
“LARGOS DIAS TEM ABRIL”

Ver a nossa Esquerda a citar o tio Kissinger…
…era a última coisa que eu esperava ver em vida. Um dia não são dias e se é para o citar, nada como este belo exemplo:
Não deve ser o mesmo. É um primo. Pela certa. Não falta muito e citam o Ventura…
25 de Abril: de 1974 a 2018
Não tenho dúvidas. 25 de Abril de 1974 foi o dia mais importante das últimas décadas na História de Portugal.
Não mudou apenas o regime nessa data.
Para o melhor e para o pior, o país redesenhou-se, abandonou ideias imperiais, virou-se para a Europa, garantiu direitos para os cidadãos, socializou funções do Estado, combateu o analfabetismo e a pobreza extrema, aboliu bairros-de-lata, abriu fronteiras a outros povos, mas também escancarou portas a novas clientelas oportunistas e deixou que se instalassem pseudo-elites resultantes dos equilíbrios então gerados e das dinâmicas de mudança.
São estas que agora discursam no parlamento e nas celebrações. Corrompidas e demagogas, fizeram das encenações oficiais o Dia das Belas Intenções e juram nesta data aquilo que proscrevem durante o ano.
Neste 25 de Abril que já não é do povo ouve-se falar em povo. Também em justiça social, em diminuição das desigualdades, em combate à corrupção e à acumulação de riqueza não tributada, etc.
Contudo, se antes o problema era o 24 de Abril, agora o que é preciso mudar é o 26 de Abril e os dias que se lhe seguem.
Acróstico de Democracia
O ditador que caiu da cadeira
Quando começou a tocar a música
A borboleta libertou-se da gaiola
O dia da liberdade
Leonor Pinto, 7 anos
O dia da liberdade é o dia em que começou a Liberdade no país de Portugal, as pessoas começaram a ser livres no dia 25 de Abril. Antes disso, as pessoas viviam sem liberdade, sem dinheiro, o Salazar proibia as pessoas de terem emprego, bastava dizerem qualquer coisinha que não boa sobre o Salazar que iam logo presas.
Ninguém podia comer porque toda a gente era pobre e tinham de rapar os tachos se queriam comer, até chegar o dia 25 de Abril de 1974.
Nesse dia, começou a liberdade, mas é pena que em alguns países ainda seja assim.
“Portugal 74-75” – O retrato do 25 de Abril
Um excelente documentário com a assinatura de Joaquim Furtado, José Solano de Almeida, Cesário Borga e Isabel Silva Costa – RTP
não ter nenhum mês senão Abril
Guilherme Portugal – 18 anos
Abril são muitas palavras, nós conhecemo-la por revolução, essa onde tanques dispararam pessoas aos abraços, e muitos cantares, e era a nossa liberdade que começava no outro e acabava nos outros tantos que ainda estariam por começar. Glossolalia aos versados no discurso da força prepotente da força, mas dia 25 ninguém falava mais português do que qualquer cravo. Não a certeza da presença de um ouvido rente à porta, mas de uma porta rente à página, à nota melodiada, ao discurso urrado. Ninguém entendeu, mas perigoso e infeliz é começar a entender. Perdemos Abril quando formos entendidos nele – chamá-lo de Abril, colocar-lhe dicionários à frente, convencendo-o de que é um mês e não um poema violento de amores. Deixo-vos nos plantares, palavras flores, hoje só anoitece às oito e meia:
Escada que desanda
de cada cadência colorida de um segundo,
cada um, cada essência.
Tão labirinto como escrever ou pôr letras no papel ou redigir.
Digo que andar é desfrasear e destruir, e como emenda,
vai-se buscar água-palavra à fonte (tu) como poema-cantil,
viver a escrever é não ter nenhum mês senão Abril.
(imagem daqui)
Um Equívoco Democrático em Ruílhe
“Natal “impõe-nos” a tolerância! Transforma-nos e faz-nos perceber, que vivemos efectivamente em comunidade”
Esta é uma das frases que se pode ler na mensagem de Natal da página da Assembleia de Freguesia de Ruílhe (Braga), assinada que está pelo seu jovem presidente, Hugo Miguel Vilaça Martins.
