Na Mouraria, Montenegro ficou mais próximo de Ventura

No rescaldo do incêndio na Mouraria, que vitimou mortalmente dois emigrantes e expôs as condições desumanas em que vivem, com a cumplicidade dos senhorios que não têm como ser alheios ao que se passa nas suas propriedades, Luís Montenegro apresentou ao país a sua visão para a emigração: um programa para escolher os colaboradores que queremos em Portugal.

Se Montenegro descesse ao país real, rapidamente perceberia que os colaboradores que a economia procura são sobretudo aqueles que estão disponíveis para trabalhar, por salários miseráveis, nas entregas, na restauração, na construção civil e no lado menos glamouroso do turismo. Projectos com nomes pomposos e objectivos moderníssimos como “atrair talento” não resolvem o problema imediato de grande parte dos empresários portugueses, que é encontrar quem venda a sua força de trabalho pelo menor valor possível, para fazer as tarefas que a maioria dos portugueses já não quer fazer.

Ainda assim, as declarações ontem proferidas pelo líder do PSD contribuem, uma vez mais, para clarificar a sua aproximação ao CH. Quando o maior partido da oposição e aquele que ainda é o maior partido à direita argumenta que a solução para o problema da emigração passa por uma selecção à porta de quem entra, o discurso começa a ficar perigosamente parecido com a narrativa da unipessoal de André Ventura. Confirma-se: Montenegro ainda não percebeu.

Comments

  1. POIS! says:

    “Atrair talento”? Para onde? Pagando o quê? Ou melhor, quanto?

    Se este trambolho intelectual pensa que o “talento” vem a assobiar por aí acima, a ganhar 1000 euritos e a pagar 800, na melhor das hipóteses, por um buraco, bem pode tirar o unicórnio da chuva.

    Sobre o que se passa em Lisboa, Porto e Algarve, e alastra por aí, particularmente no litoral, em matéria de habitação, costumo recordar uma história que remonta aos idos de 74/75, ou seja, do famigerado PREC.

    Nessa altura, os partidos não faziam só comícios em que uns falam e os outros aplaudem sentados. Havia as chamadas “sessões de esclarecimento”, onde compareciam mesmo adversários políticos que tentavam embaraçar os oradores com perguntas difíceis.

    Numa sessão do PCP, a que assisti por acaso, numa aldeia operária das beiras (existe lá uma unidade de indústria dos lanifícios), apareceu um tipo a perguntar se, como tinha duas casas, tinha de dar uma ao Estado e, se o PCP fosse governo, algum dia uma pessoa teria de pedir autorização para viver em Lisboa, como acontecia em Moscovo.

    Os oradores procuraram tranquilizar o homem, dizendo que não estava no programa do PCP a expropriação de casas particulares e a necessidade de autorização para viver em qualquer ponto do país. Mas adiante…

    A tal necessidade de autorização para viver em Moscovo, que existia realmente, era vulgarmente brandida pela Direita como exemplo de restrição às liberdades provocadas pelo “comunismo”.

    Depois veio a queda do muro, o fim da URSS, o Ieltsin e os maravilhoso capitalismo dos oligarcas, e ninguém mais falou nisso. Porque acabou? Não! Porque já não interessava como argumento da Direita!

    E agora, pergunto: a quantos portugueses é permitido hoje viver em Lisboa, caso o queiram fazer ou disso necessitem? É caso para dizer que o “mercado” acabou por provocar ainda maiores e mais injustas restrições do que se existisse alguma necessidade de autorização administrativa (que seria inconstitucional, felizmente!). Eu, por exemplo, estou impedido de lá viver!

    E, enquanto isto, Costa, Medina e, agora, Moedas, continuam a assobiar para o lado.

    Há dias ouvi o Daniel Oliveira dizer, muito justamente, que Lisboa há de tornar-se uma cidade de ricos e turistas. E que, por não existir alojamento para quem trabalha (a não ser umas camaratas em sítios esconsos…), terão de limpar as suas casinhas pagas a peso de ouro, tratar da sua roupinha, fazer a sua própria comida…

    Repito aqui um caso que vi numa reportagem televisiva: aquando da abertura de um pavilhão de apoio aos sem abrigo, nestes dias frios, apareceu, dando a cara, um homem que trabalha para uma junta de freguesia de Lisboa, ganhando o ordenado mínimo e que vive na rua porque não tem dinheiro para pagar um quarto que seja. Destes “talentos” não fala o Montenegro…

  2. Luís Lavoura says:

    a cumplicidade dos senhorios que não têm como ser alheios ao que se passa nas suas propriedades

    Será que o João Mendes pretende voltar ao tempo da Outra Senhora, em que os senhorios eram supostos espiar os seus inquilinos e denunciar à polícia qualquer violação da moralidade e bons costumes por parte deles?

