Monte negro e Moedas pretas

Temos que escolher pessoas mais compatíveis com o nosso modo de vida. Procurar pelo mundo comunidades que melhor possam interagir com os portugueses

Esta frase, ao contrário do que possa parecer, não foi dita pelo líder da extrema-direita portuguesa. Foi dita pelo proto-líder da oposição, o presidente do PPD sem SD, Luís Montenegro, aos microfones abertos de alguns jornalistas, quando questionado sobre o incêndio que vitimou duas pessoas imigrantes na Mouraria.

Traduzindo, diz o líder dos laranjas que imigrantes em Portugal só se forem da nossa cor, partilhem da mesma cultura e tenham muitos euros na conta (numa offshore suíça, de preferência). A maçonaria fez muito mal a Luís Montenegro (e o legado de Passos Coelho, também).

O PPD vive este dilema (e não é se assume, ou não, a herança de Pedro Passos Coelho – essa herança passeiam-na com bastante orgulho): se se afasta do CHEGA para conquistar eleitorado ao centro (e, por conseguinte, ao Partido – quase nada – Socialista) ou se se cola à extrema-direita para ir buscar eleitores que, descontentes, votaram nos proto-fascistas portugueses. Nuns dias, aparece-nos como moderado, dizendo que quer voltar a ocupar o centrão e a pôr de parte o papão da extrema-direita; noutros, decide imbuir-se do espírito populista e demagogo que André Ventura e a sua máfia destilam por esse Portugal afora. Mas terá de se decidir rapidamente. Ou quer ser o partido do centro e tirar o lugar ao PS, ou quer ocupar a direita inteira, fazendo também o papel dos populistas. O Montenegro só cá quer montes brancos. 

Se Luís Montenegro não se galvanizar e não for galvanizado, Carlos Moedas, hoje presidente da Câmara Municipal de Lisboa, estará à coca para lhe ocupar o lugar. Mas, infelizmente para os portugueses, Moedas decidiu, também, abrir a bocarra para nos fazer sentir o seu bafo de onça.

Imigrantes em Portugal só se tiverem contrato de trabalho

A tradução: imigrantes em Portugal só endinheirados e montados num unicórnio colorido que vomite muitos euros. Moedas não quer cá moedas pretas.

Portanto, talvez seja ainda pior a emenda do que o soneto. E se é este tipo de posições políticas e este tipo de políticos que o PPD tem para oferecer, a bem que se juntem ao CDS e se enterrem na mesma campa, porque para lá caminham. Um partido que está refém da extrema-direita, pois sabe que não chegará ao poder sem a ajuda do ex-militante André Ventura (um prodígio, convém lembrar, lançado por Passos Coelho), é um partido que não pode, em condições algumas, governar Portugal.

Lia por aqui sobre os dilemas do PPD na assunção da herança de Passos. Não há qualquer dilema: o PPD juntar-se-á à extrema-direita, que foi uma criação do ex-Primeiro-ministro, e tem todo o orgulho em fazê-lo, por muito que o esconda para não parecer mal (e Miguel Pinto Luz – e, imagine-se, Miguel Relvas – já não o esconde). Pedro Passos Coelho baixou as calças do PPD e mostrou o olho a André Ventura, que se lambuzou todo e está, desde 2017, a sodomizar o partido de Sá Carneiro.

André Ventura enfiou o braço todo no PSD. Bem até lá ao fundo. E eles estão a adorar. É um amor de perdição.

Os três estarolas

Imagem: RTP

O cocó, o ranheta e o facada. 

Que visão do inferno.

Trocas e Baldrocas

Luís Montenegro chegou a ser uma espécie de número dois de Passos Coelho. Agora, está empenhado em ser o Passos Coelho número dois.

Monte Negro – a nova face de El-Rei Dom Sebastião

Fotografia: Tomás Silva

Luís Montenegro é, por estes dias, a personificação do mito sebastianista lá para os lados do velhinho PPD.