Por ocasional coincidência, estas frases – mas assinadas por vários autores – aparecem, por exemplo, nos sites da JF Avanca (Estarreja) e JF São Miguel (Açores), assim como também no site da JF da Salga (Açores) e no da JF de Gême (Vila Verde).
Enfim, um texto emotivo, pessoal, pessoalizado mas assinado por muitos autores em simultâneo em geografias muito distintas.
No caso de Ruílhe, uma mensagem aparentemente duplicada (quem plagiou quem?) tinha aparecido no mesmo site oficial da AF de Ruílhe há um ano, no Natal de 2013. Na altura como agora, foi publicamente chamada a atenção para o facto por vários cidadãos na página de facebook daquele orgão democrático.
A façanha da duplicação de textos emotivos mas com autores diferentes repetiu-se agora e ontem, novamente, tal foi comentado na mesma página. E, novamente, o jovem presidente da Assembleia de Freguesia de Ruílhe não terá gostado do reparo e, num esquema evolutivo e perigoso, removeu vários comentários sobre este assunto, inclusive o meu comentário.
Não contente, o presidente deste orgão democrático, Hugo Miguel Vilaça Martins, bloqueou totalmente o acesso a pelo menos duas pessoas que educadamente havia feito o comentário.
Quem perde com este comportamento despótico e fascista?
Perde a freguesia de Ruílhe, perdem os ruilhenses. Merecem melhor, merecem o melhor possível.
Perde a democracia portuguesa ao ver-se violentada por um jovem, mais jovem que a própria democracia. E isto é particularmente assustador.
Perde o presidente da Assembleia de Freguesia de Ruílhe. Perde a oportunidade de se livrar de um embaraço escusado, retractando-se e, com isso, elevando-se a ele e ao orgão a que preside.
Em democracia, falhar é muito normal (só não falha quem nada faz); insistir no erro é pedante.
Fico a aguardar o pedido de desculpas. Fascismo nunca mais.
uma contagem pessoal dos 40 dias para os 40 anos do 25 de Abril
Sob motes diversos, usando quase sempre um poema, uma canção e uma imagem, comecei a contar os dias que faltavam para os 40 anos do 25 de Abril, a 16 de Março.
Contei 40 dias.
Estão aqui.
25 de Abril no Porto – Avenida dos Aliados
Foi assim o dia 25 no Aventar
O Aventar agradece as colaborações recebidas. Daqui a outros 40 (ou antes) há mais.
A seguir, os artigos do dia 25 no Aventar. [Read more…]
Autor convidado – Tito Lívio Santos Mota
E o ar ficou mais leve
Tito Lívio dos Santos Mota
De manhã levantei-me, comi a correr os corn-flakes e fui para o Liceu, sem ouvir notícias nem nada. O comboio chegou mais ou menos à hora, como de costume. Nada para assinalar até chegar ao largo do recreio. Estranhei ver os colegas em pequenos grupos que falavam baixo, com o Reitor e os outros professores, ar solene, que nos esperavam. « Houve um golpe de Estado, o liceu está fechado, façam o favor de voltar para casa ». Voltei. Desci a encosta até à Estação de Vila Franca de Xira, apanhei outro comboio e cheguei a Alhandra sem perceber bem o que se passava. Ao entrar em casa, dei com a minha avó que dançava e chorava e ria ao mesmo tempo, em frente do rádio-móvel que emitia comunicados. A minha avó sempre comedida, tão entusiasmada ? percebi logo que algo de bom acontecera, que era um « golpe bom ». [Read more…]
O 25 de Abril dos escroques
Estive na segunda-feira ao lado do Otelo, numa comemoração organizada pela Junta de Freguesia de Rio Tinto. Senti uma emoção contida. Contida porque, aos 43 anos, já não tenho idade nem disposição para me sentir arrebatado seja por quem for.
A verdade é que uma das maiores frustrações da minha vida é não ter vivido o 25 de Abril. Acabara de fazer 3 anos e, numa família de consciência política duvidosa, o acontecimento deve ter suscitado mais preocupação do que alegria. Diz quem se lembra que o meu pai, por esses dias, andava numa fona a rasgar tudo o que tinha em casa sobre salazar. Obrigava toda a gente lá em casa, ao que parece, a levantar-se quando começava o hino nacional com que terminava a emissão diária da rtp.