    A função dos senhorios não é espiar os inquilinos! Desde que estes paguem a renda e não causem estragos na casa nem perturbem a vizinhança, os senhorios nada têm que protestar.

    Para um senhorio, tanto faz que a sua propriedade seja utilizada por uma pessoa como por cinco ou dez. Desde que essas pessoas paguem a eletricidade e água que consomem e desde que não causem estragos na casa nem perturbem a vizinhança, o senhorio não tem nada que protestar nem que denunciar.

    • Paulo Marques says:

      Concordo, não tem, até porque normalmente seria para fazer chantagem.
      Agora,há quem feche os olhos ou alugue por baixo da mesa, e a culpa não é do bidé.

  3. Zé Povinho says:

    Acontece existirem muitos CLANDESTINOS, com origem duvidosa senão criminosos! Cuidado, fui alertado por um Jovem licenciado do próprio Bangladesh!

    • Luís Lavoura says:

      Um clandestino não é um criminoso.
      Entrar ou permanecer num país sem autorização é punível pela lei, porém não é um crime.
      É como não pagar impostos: também é punível pela lei, mas também não é um crime.

    • Paulo Marques says:

      Sim, há muitos oligarcas a comprar propriedade em Portugal que também deviam passar pelo escrutínio que passam os outros.

  4. Anonimo says:

    A economia é a promovida, por públicos e privados
    Servir a bica e o pastel de nata, fazer a feira do queijo e do enchido, com participação do Emanuel, e guiar o tuk-tuk por essa Lisboa pitoresca.
    O palco do Papa não aparece por obra e graça, duvido que sejam licenciados em história da arte que vão assentar tijolo.

  5. Anonimo says:

    A ideia das luminárias é atrair os beduínos digitais. Sim, vai funcionar por uns tempos… haverá uns quantos germanos e noruegueses que preferem durante uns meses programar em Python com temperaturas amenas (não virão no Inverno, que na terra deles as casas são aquecidas) e sol, virados para o mar, e se calhar na pausa até conseguem ir dar um mergulho. Ganham o imobiliário, o senhor do café, a “economia”. Até os atrás mencionados os mandarem voltar para casa, sob pena de contratar um português que os substitua por metade do salário…

  6. J. Pimenta says:

    O lavoura é um cromo do caraças !!
    Então, se o senhorio aluga uma casa a um casal com filhos ou sem, verificar que o inquilino mete lá 20 ou 25 ” banglas ” a pagar 200 € mês para dormir, não tem o dono nada com isso? Socorro!!! Eu quero ir para a ilha !!

    • Luís Lavoura says:

      Claro que o senhorio não tem nada a ver com isso. Cada um vive como quer. Se quer viver sozinho numa casa enorme, vive. Se quer viver tipo sardinha em lata, também vive.
      É como o senhorio não ter nada a ver com o inquilino viver com outro homem, ou com uma mulher, ou com dois homens, ou com duas mulheres, ou com uma mulher e um homem. Isso é problema do inquilino, não do senhorio.
      Desde que os inquilinos tenham os seus próprios contratos de água e luz, e os paguem, para o senhorio tudo bem. E desde que não estraguem a casa, nem causem ruído à vizinhança.

      • Manuel Morais dos Santos says:

        Nao e bem assim amigo,no contrato o senhor tem que ter os occupants da casa em caso de calamidade ou incendiary,nao e a balda por isso e que Portugal esta como esta uma vergonhaaaaa mundial

      • Tuga says:

        “Claro que o senhorio não tem nada a ver com isso. Cada um vive como quer. Se quer viver sozinho numa casa enorme, vive. Se quer viver tipo sardinha em lata, também vive.”

        Alguns senhorias preferem assim, porque nestes casos as pessoas nem lhes pedem as facturas fiscais e eles ilegalmente não se registam nas finanças como senhorios

  7. Zé Tugão says:

    E qual é o problema da aproximação ao Chega, sr jornalista? Estão errados por acaso? Entre no Canadá p.e. ilegalmente e vai ver o que lhe acontece… Sempre a mesma história, jornalismo vendido.

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