Dois meses de greves dos professores

Parte do editorial de hoje do PÚBLICO, pela mão de Andreia Sanches.

O que ministério também não diz é quantos alunos estão sem aulas por falta de professores.

Mas houve quem fizesse esse trabalho, o qual foi apresentado no programa da RTP chamado “É ou não é? – O grande debate“.

Há alunos que ficam sem aulas a pelo menos uma disciplina todo o ano. Quantos são agora? É sincera esta onda de preocupação por os alunos não terem aulas? Ou é por não terem um depósito para ficarem durante o dia? Algo que os que botam faladura na comunicação social poderiam e deviam questionar. Afinal, quer-se a escola para aprender ou para centro de dia?
Menos alunos mas, em proporção, muito menos professores. O. ME tem os dados exactos, logo, se não planeia, é porque não quer. E não quer por uma razão muito simples: quer tirar partido dos professores sem vínculo, que são muito mais baratos, por ganharem sempre pelo primeiro escalão, em vez de professores do quadro que têm uma progressão na carreira (mesmo que má, mas melhor e mais cara do que nenhuma progressão).
Cada vez menos licenciados interessados na carreira da docência. A hostilidade constante contra os professores, usada como arma pelo ME, não há-de ser alheia ao fenómeno, bem com a estabilidade da carreira e a remuneração salarial. Os números são claros, a carreira docente não é aliciante, ao contrário do que dizem os opininadores de serviço e ao serviço.
16 anos para ver reconhecida a necessidade que leva os mesmos a serem contratados anos após ano. Porquê? Porque estes professores contratados recebem sempre pelo primeiro escalão da carreira, como se estivessem a dar aulas pela primeira vez. Que conveniente para o ministério das finanças. Também o é para o ME? Vêem-se os resultados na escolha dos licenciados em seguirem a docência.
Proposta do ME: passar uma pequena parte dos professores contratados ao quadro. Mas entrando para o início da carreira, mesmo que tenham 20 anos de serviço. Seriedade no ME? Zero.
Proposta inicial do ME para que os professores temporários possam passar ao quadro. Horário completo é no presente ano lectivo, o que deixa uma enormidade de professores de fora.
O problema é o conceito de zona pedagógica. Não é a solução. Esta seria permitir às escolas fazerem os seus quadros. E isto não depende de a escola poder contratar directamente ou não. O concurso nacional, tal como actualmente existe, serve perfeitamente, além de ser imune ao factor cunha. Basta que as escolas possam passar a ter os professores no quadro. Mas isso implica que os professores progridam na carreira, em vez de os ter sempre no primeiro escalão, tal como acontece com os contratados.
Não reconhecer o tempo de serviço é roubar ao salário e à reforma. Trata-se de uma forma indirecta de baixar salários.
Os famosos super bem pagos professores, que investiram 15 a 18 anos da sua vida para terem estes valores de salário bruto.
A maravilha do ensino privado. Basicamente, pagar menos.

Comments

  1. estevesayres says:

    BPI não se compromete a ir além de 4% de aumentos salariais, mesmo depois de anunciar um aumento de 19% nos seus lucros 🤬
    Eis o capitalismo!

  2. Luís Lavoura says:

    Conclusão: o pomo da discórdia é, basicamente, “a carreira”. Ou seja, a possibilidade de os professores (e, em geral, os trabalhadores) ganharem mais quando têm mais anos de serviço, mais ou menos independentemente da quantidade e qualidade do trabalho que diariamente desenvolvem.
    Nem admira. Olhando para os números do ensino privado, o salário sobe de 1250 euros para 2000 euros após 25 anos, e para 3100 euros após 40 anos. Um professor aos 65 anos de idade ganha 150% mais que um professor aos 25 anos de idade.
    É isto moral? Em minha opinião, não é. É isto premiar o mérito? Em minha opinião, não é.
    Tem que se premiar o mérito, a qualidade dos professores (e dos restantes trabalhadores), e não a sua antiguidade na profissão.
    Ser velho não deveria ser um posto.

