Deus, Pátria, Família e Trabalho: a tetralogia da treta, por André Ventura, parte II – PÁTRIA

Em Outubro passado, André Ventura esteve em Madrid para participar num comício do Vox, seu homólogo espanhol. Esforçou-se por falar castelhano, arranhando um péssimo portuñol, e gritou, em plenos pulmões, e com o entusiasmo de uma criança deslumbrada, vários “Viva España!”.

Três meses depois, em Janeiro deste ano, foi a vez de Ventura receber o amigo Abascal em Portugal. E Abascal não se esforçou minimamente por dizer uma palavra em português, optando por fazer a sua intervenção em castelhano.

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Bipolaridade lusa

Gosto muito deste nacional optimismo em relação à selecção nacional: acreditar sempre, crer que é possível, lutar até ao fim e coisa e tal.
É exactamente o oposto quando se pergunta acerca do país e da crise: isto não tem remédio, estamos desgraçados, este país está findo e blá blá blá.
Futebolândia 1 – Pátria 0.

Ditosa pátria que tais ladrões tem

Helena Roseta contou um caso ocorrido com Miguel Relvas que tresanda a tráfico de influência. E, pasme-se, é uma farisaica arquitecta que gosta do protagonismo.

Já Domingos Nóvoa, quando denunciado por Sá Fernandes, virou a acusação contra o acusador. Percebe-se por estas reacções, sem pejo em defender um ministro mentiroso e corrupto, o que  aconteceu nos tribunais. Em Portugal corrupção é mera cunha, fazem todos, deixa-se andar, aponta-se o dedo a quem denuncia, e daqui a meia-hora estão a dizer mal da Grécia, essa sim, a pátria das poucas vergonhas.

E o Ministério Público, dorme aonde?

Portugal Ingrato

     

A 8 de abril de 1976 (há justamente 36 anos), o filósofo português Eduardo Lourenço (a partir de Vence, França) responde à carta que Jorge de Sena (em Santa Barbara, EUA) lhe enviou: ” podia subscrever quase tudo o que nela dizes, pois conheço um similar drama de desfasamento em relação às coisas pátrias , embora atenuado pela menor distância e a possibilidade de poder ir lá mais facilmente «reciclar-me» em barafunda e apreensão”. Ora o que Jorge de Sena- crítico, poeta; exilado no Brasil para fugir à PIDE; e depois nos EUA para escapar à ditadura militar naquele país instalada – havia desabafado, resume-se a isto: “pátria ingrata (…) Há muito que conversar, e , ainda que não houvesse, a gente fica a olhar um para o outro, verificando como o tempo e Portugal nos devoram.” [Read more…]

A direita, a traição e as putas

Em 1383 o grosso da nobreza, principalmente a detentora do morgadio, tomou o partido de João de Castela. Em 1580 repetiu-se o filme, desta vez apoiando o rei Filipe. Em 1640 saem a correr 40 aristocratas, em desespero, porque a populaça andava a fazer alterações nas ruas, não apenas contra o rei Filipe III mas já contra todo o poder que a empurrava para a absoluta miséria.

Ainda podia acrescentar uns episódios oitocentistas. É sempre assim, a nossa direita anda sempre com a pátria na boca mas trai por tradição Portugal quando chega a hora da verdade.

Recordo isto na semana em que dois pré-ocupantes alemães começaram a verbalizar o que se vai seguir: humilhação internacional de Portugal através da sua máquina de propaganda, até ao estádio grego actual e o que se vai seguir.

O silêncio da nossa direita (nem toda, é verdade, mas da maioria) tem o ensurdecedor rufar da História. Sempre as putas do costume.

Apostar na língua pátria melhorará o Direito?

Com a aceleração dos cursos jurídicos e dos mais, em resultado da Declaração de Bolonha, há como que um abreviar das preocupações sobre que deveriam repousar os planos de estudo.

