As crianças

criancas_golden-hours

Sónia Valente Rodrigues

Enquanto professora, sempre me incomodou nos alunos entre os 6 e os 18 anos a tendência para se divertirem atacando outros (ver alguém sofrer causa divertimento). Enquanto diretora de turma, intervim muitas vezes junto de alunos que, com o ar mais sereno e com a atitude mais bem educada do mundo, me diziam: Mas era uma brincadeira! Nós só estávamos a brincar.
Continuo a ouvir essa justificação ou explicação: fizemos isto ou aquilo ao nosso colega mas era só a brincar (enquanto o colega chora ou sofre sozinho).
Não entendo. Nunca entendi. Qual é a explicação para este comportamento? Como se altera este comportamento?
Vem isto a propósito de um relato de experiência de um menino. Esse menino perdeu o pai aos 9 anos. Aos 11 anos, nos intervalos das aulas, ouvia dos colegas algo como isto:

– Olha, X! Olha ali o teu pai (apontando o dedo para o portão).
Ele olhava.
E os colegas riam-se à gargalhada:
– Ah, pois… Não é, tu não tens pai.

E a seguir: nós estávamos a brincar; não era a sério; estávamos todos na brincadeira.
Esta “brincadeira” foi repetida durante semanas e meses…
ilustração Arthur John Elsley

Memórias submersas

Rita Matos Gomes
©Grete Stern

©Grete Stern

chegou-me à pouco a lembrança, e tomou-me de assalto.
foi talvez pela hora, final de dia, mas chegou pelo cheiro.
era um momento só meu, e de paz total.
tinha todo um ritual preliminar.
primeiro, era o abrir da janela. os adultos insistiam, era primordial.
a seguir, tirava-se de dentro da gaveta do armarinho a caixa dos fósforos.
previamente tinha de vir um dos primos mais velhos, eles só quem detinha o poder e a altura necessária.
então, riscava-se o fósforo, e numa operação demorada tentava-se convencer o velho esquentador teimoso e senil que tinha que acender. muitos fósforos eram necessários .
eu gostava de ficar com esse papel, na ousadia de ficar raspando o pauzinho na caixa, até que ele explodisse numa alegria de chama.
depois, punha-se a tampa metálica e pesada no fundo da banheira de esmalte, com pés de animal em cima de esfera. [Read more…]

Felicidade tem U

Procuro notícias interessantes no PÚBLICO de hoje…

“Tal como nós, os orangotangos e os chimpanzés são mais felizes no início da vida e quando ficam mais velhos (…). A curva da felicidade ao longo da vida tem a forma de um U, os portugueses são mais felizes aos 66 anos. (…) Acontece aos homens e às mulheres, aos solteiros e aos casados, aos ricos e aos pobres, aos que têm filhos e aos que não têm“, disse então o economista Andrew Oswald sobre a crise da meia-idade, quando divulgou os resultados do trabalho na revista Social Science & Medicine.”

“Esperávamos compreender o famoso quebra-cabeças do padrão da felicidade humana e acabámos por mostrar que não pode ser por causa de empréstimos, divórcios, telemóveis ou outra parafernália da vida moderna“, diz Oswald. “Os símios não têm nada disso, mas têm uma crise de meia-idade pronunciada.

Ideias que não passam de estatísticas e estudos para «cientista ver» e que não acrescentam nada à nossa vida.

Mas vamos lá contrariar este estudo e aquele U! E trabalhar para sermos mais felizes na meia-idade!!

P.s.- a felicidade interessa!

O terrorismo começa na infância

mizade

Vários conceitos são debatidos hoje em dia em relação à infância. Cronologia da vida que começa aos quatro meses da conceição do ser e acaba, no dizer dos meus santos padroeiros, por outras palavras os cientistas que leio e debato, pelos quatro ou cinco anos. Com a entrada da criança no entendimento da História, na racionalidade de não ser o único na terra, nem o mais amado entre todos os seus pares e/ou membros de família. Em síntese, no entendimento de ser mais um membro do grupo social que o acolhe, ama, forma e educa ou faz dele um membro da heterogeneidade social. [Read more…]

O mundo da infância – I

troços do novo livro que escrevo

Tchaikovski Album for children

Parece um mundo feliz, especialmente se o bebé que nasce é resultado de uma grande paixão. As paixões têm a sua história pessoal e privada, como essa, que anos mais tarde, produziu o bebé deste ensaio. Paixões com cronologia, tempo e espaço que pertencem apenas aos que entram em amores mútuos.