Sinceramente não sei se foi asim. O que sei é que fui criado segundo os ditames de um catolicismo do qual, hoje em dia, fujo a sete pés, e num ambiente de direita em que o psd era sempre a escolha no momento do voto.
40 anos depois, cá estamos a comemorar o 25 de Abril, como se realmente tivesse mudado muita coisa em relação ao dia 24. Enquanto os bravos Capitães faziam as suas comemorações num Largo do Carmo que foi palco e cenário de um dos maiores portugueses do séc. XX, no parlamento um bando de escroques, que ostracizou os únicos que realmente fizeram e quiseram a Revolução, debitava um conjunto de palavras ocas e lugares-comuns. [Read more…]
Autor convidado: Cristina Torrão
Cristina Torrão
O meu 25 de Abril
A aula não tinha começado há muito tempo, quando a professora foi chamada à Diretora. Ao regressar, lançou, muito aflita, a caminho da sua secretária e sem olhar para nós, as suas alunas da 3ª classe:
– Ide para casa, hoje não há escola!
Além de ansiosa, parecia muito irritada. Nós perguntávamo-nos se tínhamos aterrado no filme errado. Aquele dia havia começado igual aos outros e, de repente, dava-se uma viragem que não estava prevista no guião. Tínhamos acabado de chegar, de abrir os cadernos e os livros, de afiar os lápis… E porque estava a professora tão nervosa?
– Não me ouvistes? Guardai as vossas coisas e ide embora!
Já muito inquietas, desejávamos uma explicação daquela em quem confiávamos. Mas ela, atrás da secretária, arrumava os seus pertences, ruminando:
– Isto até pode dar em guerra… Não sei. Não sei o que se vai passar. Uma chatice, uma grande confusão!
Desandou dali, abandonando-nos à nossa sorte. [Read more…]
Autor convidado – Maria Helena Loureiro
“O dia inicial inteiro e limpo…”
Maria Helena Loureiro
O rádio despertador acordou-me cedo, à hora do costume, que a primeira aula do dia era Inglês II com o John Byrne e eu não a perdia por nada deste mundo. Saltei da cama, fui tomar banho e, de regresso ao quarto, ouço “…desencadearam na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do País do regime que há longo tempo o domina” “Olha”, penso eu, “lá se lixou o Selassie!” que as coisas, desde janeiro, andavam sérias para aquelas bandas e logo ligo o secador de cabelo. Mas o barulho que abafava as palavras não disfarçava a música sem coro ou refrão e acabei por desligar o aparelho e ali ficar, especada, escova numa mão, secador na outra, ouvido na rádio. [Read more…]
O 25 de Abril como Eu o Vejo
Quarenta anos depois, resumo-o a isto.
Não tenho muito mais a dizer.
Autor convidado – Mário Fernandes
Que os 40 anos da revolução de abril sirvam para unir esforços e gerar esperança!
Mário Fernandes
Uma das melhores formas de celebrar o 40º aniversário da revolução de abril era aprovar a redução do número de deputados, a limitação do número de mandatos, bem como o seu desempenho em exclusividade!
Completam-se na próxima semana os 40 anos do «25 de Abril», aquela data mágica que restituiu a democracia e a liberdade às portuguesas e aos portugueses. Com sete anos de idade, à data, não posso dizer ter experimentado o anterior regime, ditatorial, os meus pais sim, mas posso afirmar a lembrança que tenho daqueles dias de abril de 1974, pois existem três palavras que me foram ficando na memória: «revolução», «liberdade» e «povo». [Read more…]
Memórias do meu Abril
Há 40 anos vivia num aldeia da zona oeste, num vale assente entre montes, onde só ia quem tinha que ir, pois não era zona de passagem. E esse isolamento sentia-se na mentalidade das pessoas, fechadas sobre si próprias, sobre o trabalho nos campos, ao ritmo da migração da geração mais nova para a zona da Grande Lisboa e sobre a vida uns dos outros. Os homens usavam um barrete preto com uma borla na ponta, que servia também para guardar o tabaco e as poucas moedas que tinham disponíveis para o dia a dia, as mulheres vestiam-se de escuro, e na hora da missa usavam véu sobre a cabeça.
A vida das mulheres resumia-se à casa, a lavar no chafariz (já que água canalizada era uma miragem, tal como a luz eléctrica em muitas delas) e a alguns pequenos trabalhos no campo. Era o Portugal do “respeitinho é muito bonito” e o homem é que mandava na casa, na mulher e nos filhos.
