Da literatura à politiquice

Como é habitual num blogue plural como é o Aventar, se um dos autores for visado ou criticado, publica-se a crítica e o autor que se amanhe. É esta pluralidade mais uma das razões que me levam a sentir orgulho de fazer parte deste colectivo.

Assim, foi publicado um texto de Joana Fonte em resposta a uma crítica que fiz a um outro texto desta autora. Passarei, então, a comentar a resposta em que sou visado, um texto carregado de tresleituras e de outros problemas que passarei a enumerar.

  1. Da suposta crítica à referência às habilitações literárias e à filiação partidária

Em momentos diferentes do seu texto, Joana Fonte afirma que critico o facto de se apresentar como mestranda em Ensino do Português e militante do Bloco de Esquerda. Basta reler o meu texto para confirmar que a crítica não é essa. Esclareço, aliás, para quem for mais duro de leitura, que é absolutamente legítimo que a autora apresente os títulos que muito bem entender.

As minhas críticas são outras e passo a repeti-las, pedindo que se leia devagarinho: como mestranda em Ensino do Português, Joana Fonte deveria usar instrumentos que as áreas dos estudos literários e da história literária põem à sua disposição; como militante de um partido de esquerda, escolhe um caminho que, na minha opinião, configura uma perversão dos ideais de esquerda, acumulando com o facto de que esse desvio contamina a visão que Joana Fonte revela acerca de Literatura e de Educação.

2 . Do direito absoluto à opinião

Joana Fonte consegue depreender que eu, ao fazer uma referência implícita à sua juventude (pelo facto de ser mestranda), estaria a defender que a autora não tem capacidade ou experiência para participar neste debate. São, efectivamente, tresleituras em catadupa ou, pior, na minha opinião, reacções de quem não gosta de ser confrontada com opiniões contrárias. Reafirme-se, então, o óbvio: Joana Fonte, como qualquer pessoa num país democrático, tem todo o direito a escrever aquilo que pensa, o que, por outro lado, pode implicar concordância ou discordância. Efectivamente, discordo de quase tudo o que Joana Fonte afirma e penso que, na verdade, as insuficiências que revela estão também relacionadas com o facto de lhe faltar estudo e experiência. Ainda assim, repito: liberdade de expressão absoluta.

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E se aceitássemos a mudança como forma de evolução?

Joana Fonte*

No dia 25 de agosto, António Fernando Nabais recorre à sua liberdade de expressão e publica, no P3, uma resposta ao meu artigo de opinião, citando-me e expondo a sua visão crítica sobre o assunto.
Fernando Nabais envereda por um caminho e uma postura já bastante conhecida por todos nós, a de opor-se a uma mudança cuja necessidade já se torna gritante em todas as salas de aula das escolas. O autor depreende que, por me identificar como mestranda, provavelmente não possuo experiência profissional suficiente para ter feito as ditas afirmações, ou para participar neste debate – engana-se. [Read more…]

E se não mexêssemos nos programas de Português?

Joana Fonte defende, no P3 de 21 de Agosto uma “revisão ao programa de Português”, começando por afirmar que, no ensino secundário, “há alunos que perdem o gosto pela disciplina de Português – se algum dia o tiveram.” Depreende-se, tendo em conta o objectivo da autora, que haverá uma relação entre o programa a rever e a perda de gosto de alguns alunos. Seria importante, a propósito, saber em que se baseia para afirmar que há alunos que perdem o gosto e, sobretudo, se são muitos, poucos ou nem por isso. Estará isso estudado ou é uma mera impressão pessoal?

Nesse mesmo parágrafo, surge um verbo muito usado em discursos sobre Educação, o verbo ‘identificar-se’: “Os e as estudantes lutam por conseguir identificar-se com a linguagem de Fernão Lopes, Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Luís de Camões e Fernando Pessoa.”

Esse ‘identificar-se’ está muito na moda no que se refere, repito, a uma determinada visão da Educação. É sinal de um pensamento que encara o currículo escolar como um conjunto de conteúdos que não causem nenhum estranhamento ao aluno, como se o estranhamento não fosse, entre outras virtualidades, um caminho para o conhecimento, com tudo o que esta palavra deve implicar, incluindo o exercício do espírito crítico (em tempos de proscrição de palavras e conceitos, é estranhamente fundamental reafirmar o óbvio). Assim, o aluno, na Escola, só deveria encontrar a sua própria identidade, como se a Escola fosse um simples espelho e não um território onde deverá encontrar desafios minimamente controlados. Ainda por cima, esta ideia de uma identificação é redutora sob variadíssimos pontos de vista, desde logo porque parte do princípio de que os alunos são um todo uniforme por pertencerem a uma mesma geração.

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