Pobre Apple

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Barraca da Apple no sul da Irlanda Imagem: Spiegel

Num paraíso fiscal chamado Irlanda, a Apple pagou uma taxa efectiva de imposto que baixou de 1% em 2003 para 0,005% em 2014  (quer dizer, 50 euros de imposto por um milhão de lucro); já os privilegiados dos contribuintes médios europeus têm direito a qualquer coisa entre 20% e 30% ou mais. É que a Apple estava mesmo a precisar de um “auxílio estatal” especial para ela, pobrezinha!

E como isto é uma grande injustiça, valorosamente, a Apple vai apresentar recurso da decisão da Comissão Europeia, para não ter de pagar os 13 mil milhões  adicionais que deve (vá lá, convenhamos que desta a Comissão fez um bonito, só falta não se esquecer agora da Starbucks e co.). E o mais provável é conseguir, pelo menos, uma forte redução desse valor, ameaçando que esta decisão “vai ter profundas consequências negativas para o investimento e para a criação de postos de trabalho na Europa”. Tanto mais que o ministério das finanças americano já criticou aberta e duramente o procedimento de Bruxelas na determinação de impostos, acusando a Comissão de querer agir como uma espécie de autoridade fiscal supranacional e prejudicar as empresas americanas. E como os americanos não se deixam ficar para trás nunca, já ameaçaram a Europa com uma guerra de impostos.  Äh…, alguém disse TTIP?

Comments

  1. J.V. says:

    Belo post! Só não percebo as críticas do Min. das Finanças Americano, são um apoio à fuga a eles mesmos! Não deviam eles apoiar a cobrança de impostos, mesmo se feita na Europa, por forma a dissuadir a fuga ao imposto no solo americano?

    • Ana Moreno says:

      Obrigada J.V.
      A palavra-chave é: Lobby
      Markus Meinzer, especialista em matéria de impostos da ONG Tax Justice Network afirma, em relação ao documento publicado pelo ministro das finanças americano Jack Lew, o seguinte: o documento revela „a enorme influência das multinacionais americanas sobre a posição do ministério das finanças americano“. Caso tenha curiosidade em consultar o dito documento do ministério das finanças, aqui vai o link: https://www.treasury.gov/resource-center/tax-policy/treaties/Documents/White-Paper-State-Aid.pdf

      • J.V. says:

        Resposta esclarecedora (e aterradora tb), muito obrigado pelo documento!

  2. Quem vai avançar com recurso (para já) não é a Apple, é a própria Irlanda. E bem. Ou pensam que a Autoeuropa (e há mais com benefícios fiscais) ainda cá está por causa dos nossos lindos olhos?

    • Helder P. says:

      Ainda deve ir uma diferença grande entre os benefícios fiscais da AutoEuropa e outras e os 0.005 % da Apple, taxa microscópica que não é só ilegal, é imoral e indecorosa.

      • É uma questão de princípio. Não interessa se o desconto é de 5% ou de 99%. Ou bem que se admite que os países têm soberania fiscal, ou bem que não. Não podemos é ter sol na eira e chuva no nabal.

  3. anónimo says:

    Parece que a Apple pagou imposto de acordo com o que tinha negociado com o governo Irlandês.
    Não se compreende porque é que a Comissão Europeia exige o pagamento de impostos da Apple à Irlanda. Se houve incumprimento das leis europeias, a culpa deve ser atribuída à Irlanda, e a Irlanda é que deve ser penalizada, não a Apple.
    Se fosse com Portugal, já eles não se enganavam, e o governo de esquerda é que estava a pagar, pelo laxismo e esbulho do estado, praticados pela direita.
    Para a oligarquia europeia, a Irlanda passa impune, tal como a Holanda e o Luxemburgo, porque são paraísos fiscais, por onde são roubados os impostos e o capital das outras nações europeias, como Portugal.

  4. Manuel Gomes says:

    Foi com uma tributação muita baixa sobre as empresas que a Irlanda deixou de ser, em apenas 35 anos, um dos países mais pobres da Europa. Hoje, é o segundo mais rico. Os impostos são confisco de propriedade privada que apenas alimentam parasitas a viver à conta do Estado.

    • Ana Moreno says:

      Por acaso tem ambições de se candidatar a Trump português? Começa bem, vá exercitando que é capaz de lá chegar.

      • Manuel Gomes says:

        Sem argumentos, apenas o insulto.

        • Ana Moreno says:

          Não pretende ser insulto, insultar não faz parte do meu repertório. É apenas a associação que o conteúdo do seu comentário suscita em mim. Argumentar neste espaço partindo de duas posições diametralmente opostas, é impossível, lamento.

          • Manuel Gomes says:

            Quando não existem argumentos, recorre-se à impossibilidade de contraditório. Compreendo que num país de estatistas e com vários milhões de portugueses a viver do estado, directamente, e do sector privado, indirectamente, tal conteúdo seja chocante. Talvez faça parte do grupo, compreendo.

  5. Ana Moreno says:

    Se tem acompanhado o Aventar, sabe que procuro sempre responder de forma cabal e substancial aos comentários aos meus posts. Acontece que o seu comentário não tem possibilidade de resposta para quem se encontra nos antípodas do que afirma. E já agora, também não posso fazer parte desse suposto grupo que menciona – que não reconheço – porque não habito no país a que se refere. E fico-me por aqui.

    • Manuel Gomes says:

      Terá saído do tal país em que o estado representa 50% da carteira das pessoas. Como a compreendo, socialismo para os outros, não para si. Decisão inteligente! Mas então não critique as empresas que procuram lugares onde não sejam assaltadas, que julgo ser o seu ponto de vista.

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