A direita, a traição e as putas

Em 1383 o grosso da nobreza, principalmente a detentora do morgadio, tomou o partido de João de Castela. Em 1580 repetiu-se o filme, desta vez apoiando o rei Filipe. Em 1640 saem a correr 40 aristocratas, em desespero, porque a populaça andava a fazer alterações nas ruas, não apenas contra o rei Filipe III mas já contra todo o poder que a empurrava para a absoluta miséria.

Ainda podia acrescentar uns episódios oitocentistas. É sempre assim, a nossa direita anda sempre com a pátria na boca mas trai por tradição Portugal quando chega a hora da verdade.

Recordo isto na semana em que dois pré-ocupantes alemães começaram a verbalizar o que se vai seguir: humilhação internacional de Portugal através da sua máquina de propaganda, até ao estádio grego actual e o que se vai seguir.

O silêncio da nossa direita (nem toda, é verdade, mas da maioria) tem o ensurdecedor rufar da História. Sempre as putas do costume.

Os demónios de Alcácer-Quibir

Rodrigo Moita de Deus queixa-se porque “nos últimos cem anos a república faliu quatro ou cinco vezes o país“. Não vou contar quantas vezes a monarquia o tinha falido antes que as falências ocorrem em qualquer regime e a da última década do séc. XIX até deu muito jeito aos republicanos. Já levar Portugal à perda da independência foi até hoje exclusivo da monarquia, primeiro com os casamentos que procuravam a união dinástica, iniciados ainda no séc. XV, e tendo como corolário um tolinho, vítima de tanta consanguínidade, que foi brincar às guerras para Alcácer-Quibir. Em 1580 o mouro é que jogava em casa e levámos uma abada.

Lendas de Portugal

No 31 da Armada retoma-se a lendária historinha de 1580: invasores espanhóis (expressão um bocado anacrónica, mas vá lá), atropelo jurídico do direito ao trono de Portugal,  perda da independência, etc.

Esta velha mistificação continua a omitir a legitimidade do rei Filipe ao trono de Portugal, fruto das fracassadas mas mui tentadas uniões ibéricas por via matrimonial dos nossos monarcas anteriores que à época levavam quase um século, já para não falar da vida e obra do tolo Sebastião, um dos expoentes máximos da argumentação de bolso de qualquer republicano.

O facto de não ter havido perda de independência, mas sim uma monarquia dual também não entra na versão Mattoso (pai) da nossa História. Haja pachorra para tanto e tão repetido dislate. E viva Filipe I, um dos melhores reis de Portugal.