Depois de anos amolecido, foi preciso esperar que o ruinoso Rui Rio terminasse os seus mandatos e não se re-candidatasse, para que o agora líder do PPD (sem SD) se mostrasse pujante e firme. Luís Montenegro é como aquele puto que, na escola, nas aulas de educação física, diz que é o melhor da turma porque corre muito e resiste a todas as provas de apetência física – mas só se mostra disposto a fazer a aula quando há greve dos professores. Luís também é como aquele nosso colega que diz que já galou duas, três, quatro ou seis, mas que nunca teve uma namorada que conhecêssemos.

Centrista justiceiro, anti-social-democracia, anti-socialismo e anti-ultra-liberalismo, Montenegro é aquele/a namorado/a antigo/a, com quem acabamos a mal, mas que uns anos depois nos aparece à porta, com um novo penteado, uma nova cor nos lábios, roupas caras no corpo e um botox aqui e ali… parece outro/a e até nos perguntamos se a Cátia Montenegro de 2012, que nos traiu com aqueles estrangeiros, é a mesma que nos aparece em casa, hoje, pedindo mil desculpas, berrando amor eterno, jurando compromisso e seriedade. Podemos, por uns instantes, duvidar. De facto, a Montenegro de hoje está mais madura, as mudanças, nota-se, fizeram-lhe bem: está solta e airosa. É, portanto, natural que qualquer Ser Humano se deixe apanhar no emaranhado de charme que esta espalha. No entanto, vista bem de perto, chegamos à conclusão: esta é a mesma Cátia. Tem os mesmos maneirismos, fala das mesmas coisas e continua a dar-se com as mesmas amigas tóxicas com quem se dava em 2012.

Este Luís Montenegro é a nossa Cátia. Hoje, diz-nos que quer ser sério, que se compromete com o país e que não se aliará a forças “racistas e xenófobas”. “Segue-me/Prende-me/P´ra lá/Do meu horizonte”… e fala-nos de amor! Não nos engana: estamos fartos de saber que no PPD não há Santos, só Pecadores. Hoje diz-nos tudo isso, mas é tarde demais.

Cátia, não nos esquecemos do teu papel troikiano, não nos esquecemos da maçonaria, não nos esquecemos que assinaste uma carta onde comparas a homossexualidade à pedofilia, não nos esquecemos dos quatrocentos mil euros em ajustes directos e não nos esquecemos que “a vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor”. Cátia, até podes ansiar, hoje, que eu, desesperado, veja em ti Dom Sebastião nas minhas manhãs de nevoeiro, mas quanto mais te aproximas, mais eu reparo: ah!, afinal é só o Luís Montenegro, o neo-liberal de sempre.

É natural que Montenegro não se queira associar a forças reaccionárias. O Luís já é reaccionário que chegue.

Putinistas há muitos, seus palermas

Apesar de não ser comunista e de não me rever nas tomadas de posição do PCP, não no conteúdo, mas na forma, assumo que vai-me dando um gozo especial ouvir aqueles que nunca perdem a oportunidade para vaticinar a morte do Partido Comunista, um partido “moribundo”, dizem, mas que sempre ocupa o imaginário de vingança PRECquiana de tais neurónios. O imaginário de vingança e os sonhos molhados, acredito, porque isto é gente com patologias.

Digo isto porque não deixa de ser estranho que os que acusam o PCP de “totalitarismo”, sejam os mesmos que agora querem afastar um executivo democraticamente eleito, com base em “alegadamente”s. É Putin na Ucrânia, os EUA em qualquer sul-americanismo que mexa, o PSD em Setúbal, centenas nas redes sociais e dois ou três no Aventar. Tudo ganha ainda mais cinismo quando situações como a de Setúbal aconteceram em Albufeira, Gondomar ou Aveiro, em Câmaras governadas por PS ou PSD, mas aí está, aparentemente, tudo bem. Ou isso, ou os jornalistas ainda não descobriram tal. Confesso que teria a sua piada, e é bem possível que aconteça, que em Setúbal se realizassem eleições para a Câmara Municipal e a CDU ganhasse outra vez. [Read more…]

A brincar, a brincar, o macaco…

O meu passado chama-se Passos, o passado de Costa chama-se Sócrates. 

