Hoje não foi no supermercado, hoje foi no sagrado momento de uma viagem de comboio; a menina a recibos-verdes-e-comissões do Barclay Card ligou-me para me dar um cartão grátis, uma proposta irrecusável. A menina vai-me desculpar mas não estou interessado. Mas este cartão é muito bom , não traz custos, agradeço mas não estou interessado. Repete o mesmo duas ou três vezes. E por alguma razão especial? – pergunta a resoluta menina. Respondo que com a banca tenho uma relação difícil, da banca só quero distância. Mas passou-se alguma coisa? – não, várias. Mas este cartão é diferente. Não estou interessado. E pode comunicar ao seu director: banca comigo era na linha de tiro, todos. Vou então transmitir, mas este cartão é muito bom. Obrigado. Foram três minutos de tempo deitado fora para mim e para menina que não me conseguiu oferecer um Barclay Card.
O Barclay Card
10/03/2014 by dariosilva
Filed Under: economia, sociedade Tagged With: a banca predatória, Barclay Card
Um amigo meu fez uma gira. Pediu à menina se ela podia aguardar um momento. E depois foi à vida dele, deixando a chamada em espera.
Obrigado, ficou anotado!
Não acho que o seu amigo tenha procedido bem.
A menina do Barclays é mais uma (pobre) trabalhadora que ganha à comissão. Se vender, ganha umas migalhas; se não vender, esteve a trabalhar para nada.
Pense nisso.
Essa é a única razão a não ter desligado a chamada, Rui Esteves.
Por acaso até tinha pensado nisso enquanto escrevia. Eu sei que a vida não está fácil e que não vale a pena matar o mensageiro. Mas também não me peçam que seja masoquista.
Já pensaram que a “menina” faz esse trabalho porque talvez tenha de pagar a faculdade? Ou talvez tenha de ajudar os pais? Ou pior, talvez tenha ainda que pagar por despesas médicas de uma doença que não estava à espera? Se calhar essa “menina” tem de fazer isso tudo com um ordenado de 200 euros, e, a única coisa que pediu foi que a pessoa a quem ligou dissesse que sim a uma visita de um comercial, onde porventura não teria qualquer compromisso em aderir. Para que apenas ganhasse mais 1 euro (pois é essa a comissão), e, esse pouco já ajuda.
Pensem na “menina” como alguém que tem trabalho e que o faz de forma honesta, mediante todas as oportunidades que lhe foram dadas na vida.
“Menina”,
Nem eu nem o post põem em causa a dedicação da “menina” ao trabalho que lhe mandam fazer. É outro o sentido do post.
Pelo contrário, se eu alimentasse a conversa aceitando uma visita comercial… estaria a enganar duas pessoas: eu e a “menina”. Talvez à “menina” não compensasse desabar em mim 15 minutos de conversa ensinada, talvez viesse a sair da conversa mais zangada do que quando chegasse.
E, “menina”, não chame a esta “coisa” uma “oportunidade” que lhe foi dada: é apenas a perpetuação de uma humilhação.
Como está este pais acha que as oportunidades vão ser quais? Pode até ser uma perpetuação de humilhação mas que mais podem fazer os jovens deste pais ? Ainda não terminei a licenciatura e com 1 ano para terminar que esperanças acha que tenho? Mesmo no estrangeiro por muito que falem não está fácil.
E, claramente não está fácil para ninguém, mas realmente facilitavam o meu trabalho e até o meu estado de espírito se ao menos houvesse sempre a abertura de dizer esses “15 minutos de conversa ensinada”, porque também não é fácil ouvir do outro lado um constante “NÃO QUERO” sem se quer darem a mínima oportunidade de ouvir seja lá o que for.
“Menina”
(comentário 2),
Lamento não ter para lhe dar uma resposta-solução. Talvez não exista uma resposta-solução única e simples. Mas tenho aquela certeza inabalável que a perpetuação da escravatura não a torna legítima nem a norma.
Lamento também, profundamente, que se encontra nessa posição a exercer esse papel: gabo-lhe a paciência e a perseverança. Desejo que se liberte desses ferros o mais cedo possível.
E eu, como tantos, confesso que não conseguiria estar no seu lugar nem por um minuto: por falta de coragem e por falta de fé.
Tudo de bom.
Como livrar-se de uma chamada do Barclays: Dizer “Mas ollhe que eu não trabalho, estudo” ou “Mas olhe que eu estou desempregado”. Desligam antes de conseguirem terminar a frase.
De nada.
Eu
Mas isso é enganar a menina!
Já me aconteceram situações semelhantes, quer ao telefone quer presencialmente e a minha última frase é: não me pediu opinião, mas eu dou-lha, lute por um mundo diferente.
sim ja pensaram mesmo que quem liga , a tal menina , que o chateia, está a trabalhar , o seu ganha pão, ao menos não sejam mal educados. desemprego e pessoas mal dispostas já chega.
Só sugestão.
Obrigada
Joana, não sou o único a defender que, não se querendo um produto, o melhor é não prolongar a conversa, não criar ilusões, não desrespeitar alguém que – como diz – está a trabalhar. É deixar-lhe o tempo de vender algo a alguém que queira comprar.