Adeptos do PSV Eindhoven atiram moedas numa praça de Madrid só pelo prazer de ver os mendigos a correr para apanhá-las.
Os povos do Norte, pródigos em frugalidade, mestres da finança, gente de labuta e de progresso, acreditam que o calão do Sul da Europa é um ser malandro, incorrigível que gosta de viver à custa dos outros, acreditando piamente na ideia de que os povos do Sul não podem gastar à grande e à francesa para depois virem pedir batatinhas aos países do Norte.
Esse pensamento, mormente materializado na (parca) política europeia contemporânea, foi hoje executado na prática na capital espanhola, por puro gozo e diversão de um bando de trastes que acha (há décadas que acha, não fossem os adeptos holandeses um dos maiores focos históricos de hooliganismo no futebol) que tem o direito moral de espezinhar todos os povos com quem não tem actualmente a melhor das relações. Está claro que durante o momento digno de panis et circenses não faltaram os telemóveis em punho a registar o momento para a eternidade.
Senhores da UEFA, creio bem que existe aqui um leitmoviv bastante válido para castigar este clube pelo lamentável comportamento dos seus adeptos. A sanção mais indicada a aplicar a este clube seria a exclusão de participação nas competições europeias nos próximos anos para que os meninos holandeses aprendam de vez por todas que o respeito que a UEFA tanto tem pedido nos últimos anos a jogadores e adeptos não se coaduna com este tipo de atitudes xenófobas e desumanas. Assim sendo, o dito clube poderia pedir as moedas que não entrarão nos cofres do clube nos próximos anos em virtude da ausência das competições europeias aos seus adeptos, já que estes estão tão fartos delas nos seus bolsos.
Em campo, o Atlético mereceu ganhar. Adoro o Atlético há mais de 20 anos. Vi o jogo vestido com o meu casaco dos colchoneros para dar sorte. Continua a ser a 2ª melhor equipa europeia ao nível de fio condutor de jogo (a seguir ao Barça). São deliciosas as tabelas efectuadas pelos homens do meio-campo ou a forma em como, Koke, ano após ano, engana todos os seus adversários com as suas mortíferas diagonais do centro para o flanco direito pela frente dos centrais com destino às costas do lateral esquerdo. Continua a ser divinal a agressividade que a equipa demonstra nos momentos de recuperação da bola. Godin continua a ser para mim o melhor central do mundo e um dos melhores dos últimos 10 anos.
Os Holandeses do PSV, equipa que tanto estimo ver jogar pelo futebol acutilante ao primeiro toque, foi despachada para casa. Será que existe alguém por aí na capital espanhola que precise de moedas para apanhar o autocarro de volta para casa?
Plaza Mayor em Madrid e (parecem-me) 3 ciganas romenas a apanhar moedas.
Os distribuidores são uns porcos…
Até podiam ser etíopes. É xenofobia.
A cultura,a escola,a arte ,a Europa…foda-se.
A tendência para a generalização é humana mas não deixa de ser injusta porque mete tudo no mesmo saco para criar contrastes preto/branco claros e facilitar a orientação. O parágrafo “Os povos do Norte (…)” dá largas a essa fraqueza humana…
Cara Ana, temos que dar algum desconto. É desculpável a generalização. Nós temos sido tão maltratados pela austeridade imposta pela UE, em especial pelos povos da Europa do Norte, com a Alemanha à cabeça (claro que nem todos têm igual responsabilidade) que reagimos a quente perante, no fundo, um acontecimento, a meu ver, de reduzida importância.
Aproveito para lhe dizer que estou normalmente em sintonia como os seus comentários.
Obrigada Martinhopm! E combinado, desconto dado 🙂 Felizmente que o governo português actual não dá palmadinhas nas costas dos que querem a austeridade e não é zeloso ao ponto de ultrapassar as imposições da UE (com o apoio de quase todos os países e a Alemanha à cabeça), que foi o que fez o anterior – sem contemplações em relação ao espezinhamento do seu próprio povo.
Ana, a generalização é fruto das várias conversas que tenho mantido ao longo dos últimos anos com amigos belgas, holandeses e suecos do meu ano de Erasmus. Todos me tem dito que são da opinião de que os seus impostos não devem servir para financiar estados cujos governos não se souberam gerir. É fruto, como referi no texto, da parca política europeia contemporânea praticada pelas instituições europeias, do espartilho que estas mesmas instituições, movidas pelos governos do Norte da Europa, instituíram aos povos do Sul. É uma generalização sim, mas é uma generalização que surge como um reflexo das posições tomadas pelas instituições e pelos governos desses mesmos países. Não nos esqueçamos por exemplo que os governos holandês e finlandês, por via dos seus representantes eleitos, já vieram muitas vezes a público reiterar este tipo de ideias. Naturalmente, este tipo de afirmações acaba por ser absolvida pelos povos dessas nações.
João, desculpa, mas é uma simplificação muito simplista;
Sobre a austeridade, sem dúvida que a Alemanha parvamente estava à cabeça e dava a cara, mas os outros esfregavam as mãos de contentes por não terem que fazer o papel odioso e votavam a favor. A austeridade foi zelosa e entusiasticamente apoiada pelo governo português e pelos outros governos. A Grécia ficava sozinha nas conversações da UE em que tentava alcançar um resultado realista e mais justo. A falta de sucesso da Merkel na UE em relação aos refugiados mostra muito claramente, que se os outros não quisessem, não teria havido conseguido tal imposição. Acontece que os governos queriam manter-se do lado dos bancos e os povos que se lixassem.
Quanto a essa frase de que os “impostos não devem servir para financiar estados cujos governos não se souberam gerir”, ela própria já coloca mal a questão e induz a respostas muito pouco solidárias; acredito que fosse onde fosse as pessoas não iam dizer que sim; estamos muito longe de uma Europa federativa e continuaremos, enquanto as linhas com que se cose forem tão pouco democráticas e tão defensoras do capital. Por outro lado, mais do que por “os governos não se saberem gerir”, a “crise” financeira foi maioritariamente causada pelos bancos que foram jogar ao casino e perderam, bêbados de desregulamentação como estavam. E os políticos, vendidos ou convictos, acharam que eram os povos que tinham que pagar a conta.
Nada a obstar no seu comentário, Ana.
Martinho PM
Não considero que, do ponto de vista social e desportivo seja um evento de tão reduzida importância. Muito menos quando a UEFA tem nos últimos anos apelado ao Respeito entre povos e raças no jogo e tem lutado imenso para diminuir as atitudes, os acontecimentos e os fenómenos racistas na modalidade.
A UEFA tem obrigatoriamente que punir este acto. Se não o fizer não estará a ser leal perante os princípios e valores que tem pedido aos diversos actores.
Como se diz lá na terrinha
“Quem näo se dá ao respeito näo merece ser respeitado.”!!!