Curial seria que – com a deficiente formação, no geral, a português – houvesse logo no primeiro ano dos cursos jurídicos ou num “ano propedêutico” uma disciplina anual, a “hermenêutica jurídica”, susceptível de habilitar o escolar de leis a dominar as técnicas de interpretação, a aprofundar os conhecimentos da língua pátria, a ler de forma escorreita um texto jurídico, a fim de contrariar o quadro que ora se oferece que é o de chegar ao termo da formação escolar sem a destreza da língua, sem se alcançar uma interpretação fidedigna da lei, como diria Pereira Coelho, insígne Mestre com quem servimos em Direito Civil – Família e Sucessões, na Coimbra dos anos setenta do século transacto.

Com a agravante de que leis mal feitas exigem uma superlativa formação a português, que ora falece a quantos demandam a Universidade e os politécnicos.

E o fenómeno das leis mal feitas espalha-se como uma nódoa por todo o tecido do ordenamento jurídico.

Estranha-se que as escolas de direito (nas condições em que de tal se possa falar…) não sejam sensíveis ao fenómeno e nada façam para alterar o statu quo…

Mais tarde ou mais cedo… alguém terá de fazer algo para que se regenere a situação de clamorosa penúria no que tange à língua e da metodologia da interpretação da norma que aos juristas se impõe dominem.

A Tertúlia do Cafeína:

No Cafeína – Fooding House (Porto) reuniu, na passada quinta-feira, uma tertúlia dinamizada por um conjunto de 40 “tertulianos” do Porto. Sob o olhar atento de umas “Lulas Recheadas com Gambas, Puré de Açafrão e Chutney de Pimentos”, deliciosas, segundo palavras dos comensais presentes, o tema foi “Portugal em 2015”.

A convite de Rosa Carvalho (Jornalista), António Lopes (Médico), Pedro Froufe (Advogado) e Pedro Nunes (Médico), juntei-me a este grupo heterogéneo de homens e mulheres do Porto e com eles partilhei ideias e assimilei conhecimentos. Desta vez fui apenas tomar café mas prometi que a partir de agora serei assíduo e atento participante nesta tertúlia portuense.

Os monárquicos presentes foram duros nas palavras: “Em 100 anos a República escavacou a Mãe Pátria”, recordando que “hoje o aparelho sucede ao aparelho num verdadeiro sistema monárquico republicano”. Entretanto alguém lembrou: “Fomos à Índia e 500 anos depois continuamos cansados por tamanho esforço”. Pode ser impressão minha mas noto um crescimento do sentimento monárquico em importantes franjas da sociedade portuguesa. Estranho. Pode ser mera impressão.

Mas como o futuro era o tema, as ideias surgiram em catadupa: “Em 2015 a Europa estará em decadência” e rumo “à desagregação” ao que alguém contrapôs que por essa altura “viveremos em comunidades mais ecológicas, privilegiando a qualidade de vida e o respeito pelo meio ambiente”. Do fundo da mesa alguém atirou, “a Europa Central não olha para nós (Europa do Sul) como parceiros mas como um corpo estranho”. A ideia maioritária, pareceu-me, foi a de uma Europa e de um Portugal bem pior em 2015 do que aquele que temos hoje.

As opiniões são como as cerejas mas é com satisfação que vejo renascer, aos poucos, o tradicional espírito portuense de tertúlia e com prazer passo a integrar esta “Tertúlia do Cafeína” que uma vez por mês, entre deliciosos pitéus, discute a Pátria e outras desditas.

…oxalá não acabes fugido à Justiça

Um militante do PS, Armando Ramalho, hoje no Público escreve uma carta aberta a José Sócrates de uma frontalidade desarmante. Tem 35 anos de militância no partido e trata o secretário- geral por tu.

“…Qualquer militante com alguns anos de partido recordará, no mínimo, que os dois últimos secretários-gerais, por razões diversas, abandonaram o partido e o país. É uma triste sina, de facto, ,só falta saber o que te levará daqui para fora, a Lei ou a tua consciência. Faço votos para que não sejas varrido da mesma forma que os socialistas italianos, fugidos à justiça”

“…sim,só eu e milhões de portugueses não sabiam nem sabemos até onde queres levar este povo…vais acabar mal, é mais do que certo, não sabemos até onde podes arrastar contigo a própria pátria. Basta, não queiras ficar como o último e único aprendiz de feiticeiro que a liberdade de Abril gerou.”

