O que se passa no Porto Canal?

Esta história começou a 10 de Fevereiro de 2023. Na sua página no Facebook, o Porto Canal publica uma fotografia do comentador desportivo Rui Santos (CNN) acompanhado da sua companheira e da filha desta, assim como da informação de qual era o restaurante de que a mesma é proprietária.

O momento não era, de todo, inocente. O comentador desportivo Rui Santos tinha, no seu programa na CNN, tecido duras críticas a uma arbitragem de um jogo do FC Porto e, mais tarde, opinado de forma polémica sobre o treinador do clube, Sérgio Conceição. O somatório dessas duas intervenções provocara um enorme mal estar dentro do clube e a ira nas redes sociais de inúmeros adeptos do FC Porto, inclusive de alguns que pertencem ao blogue Aventar. O futebol, como se sabe, é gerador de paixões e de alguma irracionalidade provocando, inúmeras vezes, situações violentas. O Porto Canal, ao publicar qual era o restaurante da companheira de Rui Santos, ainda para mais sendo um conhecido local da cidade do Porto sabia ou, pelo menos, deveria saber as repercussões que poderiam advir de tal decisão “editorial”. E o óbvio aconteceu: ameaças de morte por telefone e nas redes sociais ao ponto de a companheira de Rui Santos e a sua família mais chegada estarem a receber protecção policial e, segundo apurou o Aventar, a Polícia Judiciária e o Ministério Público estarem a investigar toda esta situação. Não será preciso sublinhar o terror que tem sido para estes cidadãos e quem conhece o universo que rodeia o futebol, facilmente perceberá o porquê.

Passados alguns dias, no seu programa televisivo, Rui Santos denunciou a situação que estava a ser vivida pela sua companheira e respectiva família. Após a denúncia pública na CNN, entendeu o Conselho de Redacção do Porto Canal emitir um comunicado público sobre o assunto:

“Enquanto jornalistas, portadores de carteira profissional e cientes e zelosos de cumprir o Código Deontológico dos Jornalistas, repudiamos por completo o facto de conteúdos que não obedeçam às regras mais básicas do jornalismo serem publicados nos meios informativos que a estrutura azul e branca detém. Demarcamo-nos da publicação em causa e assumiremos publicamente essa posição”

A posição do Conselho de Redacção do Porto Canal, ao que o Aventar apurou, criou enorme polémica e desconforto dentro de parte da estrutura do FC Porto. Ao demarcarem-se da referida publicação deram a conhecer que a mesma não foi nem produzida nem publicada por jornalistas da casa. Segundo as nossas fontes, alegadamente, a publicação foi da responsabilidade da direcção de conteúdos do FC Porto (liderada por Diogo Faria) e pela direcção de conteúdos digitais do clube que gere, também, as redes sociais e o site do canal (direcção liderada por Pedro Bragança). Ora, ainda mais recentemente, boa parte dos órgãos de comunicação social portugueses e, também, o Aventar receberam um comunicado “anónimo” da autoria de jornalistas do Porto Canal. Após a leitura do mesmo e atendendo à gravidade do exposto, o Aventar procurou saber da veracidade dos factos relatados e iniciou um processo de investigação. Aqui chegados, cumpre sublinhar que o Aventar não é um órgão de comunicação social. Mesmo assim, tivemos todos os cuidados necessários e que em nosso entender eram devidos a uma situação desta gravidade: foi enviado um email ao Porto Canal e ao cuidado tanto de Diogo Faria como de Pedro Bragança, informando-os das respectivas denúncias e dando a oportunidade de responderem e se defenderem, informando-os que o Aventar iria publicar este artigo a 21 ou 22 de Fevereiro e que para tal poderiam responder para o nosso email até às 23h59 de segunda-feira 20 de Fevereiro. Ao mesmo tempo, o Aventar auscultou inúmeras fontes.