Começava o ano académico ma Pontifícia Universidade de Valparaíso. Ele, tinha, por teimosia e contradizer à família, abandonado a casa paterna, a da cidade e a do fundo (fazenda em língua lusa), onde tinha as suas aborrecidas obrigações, que não gostava, como supervisor do trabalho dos jornaleiros, caseiros, orientar as malhas (trilla, en castelhano chileno), ofensa para ele, que vestia como os jovens da sua classe social, elegantes e bem-parecidos; com a cumplicidade da mãe embarcado num comboio para se transferir a cidade onde existia a licenciatura que lhe apetecia estudar: engenheria. O seu projecto ia fracassando. [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Indíce

  • Prefácio
  • Capítulo I– As culturas da cultura: infantil, adulta, erudita
  • Capítulo II – Amas-me como eu te amo?
  • Capítulo III – É de ti que aprendo a fugir dos meus pais.  A criança significativa
  • Capítulo IV – Vejo e não entendo, pergunto e não sabes. O processo de aprendizagem
  • Capítulo V – Queres que leia. Mas eu pratico para entender os textos. O processo de ensino.
  • Capítulo VI –  Eu sou homem e mando. Eu sou mulher e obedeço. Meninos e meninas.  O comando da ordem social.
  • Genealogias
  • Bibliografia

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Bibliografia

Bibliografia

A Bíblia (500 a.C.-150 d.C.), Verbo, Lisboa, 1976. Há versões anglicanas, católicas romanas, calvinista, luterana, presbiteriana e outras.

Agostinho, Santo (Agostinho de Hipona) (367), o Livre Arbítrio, Braga, Faculdade de Filosofia, 1986.

—, (397), Confessions, Thomas Nelson & Sons Ltd, Londres, 1937.

—, (412-426), La Ciudad de Dios, ed. Porcia, Buenos Aires, 1988.

Alcorão (651-652), Europa-América,Lisboa, 1989.

Allende, Isabel (1982), La casa de los espíritus, Plaza & Janés, Barcelona. [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Genealogias

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O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo VI

Capítulo VI

Eu sou homem e mando. Eu sou mulher e obedeço. Meninos e meninas.

 O comando da ordem social

“Gostava de ir como a Bertita, toda de branco como se fosse noiva. Pai, deixas-me?”, perguntava a “pequena do pai”, na medida em que ela pensava que ele mandava e decidia; e, ainda, porque era dele que dependia a celebração de um ritual associado a uma crença de Vilatuxe pouco praticada em casa. A conversa passou-se há quase 20 anos, numa aldeia galega onde pai e filha eram moradores conjunturais. E girou à volta de uma crença confessada em público e posta em dúvida em privado. A pequena, aliás, sabia que o pai pouco se importava com esses assuntos e que, adulto como era, pouca atenção ia dar ao seu pedido. Assim, com um misto de confiança que [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo V

Capítulo V

Queres que leia. Mas eu pratico para entender os textos. O processo de ensino.

Pega no livro

Frase que eu já tenho utilizado (Iturra, 1990) e repetido várias vezes. Mais ainda, frase que corresponde à forma como o pequeno é tratada dentro dos seus grupos. Denomino processo de ensino os actos institucionais que regulamentam a vida das crianças para que entendam a interacção para além do lar. Já afirmei noutro texto (Iturra, 1994) que há pequenos desejosos de serem admitidos na instituição que vai regulamentar a sua vida, assim como a de todo o seu grupo. Talvez que, entre adultos e pequenos que moram num mesmo sítio e estão próximos, exista uma diferença no entendimento do processo. Bem sabemos que o processo de ensino é entendido de forma diversa, e vai desde o desinteresse pela assistência à escola, ao sentimento de obrigatoriedade de assistir, como a lei manda. Assunto que remeto quer para os meus textos (Iturra, 1990b, 1994a e 1994b), quer para os estudos feitos pelos historiadores da educação. [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo IV

