Vladimir Putin e o Padrão dos Descobrimentos

No meio de tanta desgraça, de tanto sofrimento, destruição e morte, há quem não tenha mais o que fazer do que incitar ao ódio numa das suas versões mais imbecis, apelando ao boicote de Tolstoi e Tchaikovsky, insultando emigrantes russos que, na sua maioria, saíram do país para escapar ao regime de Putin, e até, imagine-se, a normalizar o bullying a crianças russas. Como se algum deles tivesse alguma coisa a ver com Vladimir Putin.

O que vem a seguir?

Destruir todos os bares, restaurantes discotecas e supermercados que vendam vodka?

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Também tu, Kim Jong-un???

Primeiro pensei que era coisa do Inimigo Público. Depois vi que era do Sapo:

O norte-coreano Kim Jong-un terá negado a ajuda de Vladimir Putin na invasão da Ucrânia, dizendo-lhe que a Rússia é “muito doida”. A alegação ocorre quando a invasão russa em solo ucraniano chegou à estagnação, com relatos de um furioso Putin a considerar recorrer ao ‘plano B’ – armas não convencionais.

O grupo Mercan, um hotel no Porto, os vistos Gold e o restaurante Nova Luanda


Na foto, podemos ver as obras de construção, no Porto, do futuro Belas Artes Hotel do grupo Mercan, entre o jardim de S. Lázaro e a Batalha e quase em cima do restaurante Nova Luanda e da habitação que o sobrepuja.
Tudo bem, a Câmara Municipal emitiu a respectiva licença. Tudo legal. Ou não fosse o município de Rui Moreira um velho parceiro de negócios do grupo Mercan (a Selminho não estava disponível?)
Não percebo nada do mundo dos negócios. Mas vejo que o Mercan é um grupo com sede no Canadá, cuja principal actividade é a consultoria a nível de imigração. Está especializada nos sectores da imigração, investimento e recrutamento de estudantes e trabalhadores estrangeiros.
Não percebo realmente nada do mundo dos negócios, mas consigo ver que o futuro Belas Artes Hotel aparece publicitado como um investimento de grande valor pela empresa Mercadia Cambodia. Esta parece fazer parte do grupo Mercan e tem a sua sede em Phnom Penh, no Cambodja.
Os eventuais interessados em investir no projecto, cujo custo total ultrapassa os 15 milhões de euros, terão de desembolsar 350 mil euros. A grande vantagem apontada é a possibilidade de aceder ao Golden Visa Portugal 2022. Ou seja, os famosos Vistos Gold.
São 44 os investidores previstos.

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Bloco de Esquerda e o rabo de fora…

O Bloco de Esquerda decidiu unir-se ao Podemos (Espanha) num movimento internacional criado por este com o objectivo de evitar o envio de armas à resistência ucraniana. A primeira surpresa: ver o Bloco de Esquerda a unir-se a um partido que em Espanha tem feito e dito, sobre a invasão russa da Ucrânia aquilo que o Bloco critica ao PCP. Um cheirinho a hipocrisia, não? Então, cá dentro critica o PC e lá fora une-se com os que dizem/defendem o mesmo que o PCP. Hummm, parece que estou a ver ali no canto um rabo de fora…

(estas linhas da notícia são uma delícia: El pasado lunes, Podemos celebró que los comunistas portugueses del Bloco de Esquerda se hayan sumado a la iniciativa. Esta entente sirve a Podemos para posicionarse en el tablero internacional y ganar espacio en la política interna)

A segunda surpresa: não enviar armas para os resistentes ucranianos cujo seu país está a ser invadido pela Rússia de Putin. Entendem que o esforço deve ser todo concentrado na busca pela paz. A paz é o que todos queremos, sejamos de esquerda, de direita ou candidatos a Miss Universo. Só que, para que a paz exista é preciso que todos a desejem. Putin quer a paz? Quer, mas só depois de ter conseguido matar todos os ucranianos que desejem ser ucranianos e não russos e depois de ter destruído toda a Ucrânia. Até o conseguir, não teremos paz. E os ucranianos, querem a paz? Querem. Querem o seu país livre de forças militares ocupantes e com isso, existirá paz. É assim tão difícil perceber a realidade? Depois de os russos terem invadido a Ucrânia a paz só é possível se eles regressarem a casa. A partir do momento que entraram e começaram a matar e destruir como raio se ontem a paz sem recuarem? A paz só não a quer quem vende armas ou quem for chalupa. Todos a queremos. O problema é como a obter.