    • Paulo Marques says:

      E o Luís já descobriu o ovo de colombo que é a avaliação do mérito, ou fica-se também pela avaliação de quem melhor trabalha os indicadores e mais não faz?

      • Luís Lavoura says:

        Se não houver forma de avaliar o mérito, então o mais correto é pagar o mesmo a todos. Não é pôr os mais velhos a ganhar mais só porque são mais velhos.
        Se não há forma de avaliar o mérito, então mais vale não haver “carreira” nenhuma, todos ganham o mesmo e ponto final. (Isso é que é igualdade, afinal!)
        Na “carreira” dos professores universitários somente há três degraus, e a imensa maioria dos professores está no mais baixo deles, nunca sobe de degrau. Mesmo que tenham mais mérito, permanecem “professores auxiliares” a vida toda. Mas, mesmo que consigam subir de degrau, jamais chegam a ganhar 2,5 vezes aquilo que ganhavam ao princípio – como parece ser o caso dos professores liceais.

        • Paulo Marques says:

          Pagamento igual por trabalho igual? Daqui a pouco está-me a dizer que deve ser pagamento igual por cada período de trabalho…
          Há alguma capacidade de avaliar o mérito, até pelo esforço e assumir de responsabilidades, mas as métricas são sempre falíveis e a medição em si afecta a qualidade.
          Não investiguei se é a base da ideia, mas se fosse eu, o prémio pela antiguidade dava-me o empurrãozinho a querer fazer mais com a experiência, e a assumir responsabilidades. Até porque, não havendo nem de perto nem de longe possibilidade do topo da carreira, a diferença líquida não é propriamente grande.

    • j. manuel cordeiro says:

      Ponto de discórdia ser a carreira, qual é que é a surpresa? Ou acha que os servem para definir planos curriculares?

      E ler bem, até verá que se fala dos professores contratados, para os quais não há carreira. Todos os anos entram para o mesmo escalão. Se calhar passou-lhe despercebida essa parte!

      Sobre progressão e número de anos há duas coisas a considerar. Primeiro, quantos é que atingem mesmo os escalões mais bem remunerados? Era bom que o governo fosse honesto e divulgasse os números, em vez tabelas que pouco têm de realidade mas parece que são bem pagos. Máfia no governo! Em segundo lugar, quem definiu as carreiras foram os governos, não foram os professores. Portanto, que cumpram o que regulamentam.

      • Luís Lavoura says:

        Ponto de discórdia ser a carreira, qual é que é a surpresa?

        Geralmente nos conflitos laborais o ponto de discórdia são os salários propriamente ditos, não a possibilidade de os subir de forma automática através da idade.

        verá que se fala dos professores contratados, para os quais não há carreira

        Exatamente, e querem os sindicatos que haja. Ou seja, querem que todos subam automaticamente de salário com a idade.

        quantos é que atingem mesmo os escalões mais bem remunerados

        Poucos. É o mesmo que no ensino universitário, onde quase ninguém jamais atinge o posto de catedrático.

        quem definiu as carreiras foram os governos, não foram os professores

        Talvez. Mas quem está a lutar por manter e espalhar a mais gente este sistema, em minha opinião iníquo,porque altamente desigual, são os sindicatos.

        Em minha opinião, os sindicatos deveriam lutar pela IGUALDADE, ou seja, “a trabalho igual salário igual”. Se todos os professores fazem o mesmo trabalho, então devem receber todos o mesmo!

  3. francis says:

    façam como estão a fazer com os motoristas de pesados……………..importem professores do Brasil. Até nem se importam de trabalhar mais e ganhar menos. Querem, é vir pra Europa. E ainda podem, recorrer a um ou outro nepalês ou indiano, que arranhe mais o menos o português

    • Paulo Marques says:

      Pensei que queria que o país fosse para quem lá nasça e trabalhe, mas até o trabalho se quer forçar a vir para cá…

    • tuga says:

      A falar crio….do Brasil ?

      Oi Oi .

      “outro nepalês ou indiano, que arranhe mais o menos o português”

      Ao fim de 3 anos estão a falar portugues., tal e qual como fazem os ucranianos que cá estão

      Mas os do Oi Oi ???????….

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.