Disse Luís Montenegro, candidato à liderança do PPD sem SD.

De facto, fica provado: o legado de Sócrates não serve ninguém. O legado de Passos só serve mesmo aos boys do PPD. Mas, se o passado é Passos e isso é assim tão bom… por que razão o PPD sem SD se encontra “mais para lá do que para cá”? Se Passos foi assim tão bom, não seria suposto que o PSD se apresentasse pujante, feroz e a fazer a melhor oposição de sempre?!

Noutra afirmação, o agora candidato à liderança dos Laranjas disse que com o socialismo as desigualdades aumentaram. Primeiro, a real confusão ideológica: eu sei que o PPD não sabe o que é a social-democracia, por isso é normal que ache que o PS é socialista. Segundo, é falso: as desigualdades não só não aumentaram como diminuíram com a social-democracia. Perdoo esta… mas só porque sei que o PSD só conhece o significado de neo-liberalismo e de conservadorismo social.

Esta gente não se enxerga e chega ao ponto de achar que Sócrates e Passos não são farinha do mesmo saco. E, com isto, diz ao que vem: reconstruir e reerguer o legado de Passos… que o país não quis… porque foi enganado. Dito isto… que o povo nunca se volte a enganar.

Boa Páscoa de ilusões.

O mestre e o seu delfim. Fotografia retirada do Jornal de Notícias.

O que é? Para que serve? ou Pela Boca Morre o Peixe

Na passada segunda-feira, o jornal Público decidiu lançar um vídeo explicativo. No vídeo, intitulado “O que é a NATO? Para que serve?”, a jornalista Cláudia Carvalho Silva explica meia-dúzia de factos. Na publicação da notícia no Facebook, comentei alertando para alguns factos que ficaram por enumerar, entre os quais a inclusão de antigos generais do exército Nazi na NATO ou o massacre levado a cabo nos Balcãs.

Por entre insultos, troço ou desvalorização do assunto que coloquei na mesa, por parte de outros internautas, eis que, entre eles, surge Bruno Vitorino. E quem é Bruno Vitorino? Para que serve?

Não farei um vídeo explicativo, mas poderei lançar umas achas para a fogueira. Bruno Vitorino foi deputado de 2011 a 2019, tendo passado pelas legislaturas do governo PáF e da Geringonça. Bruno Vitorino é militante do PSD-Barreiro, tendo sido o candidato à autarquia nas Autárquicas de 2021 (onde ficou conhecido por meia dúzia de tempos de antena, onde, com laivos de lunatismo, dizia que vivemos numa ditadura comunista – o sr. Vitorino confundiu Portugal com Havana, se calhar porque uma vez passou lá férias e achou que por haver muito sol nos dois lados, é tudo parecido).

No comentário que me dirigiu, fazendo a apologia da máquina de guerra que é a NATO, decidiu apoucar os factos que apresentei. Ora, em 2016, o Bloco de Esquerda apresentou, em sede própria, um voto pela libertação dos presos políticos angolanos e um voto de condenação pela repressão imposta pelo regime angolano sobre o seu povo. Relembro: Bruno Vitorino era, à data, deputado dos conservadores-liberais do PSD. Como terá votado estes dois tópicos? Com uma pesquisa rápida, descobrimos: no primeiro, absteve-se; no segundo, votou contra. [Read more…]

Eu Apoio: Médio-Prazo-Memória-Curta

Em 2019, Paulo Rangel, em entrevista ao Diário de Notícias, revelava o seu apoio incondicional a Rui Rio. 

