Halloween

Confesso que não gosto do Halloween nem do que o acompanha. Mas vi. Os monstros estavam lá. Amontoavam-se em filas, olhos raiados, expressões sinistras, gestos lúbricos, goelas ávidas. Havia mortos-vivos, vampiros, múmias e seus servos menores – os monstros têm sempre servos menores. Todos ululantes, dirigindo os seus impropérios às pessoas que, em frente deles na ampla sala, apesar de inquietas, respondiam conforme as forças que tinham. Mas os monstros eram mais e avançavam. E venceram. Assim, apesar da resistência das pessoas, o Orçamento Geral do Estado foi aprovado.

Fiscocídio sádico

Na sua habitual estratégia de sadismo comunicacional, vários membros do governo foram alternando palpites sobre se a carga (canga?) fiscal que pende sobre os portugueses ia subir, baixar ou manter-se.

1º andamento: baixa a carga fiscal. 2º andamento: talvez suba a carga fiscal. 3º andamento: a carga fiscal mantém-se.
– Sai o OGE e o que nos dizem? Que a carga fiscal se mantém.
– O que vemos nós? Que vamos pagar mais impostos.
– Conclusão: eles disseram “a carga fiscal mantém-se; não disseram manter-se-à”.
Q.E.D.

Informação

Factos ocorridos:
– Um cidadão, cumpridor e trabalhador vai pela rua e, subitamente, é parado por uma meliante. Esta exige-lhe a carteira e rouba-lhe todo o dinheiro. Incauta, a ladra não pediu o porta moedas nem lhe roubou o cartão multibanco. Assim, feitas as contas, restaram-lhe 11.20 € no porta-moedas e 400 € na conta bancária. Todavia, para a vítima, o roubo tinha sido coisa de monta, já que acabara de fazer um levantamento. Ficou, assim, tomado de desespero.

Versão do Telejornal:
Título – “Cidadão obtém ganhos de 411.20€!

– Abordado à saída de um banco, um cidadão, ameaçado por uma alegada assaltante, viu a sua conta contemplada com 400€ e obteve 11.20€ de dinheiro de mão. A assaltante explicou à vítima que era obrigada aquela operação por o seu chefe, estrangeiro, imagine-se, a obrigar a isso. Alegou ainda que o dinheiro de que se tinha apossado se destinava a um bem maior, sublinhando a sorte do cidadão, já que ainda lhe tinham restado meios que ela, se quisesse, poderia ter incluído na importância apropriada. Logo, tais meios eram um evidente ganho. O cidadão conformou-se.”

(Qualquer semelhança com os noticiários que se seguiram à apresentação do Orçamento Geral do Estado é pura coincidência).

Destruição Geral do Estado

o mastro

Em sentido contrário, as transferências para o Ensino Particular e Cooperativo sobem de 238 milhões em 2013 para 240 milhões em 2014.

No Público de hoje.

Aldrabões

O Expresso tem um simulador para o orçamento geral do estado. Ideia interessante, sem dúvida. Vai um cidadão para cortar na despesa, atirando-se ao Ministério dos Juros da Dívida, e dá com isto:

Não é possível editar o valor dos Juros da Dívida Pública uma vez que depende da negociação com os nossos credores.

Desconhecia que estes juros tenham sido negociados. Quanto a um simulador que não simula, o não há alternativas em forma de jogo viciado, estamos conversados.

O orçamento geral do estado


Confirma-se o roubo. Sim, estou a apelar deliberadamente à violência, em legítima defesa, é claro. Pessoalmente continuarei a ser assaltado, apenas mais assaltado. Muitos, principalmente os que vivem pior, serão dizimados. Deste país vai sobrar um mapa.

Claro que podemos pôr as mãos no assunto. Soltem-se a garras de um povo que já tantas vezes já soube dizer Basta, mas que verdade se diga outras tantas se encolheu. É nisso que eles confiam, é disso que se riem, é por isso que temos de lhes abrir as portas de emigração.

Fotografia do Público

A verdade sobre o orçamento geral do estado e a “ajuda” internacional