Nem tudo pode ser atribuído à natureza – o corrupto governo moçambicano tem a sua quota-parte de culpa

Michael Hagedorn

Sem dúvida que a ajuda às vítimas do ciclone IDAI é imperiosa e premente. Mas nem por isso há que fechar os olhos ao contributo do governo moçambicano para esta tragédia e para a situação miserável em que o país se encontra.

A última grande catástrofe com fortes cheias em Moçambique foi há quase 20 anos e, nesta época do ano, o país é regularmente fustigado por devastadores ciclones.

Mas o que foi feito, depois da calamidade ocorrida em 2000, para evitar que as consequências das próximas fossem tão dramáticas? Nada. Uma elite corrupta não fez nada para assegurar que na segunda maior cidade do país, que está praticamente ao nível do mar, fossem realizadas medidas concretas e eficazes para proteger as pessoas dessas devastações cíclicas. Desde o fim da guerra em 1992, o nível de vida da população pouco melhorou. No relatório da ONU sobre a pobreza, Moçambique ocupa o 180º lugar entre 186 países. [Read more…]

A véspera (rutilante) do futuro (ainda) adiado

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Ela era linda. Morena, como ainda convém hoje aos meus olhos, fiéis a esse tom de pele inultrapassável e absoluto. Tinha 17 anos; eu, 23. Partilhávamos ao jantar a mesma sala, as mesmas mesas (uma em frente da outra) e trocávamos olhares desde o primeiro dia em que entrei na Tubuci para uma das especialidades da sua cozinha. Eu estava fardado, ela vestia de negro. Quando a via de negro, deixando faiscar os seus incríveis olhos verdes num contraste de sonho, todo eu me derramava por dentro e deixava que a minha energia voasse pela sala ao seu encontro.

Decidimos namorar aí por finais de Fevereiro. Exacto, nos meus anos. Ia buscá-la ao liceu, ficávamos a semear beijos e a cultivar a ternura até quase à hora de jantar. Depois, chegavam os meus camaradas de mesa, ela ia deixar os livros ao quarto e descia.
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