Dois anos volvidos, o que mudou? Dois anos de distância são curto, médio ou longo prazo? Paulo Rangel estará confuso agora? Ou estaria confuso em 2019? E quando Rui Rio era presidente da CM do Porto e Paulo Rangel auxiliava nos assuntos jurídicos, pondo ao seu serviço a CuatreCasas, sociedade de advogados representada por Rangel? Também estaria confuso?

E é assim, na espuma dos dias e no cavalgar da fraca memória dos portugueses e da opinião pública, que Paulo Rangel montou todo um cenário diabólico acerca de Rui Rio, conseguindo até, no entretanto, jogar a cartada do ‘coitadinho’ (desengane-se quem achar que os timings do vídeo da bebedeira em Bruxelas e da saída do armário – do PSD – foram coincidência) e, com isso, que dele se falasse – a estratégia do “bem ou mal… falem de mim!” é por demais conhecida à direita.

O Partido Popular Democrático caminha, a passos largos, para um enterro cada vez mais inevitável. Uma coisa é certa: Pedro Passos Coelho matou o PPD/PSD, Rui Rio abriu a cova; e agora, só falta que Paulo Rangel, mais um incapaz, comece a atirar-lhe a terra para cima. Mais depressa se apanha um troglodita no PSD do que um santo numa igreja.

Isto faz todo o sentido.

“Enquanto há Moedas, há amigos”: a noite eleitoral onde todos ganham e ninguém perde

A vitória de Carlos Moedas em Lisboa, apoiado por uma coligação com pelo menos uma mão cheia de partidos, teve um condão: o de fazer esquecer o PSD da estrondosa derrota autárquica que teve.

Se hoje lermos o que dizem militantes e simpatizantes do PSD, parece-nos (e confunde-nos) que o partido foi o grande vencedor da noite eleitoral. Não foi; está no lote dos 3 maiores derrotados, ao lado da CDU e do meu BE.

Em sentido contrário, pelo que lemos e vemos, parece que o PS foi o maior derrotado, quando, analisados os resultados, pode até ter saído reforçado destas eleições. Sim, a CM de Lisboa é a maior Câmara do país; mas não é a única, e tampouco é mais do que qualquer outra. No geral, podemos dizer, apesar dos resultados do BE e da CDU, que a esquerda ganhou as eleições, à boleia do PS (o que se pode repercutir nas próximas legislativas). A direita, por seu turno, teve vitórias residuais (PSD em Lisboa, Coimbra ou Funchal, por exemplo) e, no restante, foi à boleia do Chega (este último que consegue índices interessantes de votação em territórios onde grassa mais pobreza e falta de alfabetização). [Read more…]

Homodireita: não tenho nada contra, mas…

JN – 2 de Outubro de 2008: esclarecedor

E por Vezes
de David Mourão-Ferreira

«E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos   

E por vezes
encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites, não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos»

Depois de anos, décadas e séculos em que a direita fez questão de ostracizar homossexuais, confesso que é lindo, agora, depois de um homem, branco e de direita se ter assumido homossexual, ver a direita a fazer dos mais belos malabarismos para se vir dizer defensora dos direitos LGBTQI+.

Senhores, deixem-se de merdas. Isto é só a prova de que direitos LGBTQI+ são direitos humanos e que, enquanto estes (e outros direitos) não forem cumpridos, os direitos universais não serão cumpridos.

A homofobia combate-se com políticas públicas de inclusão, de informação e de educação. Todo o escabeche que foi feito nos últimos dois dias em relação a Paulo Rangel tem um nome: hipocrisia. E quem melhor do que a direita para nos mostrar, tão bem, o que é ser hipócrita?

Se um dia Paulo Rangel for líder da oposição, ou, quem sabe, de um governo, aí sim, saberemos, finalmente, como age a direita perante os direitos humanos. Até lá, continuemos a dar a todos os eleitores de direita, aquilo que eles gostam: beijos gregos.