“Bettiino Craxi de seu nome, tinha outra agenda a cumprir, como mais tarde todo o mundo soube, paz à sua alma. E à do PS italiano e à do seu irmão-inimigo da democracia-cristã, tambem.”

“…não fabricas dinheiro, e esse facto tão banal vai virar todos contra ti, o povo é cruel, sem música não há festa, e a tua festa acabou.”

“Tecnicamente, é possível uma saída de cena digna e constitucional, artigo 195, alínea b) : a aceitação, pelo Presidente da República, do pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro. Constituição da República. Para o bem do país e daqueles que dignamente e convictamente ainda acreditam na tua boa fé.”

"Sinto vergonha de mim"

Clube dos Poetas Imortais: Daniel Filipe (1925-1964)

Ouvimos o belo poema de Daniel Filipe, «A Invenção do Amor», muito bem dito por João Manuel Alves e seguido por uma canção de Pedro Abrunhosa inspirada no poema. Daniel Filipe é um poeta, nascido em Cabo Verde, mas que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX – no entanto, não vamos com isso criar um problema com os nossos irmãos cabo-verdianos – digamos que ele pertence aos dois países – a Cabo Verde porque lá nasceu, a Portugal porque aqui viveu, sofreu, amou e escreveu a sua poesia maravilhosa.

 

Além dos livros que nos deixou, foi um activista cultural e político. No final da década de 50, trabalhou na delegação do Porto do jornal lisboeta Diário Ilustrado. Cordial, amistoso, grande contador de histórias, depressa se relacionou com um grupo de escritores antifascistas como ele – Egito Gonçalves, Papiniano Carlos, Luís Veiga Leitão e outros. Com este grupo ajudou a criar as «Notícias do Bloqueio», título de um poema de Egito Gonçalves e de uma série de nove «fascículos de poesia», publicados no Porto entre 1957 e 1961. A PIDE prendeu-o porque animação cultural para aquela gente significava «agitação social» (talvez não o tenham prendido só pela sua actividade cultural; mas também). Foi, segundo consta, barbaramente torturado. Morreu em Lisboa com 39 anos.

Não tive o prazer de o conhecer. Vi-o uma vez ou duas, disseram-me – «Olha, é o Daniel Filipe, o da “Invenção do Amor”», mas nunca falámos. Fora um dos organizadores dos Encontros da Imprensa Cultural, ou melhor, organizou o primeiro, no qual não estive. Participei no segundo em Cascais, em Julho de 1964, quando ele acabara de falecer. Na foto que encerra o texto  documenta-se o momento em que nesse II Encontro, se guardava um minuto de silêncio em memória de Daniel Filipe, fundador daquele movimento e grande poeta.

 

Daniel Filipe, nasceu em 1925 na ilha da Boavista, em Cabo Verde, e faleceu em Lisboa no ano de 1964. Jornalista e funcionário da Agência-Geral do Ultramar. Dirigiu o programa «Voz do Império» na Emissora Nacional. Foi preso pela PIDE, sendo submetido a tortura. Entre a sua obra destaca-se: «O Viageiro Solitário» (1951), «A Invenção do Amor» (1961) e «Pátria Lugar de Exílio» (1963), colectânea de que seleccionei um fragmento da 3ª Canção:

            Pátria, lugar de exílio

            geométrico afã

            ou venenoso idílio

            na serena manhã.

 

            Pátria, mas terra agreste;

            terra, apesar da morte.

            Pátria sem medo a leste.

            Lugar de exílio a norte.

 

            Pátria terra, lugar,

            cemitério adiado

            com vista para o mar

            e um tempo equivocado.

 

            Terra, débil lamento

            na temerosa noite.

            Sobre os carrascos, vento,

            Desfere o teu açoite!

 

No II Encontro da Imprensa Cultural, realizado em Cascais em Julho de 1964, guarda-se um minuto de silêncio em memória de Daniel Filipe. Este encontro foi presidido por Manuel Ferreira, ao centro. O escritor catalão Fèlix Cucurull é o sétimo, da esquerda para a direita.

 

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