Dia mundial do orgasmo: reflexões inesperadas

Não sou um estudioso do orgasmo, porque há assuntos que não devem ser tratados nos livros. Para além disso, graças às palavras sábias de Duarte Marques percebi que a frequência de bibliotecas pode impedir-me de lidar com pessoas, expectativas e emoções, tudo coisas úteis para se atingir um orgasmo. [Read more…]

Organizem-se!

Embora resista ao vocabulário obsceno – pelo menos quando escrevo – confesso que a vontade de publicar dois ou três palavrões começa a tomar conta de mim. Antes de me explicar, e cedendo já ao impulso, deixem-me só lembrar uma anedota alarve que me fazia rir na adolescência igualmente alarve durante a qual era preciosa qualquer ocasião que nos permitisse proferir palavreado mais forte. Rezava, então, assim a dita anedota: numa orgia sexual, para apimentar a coisa, resolveram apagar as luzes. Ao fim de meia hora, um homem gritou: “Ó pá, organizem-se! Já me foram três vezes ao cu e ainda não comi nada!”

A troiana Cassandra recebeu de Apolo a faculdade de adivinhar o futuro. Por se ter recusado a favorecer sexualmente o mesmo deus, foi amaldiçoada: ninguém acreditaria nas duas profecias.

Os economistas instalados no poder ou próximos do poder ou os poderosos que falam sobre economia andam há três ou quatro anos a explicar o que deveremos fazer para que os mercados acalmem e deixem de nos atazanar a vida. De cada vez que tomam uma decisão, afirmam que agora é que é, agora é que os mercados vão acalmar, agora vai tudo correr bem, de certeza absoluta.

Foi assim com os PECs socráticos, assim foi com a austeridade crescente do passismo cada vez mais passadista, tal como aconteceu com a Grécia. Com a eleição de Rajoy em Espanha, os entusiastas da seita ergueram as mãos para os céus em agradecimento. Agora é que os mercados iam, finalmente, mesmo, de certeza, acalmar. Surpreendentemente, para quem queira ser surpreendido, parece que não.

Pelo menos, a heroína troiana não cedeu aos apelos lascivos chegados do divino. Os poderosos economistas ou os economistas poderosos da actualidade comungam com Cassandra os discursos sobre o futuro. Ao contrário de Cassandra, não acertam uma e, para cúmulo, não passam de umas putas que dormem com os mercados e com os bancos e com os empresários, enfim, com quem lhes paga.

Pela minha parte, que não pedi para participar neste bacanal, gostaria muito que se organizassem.

Correio da Manhã pode transformar-se num jornal de referência

Todos os dias se confirma o que foi escrito aqui. Numa deriva perigosíssima, o próprio Correio da Manhã põe em manchete um assunto importante, arriscando-se a perder quota de mercado e fazendo lembrar o Jornal de Notícias de outros tempos. Face à crise e aos problemas sociais, o JN garante vendas ao misturar “orgias sexuais” com “José Castelo-Branco” Que podemos esperar desta luta entre titãs da comunicação social? Voltarão, um dia, à senda do jornalismo? Não perca o próximo episódio.