Capítulo IV

Vejo e não entendo, pergunto e não sabes. O processo de aprendizagem

Tu fazes, eu observo

Quando falava deste tema a um conjunto de antropólogos de outro país, um deles disse: “o professor pensa que os pequenos são como Kant, racionais; mas os pequenos, se alguma coisa os caracteriza, são serem ignorantes e terem de obedecer ao que nós, os pais, mandamos.” Calei-me. Não quis responder ao dito académico que de certeza ama o seu pequeno, mas não lhe consegue atribuir mais conhecimento e saber que o que ele tem adquirido no seu doutoramento universitário. Que o pequeno não tenha aprendido [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo III

Capítulo III

É de ti que aprendo a fugir dos meus pais.  A criança significativa

 A questão

Nunca mais esqueci como desapareciam os chocolates. A pequena estava proibida de comê-los e, no entanto, a casa estava cheia deles. Resultado: a criança era punida e recebia homilias sobre os seus malefícios – de como faziam mal aos intestinos, tiravam o apetite e estragavam os dentes. Eu próprio nunca me tinha apercebido que os adultos introduzem as suas contradições na interacção com as crianças, mesmo sob a forma de mimos. Nos nossos hábitos, o [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo II

Amas-me como eu te amo? Os ciclos de vida

A questão

Parece uma matéria impossível de ser pensada por parte das crianças. No entanto, julgo ter percebido que, na interacção adulto-criança, há uma ponte emotiva nem sempre fácil de cruzar. Porque não há ensino de relações emotivas, elas existem de forma diferenciada através dos tempos (Mead, 1933; Fortes, 1959; Süskind, 1984) e das culturas (Godelier, 1996; Bourdieu, 1972; Netting, 1981; Iturra, 1988, 1990 e 1995c). A afectividade, especialmente quando se trata da relação entre o adulto e a criança, constitui um dos aspectos mais difíceis e controversos nas sociedades. Nos grupos que tenho estudado, no período que vai do nascimento à puberdade, o sentimento de pertença dos pequenos aos adultos, bem como o sentido de posse que os adultos têm dos pequenos não é questionado. E, no entanto, há uma emotividade que [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Capítulo I

CAPÍTULO  I

AS CULTURAS DA CULTURA: INFANTIL, ADULTA, ERUDITA

A questão

Miguel (v. Genealogia 1), o neto do Marques, queria uma bicicleta. Conseguia equilibrar-se na minha, que era preta, de ferro e pesada. Seu pai, a trabalhar nas obras de uma cidade longínqua, não tinha dinheiro suficiente para comprar uma; a mãe, jornaleira, guardava o dinheiro para os gastos da casa. Os avós, quinteiros da casa da aldeia onde eu e eles vivíamos, observavam os vizinhos e sonhavam com outra vida enquanto entregavam produtos e dinheiro das vendas aos proprietários. A bicicleta não podia materializar-se, e Miguel Marques sabia; com sete anos, sabia. Mal podia, entrava na garagem [Read more…]

O imaginário das crianças: Os silêncios da cultura oral – Prefácio

Para minha neta Maira Rose van Emden, filha de Cristan van Emden e Paula (née Iturra-González)

I

O processo educativo é aquele que mais marca o quotidiano das nossas vidas e é o mais quotidiano dos processos que orienta o nosso agir. Todo o grupo social precisa de transmitir à geração seguinte a sua experiência acumulada no tempo, como condição da sua continuidade histórica. A intenção de entender a transmissão e aquisição do saber das novas gerações e seu desenvolvimento nas gerações que as acompanham, dá margem a uma disciplina que pretende conhecer, quer os meios, quer as estruturas dos processos de ensino/aprendizagem. [Read more…]

A criança dita incapacitada – Portugal nestes dias com um PM demissionário

Para minha amiga Ana Paula Vieira da Silva, que inspirou a ideia deste texto.