Os meus pais eram muito jovens, na casa dos 20 quase à beira dos 30, mas tinham já feito uma incursão pela estranja. Meu pai tinha emigrado primeiro, com uma das famosas autorizações de Salazar, depois de ter passado 31 meses, em Alto Moloqulé, em Moçambique, em plena zona de guerra, onde vira morrer muitos dos seus camaradas. Primeiro partira ele, com contrato de trabalho, mas sem casa. Mais tarde juntar-se-ia a minha mãe e, só tempo depois, tinham voltado para me vir buscar.
Memórias com quarenta anos
Era madrugada alta quando acordei, estremunhada, com o telefonema de António Valdemar que, à janela da sua casa na Avenida da Liberdade, estava a ver passar os primeiros blindados. Que ia já ter com ele, respondi. Queria lá saber de recomendações dos militares para não sair: nunca tinha visto uma revolução,nunca tinha votado, nunca coisa nenhuma por causa da ditadura, não faltava mais nada do que não ver como era. Mas antes de sair, telefonei a todos os meus amigos que tinham filhos pequenos: que não deixassem as crianças ir para a escola de manhã cedo e ligassem o rádio. E porta fora. Estava uma madrugada fresca, macia, perfumada, dava gosto subir até ao largo e descer ao saltos as escadas da Praça da Alegria. Eu morava numa rua de fronteira entre o Bairro Alto e o Príncipe Real, a dois passos do SNOB, o bar que era poiso certo de jornalistas, e a casa do Mestre Agostinho da Silva, que pelas sete da manhã era certo a dar milho aos pombos no largo, pretexto meigo para meter conversa com os trabalhadores que partiam para a labuta diária e, sem saberem porquê, adoravam aquele velhinho que falava tão claro quando lhes contava histórias que os faziam pensar. Não era longe, também, do restaurante onde jantava todos os dias, o Rina, que era o nome da patroa, na Travessa dos Fiéis de Deus. Sempre os mesmos, amesendados ali por anos a fio: Edite Soeiro, Acácio Barradas, José de Lemos, Urbano Carrasco, Artur Agostinho, Joaquim Benite, Fialho Gouveia, António Soares, o pintor, malta do teatro e dos fados, com Maria da Fé à cabeça, enfim receita garantida para estarmos ali sem cerimónia, como em nossa casa, até às tantas. Às vezes a Rina chegava-se a nós, mansa, a pedir que nos fossemos embora para outro lugar porque tinha de se levantar muito cedo, e nós obedecíamos. Como naquela noite em que, absolutamente em brasa, todos discutimos a Lei de Imprensa que os liberais, liderados por Francisco Sá Carneiro e Francisco Balsemão, levaram à Assembleia Nacional, na esperança de travarem a censura. José Carlos Ary dos Santos chegou, sentou-se junto a nós e logo entrou na discussão, que prometia entrar pela noite dentro. Lá veio a Rina, com o seu jeitinho maternal, e emigrámos para uma leitaria do bairro que estava aberta toda a noite. E ali voltámos à discussão. A certa altura, o Ary dos Santos levantou-se e foi em direcção aos lavabos, mas sempre a virar o corpanzil para trás, sempre a berrar as suas razões naquela voz (inesquecível). Foi então que o tasqueiro, aflito, lhe gritou: “Oh sor Ary, sor Ary, por ai não, por aí é das senhoras!”. O poeta estacou, pôs a mão à ilharga e perguntou com a cara mais séria do mundo: “E eu sou alguma galdéria?”. Ficou submersa por um mar de gargalhadas a magna discussão. [Read more…]
Autor convidado – Fernando Torres
25 de Abril
Fernando Torres
Tinha 8 anos.
Andava na terceira classe.
Apenas recordo, daquele dia, o facto de se saber da revolução, a meio da manhã.
As aulas foram suspensas.
Na minha freguesia, existiam três escolas primárias.
A escola onde anda, naquela data, distava perto de 2 km de minha casa.
Recordo, como se fosse hoje, que uma das colegas foi para casa numa carrinha de caixa aberta.
Eu, fui a pé!
