Em defesa da honra de Afonso Henriques e dos que à sua porta acampam

Tem causado alguma indignação nos sítios do costume o acampamento, vulgo acampada, no adro de S. Cruz. Porque é panteão nacional, que está lá dentro o túmulo do rei fundador, uma pouca vergonha.

Convinha recordar aos distraídos que aos 19 anos Afonso foi acampar para S. Mamede. Três anos depois reune em Coimbra, à volta deste mesmo mosteiro que então manda construir, a jovem e em grande parte deserdada nobreza (e clero) com quem iria várias vezes acampar, sentados, a pé e a cavalo, até concluírem um país.

Donde fazem muito bem estes jovens em homenageá-lo, acampando à porta daquele que foi um jovem revolucionário, afrontou o poder então vigente, e aqui mesmo fundou Portugal.

Estou a comparar o incomparável? este pessoal está ali para fazer revoluções, não quer é trabalhar, tem mau aspecto e dali nada de bom há-de vir?

Aos 19 anos Afonso Henriques e os seus devem ter ouvidos tantas vezes o mesmo, que pelo menos nisso claro que se pode comparar.

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Vou mostrar-te como eu era

Naquilo a que agora se chama “redes sociais” encontra-se a cada passo quem utilize como imagem para o seu perfil uma foto da infância. E já ninguém se espanta quando, ao descobrir um amigo ou conhecido nesses espaços virtuais, se depara não com o quarentão que conhece mas com um rapazito sardento e de franja, com vagas semelhanças com aquele que virá a ser.

Recuperadas para um espaço que não é o seu, surgem sempre um pouco tristonhas, essas imagens dos anos sessenta ou setenta, quando não mais antigas, como se se envergonhassem dos calções tão fora de moda ou das trancinhas ingénuas. Estão como peixe fora de água, acabrunhadas por terem sido arrancadas das gavetas ou dos álbuns que as avós foram guardando, e trazidas para ali, tantas décadas depois, e em representação de alguém que não reconhecem. [Read more…]

Um provinciano

Quando o meu filho foi estudar para Milão e depois para Haia, basicamente disse-lhe que ele iria encontrar gente da mesma idade com comportamentos, hábitos e valores diferentes, o que não queria dizer que estavam errados. Cada um de nós resulta das circunstâncias que umas vezes encontramos, outras vezes são as circunstâncias que nos encontram a nós, do ambiente familiar, da educação…

Logo, seria natural que, uma vez ambientado, conhecesse amigos e amigas que o convidariam para sair, jantar e tudo o que um jovem deve fazer. E ele, ou se encolhia na sua concha com medo da vida ou sairia a gozá-la, o que em nada contrariava os valores e a educação que tinha recebido. Deixei tudo muito claro. Perante um hábito sexual, ou de consumo de drogas ou de álcool, a questão resumia-se a explicar que respeitava muito as opções de cada um, mas que aquelas não eram as dele. Sem juízos de valor.

Isso não impediu que eu na minha primeira visita a Milão, depois de ele lá estar, não estivesse próximo de um ataque cardíaco quando percebi que uma amiga dormia no quarto dele em cima de um colchão. Faziam intercâmbio, os de Milão iam passar fins de semana a Roma e Veneza e vice-versa.

Quando eu vim para Lisboa (reparem para Lisboa) o meu pobre pai não foi capaz de me dizer nada, a não ser que sendo eu jovem, havia o perigo de uns gajos mais velhos… enquanto um soluço abafava o que ele não era capa de encarar de frente. Que esses perigos existem e é preciso enfrentá-los.

E lá vim eu de “mala de cartão” na mão e aterrei em Santa Apolónia, onde sou de imediato assediado por um gajo que me diz “é pá, tu não és o Couto?” e eu que sim, e quando dou comigo estava dentro de um mini vermelho, conduzido por um gajo que nunca tinha visto na vida, a atravessar Lisboa, até a um bairro ( que mais tarde soube ser Alcântara) onde me esperavam os amigos de Castelo Branco.

Claro, andei a ser gozado meses seguidos…