O Barclay Card

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Hoje não foi no supermercado, hoje foi no sagrado momento de uma viagem de comboio; a menina a recibos-verdes-e-comissões do Barclay Card ligou-me para me dar um cartão grátis, uma proposta irrecusável. A menina vai-me desculpar mas não estou interessado. Mas este cartão é muito bom , não traz custos, agradeço mas não estou interessado. Repete o mesmo duas ou três vezes. E por alguma razão especial? – pergunta a resoluta menina. Respondo que com a banca tenho uma relação difícil, da banca só quero distância. Mas passou-se alguma coisa? – não, várias. Mas este cartão é diferente. Não estou interessado. E pode comunicar ao seu director: banca comigo era na linha de tiro, todos. Vou então transmitir, mas este cartão é muito bom. Obrigado. Foram três minutos de tempo deitado fora para mim e para menina que não me conseguiu oferecer um Barclay Card.

Comments

  1. j. manuel cordeiro says:

    Um amigo meu fez uma gira. Pediu à menina se ela podia aguardar um momento. E depois foi à vida dele, deixando a chamada em espera.


    • Obrigado, ficou anotado!


    • Não acho que o seu amigo tenha procedido bem.
      A menina do Barclays é mais uma (pobre) trabalhadora que ganha à comissão. Se vender, ganha umas migalhas; se não vender, esteve a trabalhar para nada.
      Pense nisso.


      • Essa é a única razão a não ter desligado a chamada, Rui Esteves.

      • j. manuel cordeiro says:

        Por acaso até tinha pensado nisso enquanto escrevia. Eu sei que a vida não está fácil e que não vale a pena matar o mensageiro. Mas também não me peçam que seja masoquista.

      • "A menina" says:

        Já pensaram que a “menina” faz esse trabalho porque talvez tenha de pagar a faculdade? Ou talvez tenha de ajudar os pais? Ou pior, talvez tenha ainda que pagar por despesas médicas de uma doença que não estava à espera? Se calhar essa “menina” tem de fazer isso tudo com um ordenado de 200 euros, e, a única coisa que pediu foi que a pessoa a quem ligou dissesse que sim a uma visita de um comercial, onde porventura não teria qualquer compromisso em aderir. Para que apenas ganhasse mais 1 euro (pois é essa a comissão), e, esse pouco já ajuda.
        Pensem na “menina” como alguém que tem trabalho e que o faz de forma honesta, mediante todas as oportunidades que lhe foram dadas na vida.


        • “Menina”,
          Nem eu nem o post põem em causa a dedicação da “menina” ao trabalho que lhe mandam fazer. É outro o sentido do post.
          Pelo contrário, se eu alimentasse a conversa aceitando uma visita comercial… estaria a enganar duas pessoas: eu e a “menina”. Talvez à “menina” não compensasse desabar em mim 15 minutos de conversa ensinada, talvez viesse a sair da conversa mais zangada do que quando chegasse.
          E, “menina”, não chame a esta “coisa” uma “oportunidade” que lhe foi dada: é apenas a perpetuação de uma humilhação.

          • "A menina" says:

            Como está este pais acha que as oportunidades vão ser quais? Pode até ser uma perpetuação de humilhação mas que mais podem fazer os jovens deste pais ? Ainda não terminei a licenciatura e com 1 ano para terminar que esperanças acha que tenho? Mesmo no estrangeiro por muito que falem não está fácil.
            E, claramente não está fácil para ninguém, mas realmente facilitavam o meu trabalho e até o meu estado de espírito se ao menos houvesse sempre a abertura de dizer esses “15 minutos de conversa ensinada”, porque também não é fácil ouvir do outro lado um constante “NÃO QUERO” sem se quer darem a mínima oportunidade de ouvir seja lá o que for.


          • “Menina”
            (comentário 2),

            Lamento não ter para lhe dar uma resposta-solução. Talvez não exista uma resposta-solução única e simples. Mas tenho aquela certeza inabalável que a perpetuação da escravatura não a torna legítima nem a norma.
            Lamento também, profundamente, que se encontra nessa posição a exercer esse papel: gabo-lhe a paciência e a perseverança. Desejo que se liberte desses ferros o mais cedo possível.
            E eu, como tantos, confesso que não conseguiria estar no seu lugar nem por um minuto: por falta de coragem e por falta de fé.
            Tudo de bom.


  2. Como livrar-se de uma chamada do Barclays: Dizer “Mas ollhe que eu não trabalho, estudo” ou “Mas olhe que eu estou desempregado”. Desligam antes de conseguirem terminar a frase.
    De nada.


    • Eu
      Mas isso é enganar a menina!
      Já me aconteceram situações semelhantes, quer ao telefone quer presencialmente e a minha última frase é: não me pediu opinião, mas eu dou-lha, lute por um mundo diferente.

  3. Joana says:

    sim ja pensaram mesmo que quem liga , a tal menina , que o chateia, está a trabalhar , o seu ganha pão, ao menos não sejam mal educados. desemprego e pessoas mal dispostas já chega.
    Só sugestão.
    Obrigada


    • Joana, não sou o único a defender que, não se querendo um produto, o melhor é não prolongar a conversa, não criar ilusões, não desrespeitar alguém que – como diz – está a trabalhar. É deixar-lhe o tempo de vender algo a alguém que queira comprar.