O 25 de Abril que não vivi
Era uma miúda naquele histórico, admirável e já demasiado distante dia 25 de Abril de 1974. Para ser mais correcta, nem bem uma miúda era. Era assim a modos que um projecto de pessoa.
Tinha exactamente 4 anos e 27 dias. Memórias desse dia? Zero. Nada. Um vazio total. Infelizmente, não era uma menina-prodígio, não me recordo de absolutamente nada, para grande desgosto meu. Nem uma coisinha.
O único momento da pátria que merecia ser recordado e vivido na primeira pessoa e eu, nada! Há coisas que nos deveriam ficar gravadas na memória, mesmo que as não tivéssemos presenciado, mesmo que fôssemos demasiado pequeninos para as sentirmos, para abarcar toda a sua importância.
Mas, então, por que raios estou eu a escrever isto? Escrevo exactamente porque não vivi, mas gostaria de ter vivido. Escrevo porque há memórias que, não sendo originalmente minhas, me dominaram, tomaram conta de mim e passaram a ser minhas, ou, para ser mais correcta, eu é que passei a ser dessas memórias, de tal forma elas são, ainda hoje, ou talvez hoje mais do que nunca, tão importantes. Escrevo porque quero que as minhas filhas nunca tenham que passar por uma ditadura. Escrevo porque acho vital que nos lembremos do que antecedeu esse dia, de tudo o que conduziu ao que foi esse dia, por muito distante que ele nos pareça, por muito que a democracia nos cheire a podre. Antes o cheiro a podre da democracia do que o cheiro a mortos da ditadura.
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Autor convidado – Pedro Andrade
O meu 25 de Abril… uns anos depois do primeiro
Pedro Andrade

Em 1974 ainda não tinha nascido, pelo que não tenho memórias do 25 de Abril. Da minha família também não recebi alguma memória particularmente marcante desse dia. Passei a minha infância nos anos 90, uma época que em retrospectiva parece quase mágica, de “vacas gordas” como se costuma dizer, em que Portugal se encheu de optimismo. Na minha infância e adolescência o 25 de Abril era só mais um feriado, mais um dia sem aulas, e pouco na escola se fazia por nos passar o verdadeiro significado da data. Se calhar porque, passada a revolução, tudo está bem. Como se Portugal tivesse o seu próprio “fim da história”… [Read more…]
Quando os lobos julgam a justiça uiva
No dia 25 de Abril de 1974, de manhã, cheguei ao Liceu de V. N. de Famalicão, terra onde vivia, e não havia aulas. De acordo com o que nos disseram havia mudanças e ninguém sabia muito bem o que se iria passar. Uma coisa ficamos logo a saber, não íamos para a tropa! (ir para a tropa significava, para mim e para os meus amigos, então com 16 anos, ir para a guerra, e falávamos muito disso).
Durante toda a manhã ficamos nas imediações do Liceu, entretanto fechado, em pequenos grupos e a conversar sobre o que ainda não percebíamos muito bem. Lembro-me de dois aviões que passaram nos céus, e não eram os da TAP. De tarde, e depois de mais informações, quer de alguns professores quer de alguns pais, ficamos a saber algo mais. Tudo iria mudar.
Para mim, verifiquei logo uma mudança, alguns livros que havia em minha casa, escondidos pelos meus pais, começaram a estar à vista, junto com os outros. Lembro-me de alguns do Miguel Torga, do Aquilino Ribeiro, e outros, que um amigo de meus pais trazia às escondidas do Brasil (Roberto das Neves, um célebre anarquista, Tomás da Fonseca, etc.). E assim tratei logo de ler alguns desses livros que estavam proibidos. Lembro-me do Bichos, do Torga, e Quando os lobos uivam, do Aquilino Ribeiro. Este retrata o que foi a expropriação violenta dos terrenos baldios (que tem uma administração própria, em regime comunitário) pela administração fascista do Estado Novo, com a consequente plantação de pinheiro em grandes parcelas do nosso território, e que matou a economia local em muitas localidades. O romance descreve essa luta, as perseguições e a repressão, com mortos.
Proibido, pois.
Junto com este havia outro, editado no Brasil, que hoje conservo. Trata-se da transcrição da acusação e da defesa em tribunal do Aquilino por causa daquele livro.
Passados 40 anos do 25 de Abril, relembro esse, intitulado Quando os lobos julgam a justiça uiva.
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