Para uns, a paz só se consegue se as tropas russas regressarem a casa e aí as partes se sentarem a negociar a dita. Para outros, não chega. Será necessário Putin ser corrido ou morto. E depois temos os líricos que entendem que a paz se obtém com a rendição dos ucranianos (não sei se pensavam o mesmo em 1939 ou na ocupação de Timor). E depois temos os sonhadores, que acreditam em unicórnios e que com músicas e corações desenhados a coisa vai lá.

Por último, temos os hipócritas. Os hipócritas estão do lado de Putin mas sabem que afirmar isso prejudica a sua imagem e o seu negócio (os votos) e então defendem coisas que não lembrariam nem aos terraplanistas: somos pela paz e por isso o caminho é não fornecer armas aos ucranianos. Ou seja, traduzido, se os ucranianos não tiverem armas a paz é garantida. Pois é. Após serem assassinados e o seu país totalmente destruído, só fica uma das partes. E assim temos paz. A paz dos agressores e a morte dos oprimidos.

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Como chegamos à invasão da Ucrânia – opinião de John Mearsheimer

John Mearsheimer, reconhecido académico da Universidade de Chicago, é um dos principais representantes da “escola neorealista” em Relações Internacionais da actualidade, que se contrapõe à escola do “Liberalismo Internacional”, defensor da teoria “offensive realism” das grandes potências.
Apesar de eu ser de opinião de que o responsável pela invasão da Ucrânia é Putin, de achar que, de momento, o que mais me deve preocupar é o fim da guerra e a busca de um cessar-fogo imediato até que as negociações sejam concluídas, de modo a impedir um ainda maior massacre de civis, continuo a tentar ser livre para ler e ouvir opiniões fundamentadas, mesmo que possa estar em desacordo com elas, total ou parcialmente. É o caso deste vídeo, onde John Mearsheimer expõe as suas opiniões e respectivos fundamentos históricos e geo-políticos à luz da política das grandes potências.
O conhecimento não faz mal! O que faz mal é o uso que lhe podemos dar.

Durão Barroso, especialista em invasões

Se eu estiver enganado, por favor, corrigi-me, mas o Durão Barroso não apareceu aqui há dias a comentar a invasão russa? Faz todo o sentido – Durão sabe o que é estar ao lado de gente igual ao Putin, gente que inventa pretextos para invasões, guerras que nunca deveriam ter começado, como a maior parte das guerras.

Antes que alguém se distraia (e mesmo assim, nunca irei a tempo de prever todas as distracções), verberar a invasão do Iraque está muito longe de corresponder a elogiar Saddam, o que serve para levar uma pessoa a pensar que, por vezes, é muito difícil escolher um lado, porque há gente odiosa de ambos os dois ou ambos os três ou ambos muitos. Mais uma nota para os distraídos: no caso da Ucrânia, é muito fácil, para já, escolher um lado. Depois, logo se vê, ainda que o Putin já não vá a tempo de se redimir, mesmo se o Ocidente que o condena tenha andado a alimentá-lo durante muitos anos, fechando os olhos com muita força, enquanto estendia a mão, era uma moeda para o ceguinho, por favor. [Read more…]

Somos todos de Esquerda ou de Direita mas….

Os mandamentos do pensamento único:

Se és de direita não te podes manifestar contra o capitalismo selvagem que prefere produzir onde os direitos dos trabalhadores são uma miragem. Se és de direita não podes denunciar os desmandos dos dirigentes dos partidos ideologicamente próximos do teu pensamento político (deve ser por isso que o PCP não pode criticar a Coreia do Norte). Se és empresário e ainda por cima de direita não podes criticar as empresas, sejam ou não tuas concorrentes, por produzir em países não democráticos com tudo o que isso significa de concorrência desleal e de asfixia aos direitos mais elementares (sejam eles laborais ou humanos). Não podes.