Então quais são as denúncias de alguns jornalistas do Porto Canal? Que na sequência do comunicado, membros do conselho de redacção foram punidos pelos seus superiores sendo-lhes proibido sair em reportagem. Foram punidos, alegadamente, pelos directores Diogo Faria e Pedro Bragança. Além disso, denunciaram que, alegadamente, os castigos são uma constante nas duas redacções e já levaram ao despedimento ou saídas coercivas de diversos jornalistas. Ao que o Aventar apurou e num comportamento similar ao que está a acontecer com a companheira de Rui Santos (e o próprio), estes jornalistas e as suas famílias, alegadamente, estão a ser ameaçados ao ponto de alguns terem tirado os filhos das respectivas escolas por medo. Um clima de terror.

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Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain

Foi através das suas séries televisivas que conheci Anthony Bourdain. Uma personagem fascinante que nos levava a viajar pelo mundo através de experiências gastronómicas. Aliás, os diferentes episódios eram sobre tudo menos gastronomia. Ou melhor, a gastronomia era uma desculpa. Não tinha medo de exprimir a sua opinião. Fosse na Palestina, em Israel ou até em Lisboa. Nunca vou esquecer a sua visita ao Porto e a grata surpresa da sua ida à Areosa para experimentar as famosas Tripas à Moda do Porto do restaurante “Cozinha do Martinho“.

Ontem, finalmente, consegui ver o filme sobre a sua vida: “Roadrunner, A Film About Anthony Bourdain” (2021, CNN). Um murro no estômago como aquele de 8 de Junho de 2018 quando se soube da sua partida. Um filme como Anthony: inquieto, frontal e cru. A não perder.

 

O “sistema” em defesa de André Ventura: o caso de Miguel Relvas

Disse Miguel Relvas, a propósito da integração da extrema-direita num governo PSD:

A verdade é que  há um grande preconceito por parte da comunicação social e do país em relação ao discurso do CH e à imagem do CH.

Mas Relvas não partilha desse preconceito. Aliás, não lhe repugnaria ver o CH integrado num governo PSD. Se dúvidas restassem sobre a capacidade da elite capitalista em acolher a extrema-direita nos seus braços, Relvas foi claro e transparente a esse respeito. Coisa que Montenegro, entre uma dissimulação e outra, não conseguiu ainda ser, apesar de ser evidente, o caminho que pretende seguir.

P.S: Se André Ventura é tão “antissistema” como afirma ser, estou certo que rapidamente se afastará deste endorsement. Ou expõe ainda mais a sua hipocrisia e a falsidade da sua narrativa.

Putin e o mercado livre

O documentário que passou ontem na CNN, Putin: o Caminho da Guerra, não é apenas claro sobre a natureza totalitária e monstruosa de Vladimir Putin. É todo um tratado sobre a hipocrisia do Ocidente, que sempre soube quem ela era e quais eram os seus métodos, mas preferiu assobiar para o lado.

E porquê?

Para evitar a fuga dos rublos e, sobretudo, para garantir que a economia russa se mantinha perfeitamente integrada nessa ilusão predatória a que chamam “mercado livre”. Porque os interesses das grandes multinacionais europeias e americanas não poderiam ser afectados por temas menores, como os direitos humanos. [Read more…]

Os Estados Soviéticos Unidos da América

As credenciais de Jim Acosta, da CNN, para acesso à Casa Branca deverão ser restauradas, determina  juiz [NYT]

A história é simples. Uma semana antes das eleições intercalares nos EUA, a campanha republicana usou diariamente o tema da caravana a caminho das suas fronteiras. A Fox News, também conhecida pelo Canal Trump, chegou ao ponto de ter um repórter infiltrado nessa caravana. O objectivo óbvio foi usar o populismo do medo como arma eleitoral. Naturalmente, na noite da eleição, Acosta perguntou a Trump pela caravana. Afinal de contas, o próprio presidente usou-a constantemente nos seus comícios. Como merdas que é, não deixou que a pergunta fosse concluída nem se dignou responder. Passou, isso sim, a insultar o repórter. E, por fim, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, anunciou que o acesso de Acosta à Casa Branca tinha sido revogado, justificando a decisão com recurso a um vídeo manipulado por Alex Jones, o conhecido maluco da extrema-direita. Ou seja, Trump acusa a CNN de fake news e, sem surpresa, constata-se que estas fazem parte da natureza da sua administração. [Read more…]