Escultura de Amitaba, da Dinastia Tang, encontrada nas grutas de Longmen, na Índia.

É-me impossível não criar uma metáfora entre a criança dita incapacitada e a nossa Pátria. Todos amamos esse berço, onde nascemos o fomos adoptados. O problema é que nosso venerado país e os seus sucessivos governos, parece uma criança incapacitada. Se entres as crianças há apenas as ditas incapacitadas, porquê Ana Paula e Eu, por intermediação da Magister Elsa Figueiredo e o Doutor José Manuel Cravo Filipe, obtiveram os seus pós graus no que hoje se denomina criança especial; por outras palavras temos observado que as pessoas adultas parecem ser incapacitadas para governar, criar leis convenientes para o desenvolvimento do país e o seu crescimento económico e financeiro.

 
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Yo, María del Totoral-Ensayo de etnopsicologia de la infáncia-4

casa de adobe, casa de pobre o casa rural

Prácticamente, yo diría que este es el contexto de la vida de María Cecilia, desde pequeña, hasta huir de casa y ganar la vida por sus propios medios, en casa de parientes, como empleada de profesores antiguos que tuvo, como D. Nolfa, un profesor de Corinto, el Sr. Días, etc. No gustaba de vivir en la casa de sus padres, hasta el cambio que ya mencioné, al comprar el padre una casa en Talca que ella trató de ordenar y limpiar. Como dice claramente en su entrevista y en los textos que escribe, no le gustaban las casas de los papás porque ni muebles había. Sus formas de pensar, actuar, recordar, nos hace pensar que la terapeuta que trató de ella y le ayudó a vivir con alegría, es como el caso de Melanie Klein e su análisis de Richard en 1939. [Read more…]

o crescimento das crianças – Tempo e ciclos (3.ª parte – I)

nativo Mapuche,Chile-Argentina, membro do clã Picunche, Chile

B- Tempo

 

Queira lembrar o leitor, que denomino tempo á cronologia. Esse, que era delineado enquanto expunha saber. E pense o leitor, que talvez Jack Goody (1973,1976), bem como os seus mestres Meyer Fortes (1938 e 1970) e Evans Pritchard (1962), todos eles mestres meus também-, tenham tido razão ao correlacionar o tempo e a estrutura dos grupos sociais, entre os quais, o doméstico. Como debato em outro texto (1991). O tempo é o crescimento da experiência. O tempo é a reprodução do grupo. O tempo é o ganhar saber do indivíduo. O tempo, em fim, é a entrada do indivíduo aos vários sítios sociais. Quer a sua entrada ao saber personalizado, quer ao saber do grupo, aberto como um leque. Cada momento da vida, é entendido de forma diferente, conforme a experiência pragmática que a pessoa desenvolve e incute no seu entendimento. Nas suas ideias, nas suas alianças com os outros, nas suas separações dos outros, nos seus lutos, nas suas novas alianças. Victoria é muito característica. Uma pequena Picunche, no seu tempo de criança subordinada ao lar, que vive as experiências dos seus pais, sem dar por isso. Há já dois irmãos e uma irmã, bem mais velhos do que ela, quando ela aparece na História. Germanos, como em Antropologia denominam aos irmãos. Germanos, que já

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as culturas da cultura. infantil, adulta, erudita (I Parte)

ser ou não ser

o menino que não queria ser pastor, em época de crise, não teve opção

1ª Parte excerto um livro meu: O imaginário das crianças. Os silêncios da cultura oral

A questão, 1ª e 2ª edição, Fim de Século. Uso o texto de 2ª edição, 2007

Miguel (v. Genealogia 1), o neto do Marques, queria uma bicicleta. Conseguia equilibrar-se na minha, que era preta, de ferro e pesada. Seu pai, a trabalhar nas obras de uma cidade longínqua, não tinha dinheiro suficiente para comprar uma; a mãe,

