André Coelho Lima numa galáxia far far away

Comentando a composição do novo governo Costa, esta manhã no Fórum TSF, o deputado do PSD André Coelho Lima afirmou que a orgânica reflecte aquilo a que o PS nos habituou, um cenário em que o governo se confunde com o partido.

A colocação de sucessores em posições-chave [do Governo] expõe uma confusão entre o que é o Estado e o Partido [Socialista]

Confesso que fiquei perplexo, com este comentário de André Coelho Lima. E não ficaria, tivesse o comentário sido proferido por um deputado de qualquer outro partido (com excepção do PS, claro). Não sei se o deputado laranja está como o seu líder – parado no tempo, numa galáxia far far away – e não percebeu ainda que o PSD não será junior partner governamental do PS. De outra forma, o que esperava Coelho Lima? Que o PS, com maioria absoluta, fosse recrutar ministros a outros partidos? O que fez o PSD, sempre que esteve no governo? Não o preencheu com os seus? Com os quadros partidários que Cavaco, Durão ou Passos consideraram mais aptos (e com toda a legitimidade, sublinhe-se)? Não colonizaram também eles a administração pública, com militantes e familiares de militantes do PSD?

Em boa verdade, diga-se, este tipo de comentário até se compreende. É que o PSD está cada vez mais longe do poder e cada vez mais próximo de partidos de protesto, de tal maneira que começa a soar como eles. Mas basta dar um salto às autarquias governadas pelo PSD, e são muitas, para ver que mais do que autarquias, há concelhos inteiros que se confundem com os aparelhos locais do PSD. O concelho da Trofa, governando pelo conselheiro nacional do PSD Sérgio Humberto, é um bom exemplo. Da colonização da administração pública local até aos inúmeros ajustes directos que pagam tudo, de iPhones até jornais ilegais de propaganda, não falta cá nada (alguns exemplos aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). De maneira que a diferença entre o PS e o PSD, actualmente, é apenas uma: o PS é, actualmente, mais competente na obtenção e manutenção de poder. O que não é de estranhar, sendo Rui Rio o líder do partido.

Comments

  1. Alexandre+Barreira says:

    Isto não está fácil para ninguém e a malta do PSD anda às aranhas.

  2. Rui Naldinho says:

    Para o PSD o conceito de independência resume-se na verdade a uma relação privilegiada do partido com os grandes grupos económicos, ou até, se quiserem, numa relação de dependência emocional com a CIP e a CAP.
    Admitindo que muita desta gente, por interesses vários, até comerciais, não se filia no partido, o que até nem é o caso do actual presidente dos empresários industriais, militante de base do PSD, isso não significa que haja qualquer independência em relação aos vários interesses em que se move o país profundo.
    O que é hoje o PSD senão uma representação política das confederações patronais e dos interesses de algumas multinacionais?
    Onde está o sindicalismo do PSD? Onde está a cultura, para este PSD?
    Podia citar Luís Filipe Pereira, ex ministro da Saúde, na actualidade ligado à administração do grupo Melo Saúde. Ou de António Mexia, ex ministro dos transportes e obras públicas, posteriormente, CEO da EDP. Fico-me por aqui, mas podia listar aqui um interminável rol de afinidades entre o partido de Cavaco Silva, Durão Barroso, Passos Coelho e Rui Rio, com os negócios de renda fixa deste país, onde ex ministros foram e são administradores, consultores, e/ou CEO’s.
    Mas nessa matéria o PSD não se fica por aqui. Tal como o PS, promove dentro dos seus governos um conjunto de teias familiares, que vão desde as assessorias a contratações sem consulta a terceiros, que não os da própria família, de vários serviços, nomeadamente jurídicos.
    Coelho Lima, do PSD, faz de roto, a criticar o nu, o PS.
    Seria engraçado se não fossem essas práticas nocivas a razão maior, por exemplo, da nossa dívida.

  3. JgMenos says:

    Só posso concordar!
    Mas…não há puteiro como o socialista!
    São gerações e gerações de experiência a que o trauma de quase duas gerações de Estado Novo deu um vigor inultrapassável de retoma!

    • POIS! says:

      Pois é!

      Nos 48 anos de Democracia, QUE HOJE SE COMEMORAM, desenvolveram-se “Gerações e gerações de experiência”…

      Mas no Estado Novo, no mesmo tempo, apenas “quase duas” gerações.

      E compreende-se. Salazar, como todos sabemos, casou com a Nação mas a intimidade foi sempre difícil.

      Os momentos eram poucos e muitas vezes, quando estavam mesmo a chegar a vias de facto (depois dos preliminares, que com Salazar chegavam a durar semanas) entrava por ali adentro o Cerejeira (avisado pela Maria de Jesus) com um crucifixo na mão e empatava tudo.

      Com um contracetivo desta estirpe não admira que a substituição das gerações fosse tão lenta.

  4. Paulo Marques says:

    Para realizar um trabalho, seja na escola, seja numa empresa, seja num governo, vai-se escolher quem? Quem se conhece, pessoal e profissionalmente, para se saber que e como anda para a frente o eventual projecto. Achar que pode ser diferente é idealismo parvo *, que também já partilhei, mas já tenho demasiado idade para isso.
    Se há abusos, é para isso que servem legisladores, tribunais, eleições e protestos: é usar. Com cabecinha, porque afinal de contas os eleitores são a favor do sistema mais ou menos em toda a plenitude que permite abusos constantes com obscurantismo dos proveitos, não são? É lidar, filhos.

    (não estou a atribuir a ninguém, estou a falar em generalidades)


  5. Excelente post. Sem qualquer ironia (mas com algum espanto). Parece que a alma de Vasco Pulido Valente encarnou no autor (e não me ocorrem muitos elogios maiores). Dito isto, é evidente que só entraram neste governo pessoas dispostas a assinar tudo o que for preciso para dar “bom destino” aos dinheiros da “bazuca”, sendo Medina (que, para mim, há-de ser sempre o “Baghdad Bob” de Sócrates) o melhor exemplo. Não há cá Campos e Cunhas, nem Centenos, nem Leões…

    • Paulo Marques says:

      Queria o quê? Um governo com birras irrevogáveis até receberem mais tacho?

  6. Júlio Santos says:

    Estamos em democracia e, em democracia, avança quem ganha as eleições e/ou quem consegue maioria parlamentar. Mas nem todos compreendem isto e, nas fileiras do PSD, também há quem o ignore