: uma justificação para a paralisia dos sindicatos traidores na luta de classes e o concomitante domínio da caridadezinha no “apoio às famílias mais vulneráveis”.
    Como toda a gente já percebeu as sanções à Rússia não passam de uma forma de fazer recair sobre o povo os custos da guerra em curso e da ocupação do nosso país pela NATO. Não importa as explicações que os especialistas de serviço dão para a actual subida exponencial dos preços se, na prática, o resultado final é uma nova distribuição da riqueza disponibilizada pelo trabalho em que só parasitas (capitalistas da indústria, da banca/seguros e terratenentes) beneficiam ao mesmo tempo que a vasta massa proletarizada do povo é atirada para a miséria e a fome. Em resumo, o que chamam de sanções à Rússia traduz-se unicamente por sofrimento para o Povo e aumento exponencial de lucros e rendas para o capital imperialista.
    As actuais sanções económicas à Rússia são, da facto, um acto de guerra contra todos os povos: o russo, o ucraniano, o português e todos os outros que vão sofrer nas suas vidas as consequências. O governo Costa ao subscrevê-las com entusiasmo mostra quão fantoche é nas mãos da canalha imperialista e quanto despreza quem diz representar.
    A luta de classes estava escondida pelo marketing da burguesia atrás de uma romanceada luta nacionalista, mas logo voltou ao palco principal.
    AUMENTO EXTRAORDINÁRIO IMEDIATO DE 50€ DO SALÁRIO E DAS REFORMAS DE TODOS OS TRABALHADORES!
    INDEXAÇÃO MENSAL DOS SALÁRIOS E DAS REFORMAS À INFLAÇÃO A PARTIR DE JANEIRO!
    SEMANA DAS 35 HORAS!
    SUBSÍDIO DE DESEMPREGO IGUAL AO SALÁRIO INDEXADO POR TODO O TEMPO QUE O DESPEDIDO SE ENCONTRE DESEMPREGADO!
    NATO FORA DE PORTUGAL!
    NEM UM SOLDADO, NEM UMA ARMA PARA AS GUERRAS IMPERIALISTAS!
    GUERRA DO POVO À GUERRA IMPERIALISTA!
    VIVA O INTERNACIONALISMO PROLETÁRIO!
    18Mar2022 O Comité Central
    (retirado do jornal online Luta Popular)

  3. POIS! says:

    Bem, mas esta gente…

    Acha que a NATO, de vez em quando, passa a virtuosa porque há uma agressão em curso? E que se “abre” quando dá jeito e “fecha” quando já não é precisa?

    Está mesmo à espera de ser defendida pela NATO?

    E que é o “Podemos”, o “Democratic Socialists of America” ou o “Stop the War Coalition” que estão a impedir a NATO de atuar?

    Que os EUA não deixam a NATO atuar por causa dos “pensamentos” da malta do “Podemos” e etcetras?

    Que é por essas forças “se oporem” que não recebem armas lá na Ucrânia? E se as receberem, garantem que duram o tempo mínimo para serem usadas, ou desaparecem logo debaixo de um míssil?

    Acham que aquela novela dos aviões polacos se deu por causa da atividade de algum pacifista? (Apostava que, se tivessem mesmo chegado à Ucrânia não levantavam mais. É cá um palpite…).

    PS. Não se tivesse isto transformado no “twitaventar” e eu contava um “encontro imediato” que tive com a NATO, há uns anos, numa sala “de aulas” da então Escola Prática de Infantaria, numa sessão dinamizada por um graduado português que ostentava nas costas do dolman uma espada dentro de um escudo sob a divisa “Follow Me”.

    Mas ao ritmo “saltwitante” a que isto anda, não me dou ao trabalho. Os propagandeiros de serviço arranjam logo motivo para um post a falar de girafas pintadas de ucraniano, extremo esquerdistas a devorar ovas de carapau a fingir caviar ou tipos se extinguem quando o despertador chega às dez da noite (não admira que percam por falta de compar~encia…)

    • POIS! says:

      E só mais uma coisa: a “suspensão” dos 11 partidos não tem importância nenhuma?

      Nenhuma mesmo?

      • Carlos Araújo Alves says:

        Tem a importância que ninguém quer dar! Suspendeu todos os partidos sob acusação de serem pró-russos, deixando apenas o liberal e o de extrema-direita.
        Acho que toda e qualquer pessoa sabe o que isso quer dizer.

        • POIS! says:

          Acho que ficaram mais.

          Pelo menos o do “boxeur”, o do judoca, e o do “wrestler” acho que ainda estão ativos. E o do halterofilista vai a caminho.

      • Paulo Marques says:

        Claro que não, é tudo muito conhecedor dos partidos e de como uma única pessoa é representadora de todos eles.
        Já que é para falar do twitter 😛

    • Paulo Marques says:

      Não me pareceu isso que lá está, mas apenas e só um pedido de continuação da ajuda possível porque é a alternativa possível.
      Isso é mais dos delirantes com os delírios do novo grande líder que ainda há pouco, por muitas boas razões, era impopular.

      • Carlos Araújo Alves says:

        Deixo excertos sobre a posição deste partido noutros domínios:

        “Recently, the National Defence and Security Council decided to temporarily suspend the activities of a number of Ukrainian political parties. The list includes both major opposition parties and lesser-known ones that use the words ‘progressive’, ‘left’ or ‘socialist’ in their names. Ukraine President Volodymyr Zelensky accused them of “connections with Russia” but did not back the claims with any legal basis.”

        “Nevertheless, any possible cooperation of the aforementioned organisations — as well as of their individual members — with Russian imperialists has to be investigated, and tried in court. People involved in sabotage of the popular resistance have to bear individual responsibility for their actions. We recognise the importance and symbolism of democratic freedoms and believe that indiscriminate party bans have no place in today’s struggle.

        We have already seen how the government tried to abuse the situation of war to attack the labour rights of Ukrainian workers — now its actions are aimed at limiting political and civil freedoms. We cannot support this.”

        Portanto, condenação total da suspensão de todos os partidos de esquerda e de centro.

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