O interesse dos referendos regionais para Putin

Entre outros anúncios, Putin mostrou hoje pressa na realização de referendos nas regiões ocupadas, sabendo-se, de antemão, que a chamada comunidade internacional, seja qual for o desenlace dos mesmos, nunca os validará nem atenderá aos seus resultados.
Qual, então, o interesse de Putin na sua realização?
Quatro vejo muito claramente sem complexas ilações:
1 – Para consumo interno dos seus cidadãos, poderá anunciar que a “operação especial” está concluída, entrando na fase de defesa do território da própria Federação Russa a partir do momento em que integre essas regiões;

2 – Qualquer contra-ofensiva da Ucrânia, no futuro, a esses territórios na tentativa de os reaver, será encarada pela Rússia como um ataque ao seu país;
3 – Todo e qualquer equipamento militar usado oriundo dos países da OTAN será entendido como uma declaração de guerra da OTAN à Federação [Read more…]

Bucha

assim como Mariupol, assim como tantas e tantas aldeias, vilas ou cidades com nomes até agora desconhecidos e impronunciáveis e que ficarão para sempre na consciência do mundo. Como um ferro em brasa que nos torturará eternamente. Muito, pouco ou quase nada porque, ao contrário do que pretendemos crer, a excelência humana nunca foi tão rara quanto o é hoje.

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Mariupol e a firmeza que nos falta

Esta era a cidade de Mariupol, antes da invasão russa. Desconheço a real dimensão da destruição da cidade, tenho acesso às mesmas fotografias random que vocês, mas vi estas imagens no The Guardian, que me revolveram-me as entranhas. Uma zona habitacional deserta, que parece fumegar do chão, feita de edifícios bombardeados, alguns em ruínas, rodeados por estradas com o piso partido, árvores rachadas ao meio e destroços por toda a parte. Imagens que julgávamos não voltar a ver na Europa, depois da tragédia jugoslava do final do século passado. Estávamos enganados.

O cerco a Mariupol já reclamou pelo menos 5 mil vidas. Feriu gravemente centenas, perturbou mentalmente milhares, arrasou uma cidade e instituiu o terror. Há pessoas com medo, pessoas a chorar, pessoas revoltadas que nada fizeram para estar naquela situação. Pessoas a querer fugir sem conseguir. Pessoas às escuras, sem água canalizada. Pessoas a sobreviver de latas de atum, se a vida lhes estiver a correr bem.

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O ataque à maternidade de Mariupol e a crueldade do nosso fornecedor de energia

O armamento moderno, nomeadamente os mísseis disparados por submarinos, aviões ou viaturas terrestres, têm hoje um grau de precisão quase milimetrico. Quando atingem uma maternidade, como ontem aconteceu em Mariupol, fazem-no com intenção, revelando a crueldade de quem não hesita em disparar sobre crianças para garantir que o pânico e o medo aterrorizarão todos os que ousarem enfrentar o regime.

Desde Moscovo, Putin ameaça com o seu imenso poderio nuclear quem se atreva a entrar no conflito. Lá dentro, esmaga o idealismo daqueles que ainda não perceberam que a resistência durará enquanto a monstruosa criatura não quiser carregar no acelerador. Bombardear uma maternidade é um aviso à navegação, para que não restem dúvidas sobre o nível de violência que estão preparados para exercer. Cá fora, entre gritinhos e anuncios de guerras económicas sem precedentes, os mais liberais dos governantes do centro da Europa não conseguem embargar o petróleo e o gás russo, porque, alegam, não têm alternativa. E, como não têm alternativa, dizem eles, continuam a financiar a invasão da Ucrânia. Como financiamos a invasão da Georgia ou a ocupação da Crimeia. A crueldade do nosso fornecedor de energia não nasceu há 15 dias.

Acham mesmo que Putin está a perder?