Em direcção ao precipício

 

A estratégia de ódio, desinformação e mentira, desta perigosíssima extrema-direita reeditada, mas igualmente violenta e intolerante, alimentada por Trump e respectivos apóstolos, começa a dar frutos.

Na Quarta-feira, vários engenhos explosivos foram encontrados nas residências de figuras de relevo do Partido Democrata, como Barack Obama e Hillary Clinton, e na redacção da CNN, os “inimigos do povo”, como o troglodita americano gosta de lhes chamar. Ontem foi a vez de Robert de Niro, que não é politico, mas que não poupa nas críticas a Trump. [Read more…]

A exactidão e o estendal

Como outros passeiam os cães de companhia, ela traz à rua o seu estendal.

— Carla Romualdo

Nun, was >Tatsache< hier meint, ist nicht die Tatsãchlichkeit der fremden Tatsachen, mit denen man fertig werden muß, indem man sie sich erklãren lernt.

Hans-Georg Gadamer

J’ai passionnément désiré être aimé d’une femme mélancolique, maigre et actrice.

— Stendhal, 30/3/1806

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Eis como alguém na RTP decidiu traduzir para português europeu o remate do «We’re just not going to sit back and let, you know, false narratives, false stories, inaccurate facts get out there» de Sean Spicer.

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Agora, aproveitando este intervalo dado quer à frase nuclear, na perspectiva de Grevisse e de Goosse, quer aos sintagmas nominais do Antoine de La Sale, regresso ao Krugman (que percebe imenso de factos) e ao meu espanto por ver o Searle (um velho conhecido do Aventar) mencionado por aquelas bandas.

Continuação de um óptimo fim-de-semana.

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A primeira derrota de Trump

A CNN avança que o juiz Federal James Robart (estado de Washington) deferiu o pedido de dois procuradores estaduais para suspender (temporariamente) a ordem do presidente relativa à entrada de muçulmanos e refugiados no país. A ordem judicial produz efeitos federais.

Washington a ferro e fogo

Os protestos anti-trump aqui, em directo. O Huffington Post fala de 25 mil pessoas envolvidas no protesto. A CNN avança que 100 manifestantes já foram detidos. Manifestações com milhares de pessoas em Nova Iorque, Chicago e São Francisco.

God Bless Us

Celebridades como Robert De Niro ou Michael Moore discursam agora num protesto anti-trump ao pé da Trump Tower em Nova Iorque. Aqui, em directo, na página de facebook da CNN.

Estupefacção

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Ontem, alguns habitantes do planeta Terra terão ficado estupefactos com esta sondagem da CNN. São coisas que acontecem — ou, como diz o Guardiola, “son cosas que pasan. Contudo, ao contrário dos espectadores da CNN, os leitores do Diário da República já estarão tão habituados a estrangulamentos e constrangimentos, na forma de contatos, fatos e seções, que muito provavelmente já não há estupefacção que os afecte. No entanto, como o Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa garante não ter identificado nem estrangulamentos nem constrangimentos, é porque eles certamente não existem.