Caso contrário, és um sacana de um comunista. É isso? Com ou mais molho? Agora percebo melhor a posição do PCP. Realmente, não pode criticar. Porque são os seus. Uns sacanas mas são os seus sacanas. Ainda não tinha percebido essa regra. Caramba, andei eu a criticar o PSD, o CDS ou a IL de quando em vez e não podia. Raios… Tenho de colocar umas palas para ser politicamente correcto como exige o mainstream…

Uma escandaleira da nova escola

Pessoas de negócios indignadas por um administrador executivo de um grupo de empresas gerir o negócio para o qual foi contratado, é um novo perfume da nova escola liberal!
Estamos aqui, estamos todos comunistas! Liberais, sempre, mas comunistas!

É o Capitalismo, Fernando!

O meu camarada Fernando Moreira de Sá ficou chocado com as declarações do CEO do Grupo Volkswagen, que afirmou que a empresa não pode vender apenas em países democráticos. Mas a coisa consegue ser ainda mais complexa e desavergonhada. A Volkswagen, como outros gigantes dos mercados ditos livres, não se limita a vender carros aos regimes mais violentos e totalitários. Consegue ter a distinta lata de distinguir entre ditaduras do bem (China, Federação Russa, Arábia Saudita, Qatar) e ditaduras do mal (Cuba, Coreia do Norte), provando que, mais do que o regime, importa saber o preço certo em euros das multinacionais ocidentais. A este respeito, o capitalismo é uma prostituta da mesma categoria do mini-Putin que anda pelas TVs a debitar propaganda pró-Kremlin.

Grupo VW e as mãos cheias de sangue

Vou acreditar que o Observador traduziu bem o que disse o homem. Uma vergonha sem nome.

Dicionário de Guerra: Português – Correctês

À medida que a invasão de Putin avança, aperta-se o cerco da liberdade de expressão. Mas esse cerco, lamentavelmente, não se resume à trincheira do tirano russo. Aqui pelo Ocidente, à caça às bruxas está ao rubro. De maneira que quem não debita a narrativa oficial é pró-Putin, quem questiona os antecedentes da invasão é pró-Putin, quem ousa debater qualquer variável que coloque em causa a narrativa simplista imposta pelo novo politicamente correcto é pró-Putin. Assim estamos.

Ciente dos riscos que corro, decidi lançar esta pequeno dicionário, onde pode. Os ver algumas expressões correntes e o seu equivalente em correctês. Para ir actualizando.

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O Conde Ferreira e a invasão da Ucrânia – Crónicas do Rochedo #56

Nigel Farage says Ukraine invasion is result of EU and Nato provoking Putin

Olhem quem se juntou ao PCP e a outros companheiros de luta de certa esquerda portuguesa, o Nigel! Que maravilha. Por estes dias, vejo juntar-se a este belo grupo de “Putinianos dos Últimos Dias” os chalupas que acreditavam que a vacina para combater a Covid era uma estratégia do Bill Gates para nos “chipar” a todos ou que nos iam infiltrar uma cena qualquer no braço com 5G (confesso que nesta estive esperançado pois nalgumas zonas deste belo rochedo a rede de telemóvel é miserável. Não resultou, dasss). E os terraplanistas. Sim, esses também andam por essas bandas. Les beaux esprits se rencontrent….

Ver o Nigel, o Tiago e a Raquel juntos no mesmo barco fez-me olhar para a realidade com outros olhos. Quando era adolescente (no século passado) costumava juntar-me com os amigos na conversa noite e madrugada fora ali para as bandas do cruzamento da Areosa. De quando em vez surgiam umas figuras fascinantes que desciam a rua de Costa Cabral até ao cruzamento. Eram os mais rebeldes pacientes do Hospital Conde Ferreira. Escapuliam-se dos seus dormitórios pela calada da noite e vagueavam pela Costa Cabral. Uns apareciam nas Antas, outros no Marquês e os que vos falo inclinavam para a “minha” Areosa. Talvez por ser a descer. Talvez.