jornaleira, guardava o dinheiro para os gastos da casa. Os avós, quinteiros da casa da aldeia onde eu e eles vivíamos, observavam os vizinhos e sonhavam com outra vida enquanto entregavam produtos e dinheiro das vendas aos proprietários. A bicicleta não podia materializar-se, e Miguel Marques sabia; com sete anos, sabia. Mal podia, entrava na garagem da casa, enquanto eu andava pelas ruas e “belgas”1 ou estava ausente, tirava a bicicleta e juntava – se aos amigos que tinham cada um a sua. Filipe Manuel, o pai, ausente nas obras, não sabia. Nem sabiam Elvira, a mãe, longe nas jornas de outras casas, nem o avô Marques, ocupado com a rega e a cava da terra da quinta. A avó Elvira, lavava no tanque, falava à pequena Marta, sua neta, que olhava o irmão, sem nada dizer. A bicicleta não era dele, era de outro que não precisava dela nesse momento, esse outro sorridente e nunca zangado. [Read more…]

Infância pobre é para toda a vida!

Cientistas nos US chegaram à conclusão que uma infância pobre até aos cinco anos marca para sempre o ser humano, não só no seu desenvolvimento mas tambem a nível neurobiológico e na saúde para o resto da vida.

“Descobrimos que as crianças que crescem em ambientes desfavoráveis reagem de forma desproporcionada ao stress, e conseguimos medir isso através de avaliações hormonais e neurológicas, utilizando scanners cerebrais, e mais recentemente com análises genéticas”.

Estes estudos vêm comprovar o que o senso comum já observava, principalmente em pequenos agregados urbanos em que todos se conheciam, quem tinha boas condições de vida singrava quem vivia na pobreza mostrava-o na escola e nas relações com os outros miúdos da mesma idade. E na idade adulta quem é conhecido e venceu são os filhos de quem já naquela altura eram os senhores da cidade.

O ascensor social é muito pouco eficaz, mas grande parte da derrota vem, sabemos agora, do facto da pobreza e dos maus tratos marcarem para sempre a saúde das pessoas e permanecem para toda a vida. Isto mostra que o apoio social não é um custo, é um investimento, porque recupera pessoas para a vida profissional activa e, dessa forma, gasta menos do que ter pessoas que são um fardo social.

Erradicar a pobreza não é só um imperativo civilizacional é tambem um objectivo fundamental para termos pessoas mais capazes de contribuirem para o bem estar de todos!

a rapariga do violino. história de infância

Era a menina mais linda e querida de todas, doce como o mel, não de muitos beijos, subtituidos por palavras bonitas e poéticas. As suas primas a adoravam e não eram capazes de passar sem ela. Ia de casa em casa as visitar e em todas elas dormia, excepto se a avó mais querida, estava só, a Avó Graça, uma mãe para ela.

É verdade que a rapariga do violino tinha a sua própria mãe, querida, mas muito longe, em outro país essa mãe Marta, no mesmo no que morava o tío primo Luís, mas bem mais longe de onde morava o seu pai, Ludgero.

Pai no Brasil, mãe na Inglerra a tirar um curso especial, esse famoso Skype da Avó Mãe Graça, era uma joia: podia vê los e falar com eles como se estivessem muito perto, como costumava fazer com o tio primo Luís. Que a levava as costas, era o seu cavalo.o havia semana em que os pais não falassem com ela e a ouvissem. Os pais no perguntavam da escola, contavam lhe histórias e o que eles faziam.

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Vou mostrar-te como eu era

Naquilo a que agora se chama “redes sociais” encontra-se a cada passo quem utilize como imagem para o seu perfil uma foto da infância. E já ninguém se espanta quando, ao descobrir um amigo ou conhecido nesses espaços virtuais, se depara não com o quarentão que conhece mas com um rapazito sardento e de franja, com vagas semelhanças com aquele que virá a ser.

Recuperadas para um espaço que não é o seu, surgem sempre um pouco tristonhas, essas imagens dos anos sessenta ou setenta, quando não mais antigas, como se se envergonhassem dos calções tão fora de moda ou das trancinhas ingénuas. Estão como peixe fora de água, acabrunhadas por terem sido arrancadas das gavetas ou dos álbuns que as avós foram guardando, e trazidas para ali, tantas décadas depois, e em representação de alguém que não reconhecem. [Read more…]