Sim, hoje, no Diário da República:

Curriculum Vitae atualizado, detalhado, datado e assinado, acompanhado dos documentos comprovativos dos fatos naquele descritos, nomeadamente em que contem a formação e experiências profissionais, respetivas áreas e duração (os fatos curriculares não acompanhados dos correspondentes documentos comprovativos não serão considerados);

(…)

A lista unitária de ordenação final dos candidatos, após homologação, é afixada no placard da seção de recursos humanos desta Autarquia e disponibilizada na sua página eletrónica em http://www.cm-castroverde.pt, sendo ainda publicado um aviso no Diário da República.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

O factor humano

O primeiro gesto é para por colocar tudo numa bandeja. Cinzenta nas maior parte das vezes, mas já aconteceu encontrar de outras cores. Depois, não esquecer o telemóvel, as chaves, o casaco. Sim, é necessário tirar o cinto. Tem mesmo de ser. Humm, já agora tire também os sapatos, se faz favor. Assim fazemos. Todos. Eu e todos os outros. Passamos pelo pórtico, um de cada vez. Olhados ao pormenor, por um ou dois especialistas nestas coisas.

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Ultrapassar esta fase não significa que a componente segurança esteja resolvida. Se transportarmos uma mala podemos ser convidados a chegar ao lado. Um outro elemento da segurança, com luvas de látex pergunta-nos o que transportamos. Uma muda de roupa, afinal nunca se sabe se as malas vão chegar ao destino connosco e um homem prevenido vale por dois.

Abre a mala, coloca as mãos, mexe, verifica. Não encontrando nada de relevante, agradece. Pode seguir, boa viagem.

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O sr. Pynchon não gosta de aparecer

Nos dias que correm é difícil distinguir os escaparates das livrarias das páginas da TV Guia. Jornalistas, apresentadores de tv, actores, VIPs elevados à categoria de VIPs por motivos obscuros, todos a assinarem livros invariavelmente maus, com os seus sorrisos branqueados em todas as capas e os olhares de carneiro mal morto a seguirem-nos por todos os recantos da livraria, raios os partam. Alguma ficção mal amanhada e muita exposição de "histórias reais”: cancros vencidos, divórcios tumultuosos, filhos problemáticos, histórias de vida tão branqueadas quanto as dentaduras. As suas mediáticas imagens tomaram conta das livrarias e empurraram os grandes autores para as estantes dos desvãos. Sabem a história do Thomas Pynchon, o romancista? É um dos mistérios dos EUA.

Escreveu alguns dos melhores romances americanos dos últimos 50 anos, como o “V” ou “O Leilão do Lote 49”, mas sempre se recusou a dar entrevistas ou a aparecer em qualquer tipo de acto público. As únicas fotos que conhecemos dele são da juventude, quando ainda estava na Marinha dos EUA. Há uns anos, a CNN pôs um repórter atrás dele e conseguiu filmá-lo. Pynchon pediu que não emitissem as imagens, oferecendo em troca uma entrevista única ao canal. A CNN aceitou. Quando o jornalista lhe perguntou porque vivia uma vida de reclusão, Pynchon respondeu “acredito que recluso é uma palavra de código gerada pelos jornalistas., que significa ‘não gosta de falar com repórteres’”. Ao longo dos anos, muito se especulou sobre as actividades ocultas do autor e até correu o absurdo rumor de que ele seria o Unabomber (lembram-se, o das bombas por correio e dos manifestos publicados nos jornais de referência?). Que faria esse homem no seu dia-a-dia- para querer mantê-lo tão privado? A jornalista Nancy Sales, da New York Magazine, que o investigou durante meses, descobriu: “Ele faz compras nas lojas da vizinhança. Almoça com outros escritores. Passa fins-de-semana no campo com a sua família”. Um subversivo, portanto. Pynchon divertir-se-á muito, seguramente, com todas as especulações à sua volta. Há uns anos aceitou participar num episódio dos Simpsons, no qual a sua personagem aparecia com um saco de papel na cabeça e dava conselhos a Marge, que decidira escrever um romance. A obstinação de Pynchon em manter privado o que é privado só pode ser considerada suspeita à luz da psicose voyeurista-exibicionista dos nossos dias. Nunca se defendeu tanto o direito à privacidade, à protecção da imagem, à reserva da vida privada, e nunca se vendeu tão barata a sua exposição.