O que sei é que se juntavam a nós, pediam um cigarro, acendiam e fumavam o SG Filtro com o vigor e o prazer de um fruto que lhes era proibido. E falavam. Falavam muito. Para alguns, no meu grupo, era uma verdadeira conversa de doidos e afastavam-se. Para mim (e para o nosso José Mário Teixeira) não era motivo de alheamento. Pelo contrário. Nunca percebi se por um certo pudor e respeito ficava ali a ouvir. Ou, se calhar, era curiosidade. Ou ainda, como diziam, era proximidade – diz-se que os “tolos” reconhecem os seus pares. Who knows…

De repente, sem mais nem menos, partiam. Subiam em direcção ao seu hospital. E ficávamos nós a comentar esses momentos que eram sempre surreais. O mesmo surreal que sinto quando ouço os Boaventura, as Raquel e outros espíritos sobre a culpa da Ucrânia, da Nato, do imperialismo e do Sérgio Conceição na invasão russa da Ucrânia.

No fundo, continuo na mesma. Fico a ouvi-los. Bastava pedirem e até lhes oferecia um cigarro. Já não um SG Filtro pois disso não há por estas bandas. Mas um Camel dos meus. E depois, era vê-los partir. Não para o hospital, como os outros do passado século. Para o conforto dos seus sofás de couro de Professor Doutor com todas as letras numa qualquer faculdade das nossas Universidades. Só que destes tenho medo. Podem vir a ser professores da minha filha. São professores dos filhos dos outros. MEDO.

Raquel Varela: Alexandre Guerreiro, és tu?

Li algures que existem pessoas que a certa altura decidem ser do contra por ser contra. Por muito desmiolada que possa ser a sua opinião e sendo elas pessoas não destituídas de inteligência. Dizem-me que é uma defesa. Um mecanismo natural do cérebro a defender-se de uma realidade que não querem ou não podem aceitar.

Eu sempre considerei a Raquel Varela uma pessoa sensata e dotada de inteligência. Mesmo não estando de acordo com imensas das suas opiniões. Mais, há meses fui um dos que escrevi que cheirava a perseguição toda aquela história das suas habilitações académicas e os “papers” supostamente repetidos. Por isso ainda estou incrédulo com as suas atitudes, mais do que as suas opiniões, no tocante à guerra na Ucrânia. O que leva Raquel Varela a parecer um Alexandre Guerreiro de saias nesta temática?

A última foi na passada sexta-feira, no programa na RTP em que participa, “O último apaga a luz”. De repente e com um ar até um pouco estranho, Raquel Varela começou a debitar que a bombardeada maternidade de Mariupol* tinha lá dentro o batalhão AZOV e que nem sequer estava a funcionar como tal. Bem, eu das “fontes russas” já tinha ouvido/lido que o ataque à maternidade tinha sido feito não pelos russos mas pelo tal batalhão AZOV. Mais tarde, como a coisa não pegou, veio uma nova versão, afinal tinham sido eles, russos, mas a maternidade já não funcionava como tal e era poiso do batalhão dos neo nazis do batalhão AZOV. Agora, confesso, não esperava ver uma Raquel Varela, transfigurada, em fúria e de cabeça quase perdida a debitar propaganda russa. Porquê? A que propósito?

Podia ter sido um caso isolado. Podia existir um qualquer erro de percepção solitário. Quem nunca? Só que não é. É uma narrativa constante de Raquel Varela no que toca à Guerra na Ucrânia e aos ucranianos. Alguns exemplos do que tem dito e escrito:

“É completamente incompreensível o cerco e a provocação que a NATO faz à Rússia através da Ucrânia” afirmou. Raios, a Ucrânia é que foi invadida. Será assim tão difícil de entender que essa narrativa não cola? Outra: “Zelensky provocou Putin com a adesão da Ucrânia à NATO”. Santo Deus, outra vez a história “a gaja até estava de mini saia”. E continua: “O que vem aí agora: A Ucrânia vai-se sentar à mesa das negociações e aceitar os termos da negociação que a Rússia vai impor” ou  “Isto que a Ucrânia fez é completamente suicida”.

Citando Luís Ribeiro, “Morreu a mãe e morreu o filho. E continua a haver gente a dizer “Sim, mas…”. “Mas a NATO. Mas os EUA. Mas o imperialismo. Mas o belicismo. Mas os nazis.” Expliquem todos esses “mas” ao bebé que morreu antes de viver”.

*The pregnant woman in the photo has died, according to the Associated Press. Her unborn child has also died. The woman was injured in the Russian attack on the maternity hospital in Mariupol on March 9. Photo: Evgeniy Maloletka via Instagram.