As contradições de João Miguel Tavares

João Miguel Tavares (JMT) resolveu dar alguns conselhos a David Justino, ministro sombra do PSD para a Educação.

Pelo meio, faz muitas confusões, dando uma no cravo e outra na ferradura.

Em primeiro lugar, chama às reivindicações dos professores uma “grandolada”, termo que, na pena de um cronista de direita, é uma maneira de reduzir qualquer atitude a uma reclamação asquerdalhada, como se os professores fossem todos uns comunas num eterno verão quente dominados por Mário Nogueira. Não no fundo, mas à superfície, é uma maneira de afirmar que os professores, coitados, são instrumentalizados por foices e martelos. Como crítica, é fraquita; como argumento, é inexistente.

João Miguel Tavares descobriu que a natalidade em Portugal baixou, o que o leva a espantar-se com o facto de terem entrado 3300 professores no quadro, como se o primeiro factor fosse necessariamente impeditivo do segundo. Seria importante que JMT conseguisse demonstrar inequivocamente que o sistema não precisa de mais professores. Não o fez.

Não o fez e aproveita para acusar, na prática, o governo de estar a abrir os quadros indevidamente, atribuindo os problemas da Escola Pública e do Serviço Nacional de Saúde ao excesso de pessoal, quando, na realidade, as escolas e os hospitais estão deficitários de recursos humanos. Nas escolas há falta de pessoal docente e não docente e os que estão no activo estão sobrecarregados, como seria fácil de perceber se estivesse interessado em informar-se, mas, apesar de algum respeito aparente pelos professores, a distância de João Miguel Tavares a Rodrigo Moita de Deus é demasiado pequena.

Depois, reconhece que é “justo” que os professores contratados entrem para o quadro (mas só é justo se forem necessários), que o tempo de serviço seja integralmente reposto e que os professores tenham estabilidade. Como já tive oportunidade de escrever, os professores são pouco reivindicativos, prejudicando, na realidade, a Educação.

De resto, quanto ao dinheiro, JMT é um crente na infalibidade da troika, essa santíssima trindade que os senhores do Mundo têm usado para sacar dinheiro dos cofres dos Estados, em benefício de banqueiros e grandes empresários. A coisa consubstancia-se, sempre, em expressões como “não há dinheiro” (a não ser, em Portugal, para as PPP e para os bancos) ou “vivemos acima das nossas possibilidades” (outro mistério, porque olhamos uns para os outros e sabemos que não fomos nós, porque até a classe média é demasiado baixa).

Tendo em conta que as reclamações dos professores implicariam acréscimo de despesa, JMT, reconhecendo embora a “justiça” das mesmas, defende que isso redundaria numa injustiça para com os contribuintes. Na realidade, tendo em conta que os dinheiros que estes entregam ao Estado andam a ser gastos em vícios privados, empobrecendo a administração pública, a injustiça parece-me ser outra.

Depois disso, JMT considera que seria importante aproveitar a baixa de natalidade para diminuir o número de alunos por turma, criando, mais uma vez, uma correlação disparatada, porque a questão do número de alunos por turma é demasiado importante para que dependa da natalidade. Curiosamente, e JMT parece não se aperceber disso, a diminuição do número de alunos por turma pode obrigar à contratação de mais professores, o que seria justo e, portanto, injusto.

Comments

  1. Bento Caeiro says:

    UMA ESPÉCIE DE CONVENTO OU MOSTEIRO

    Obviamente que estamos perante uma encenação de natureza carnavalesca ou folclórica, orquestrada pelo PCP – através dos seus sindicatos – com a finalidade principal de manter e, se possível, aumentar o seu eleitorado.

    Mas, não me admira que o número de professores cresça, na proporção da redução da população e consequente decréscimo do número de alunos. Trata-se tão somente da comprovação de um princípio que nos remete para a ineficácia e para a ineficiência no mundo do trabalho:
    Quanto mais atrasados são os meios, os métodos de trabalho e os seus executores, maior a quantidade de meios e de pessoas necessários para atingir um mínimo de objectivos;
    Também como, a partir de dado momento, os efeitos e as causas se tornam indissociáveis, mesmo que a quantidade de executores cresça, será cada vez mais difícil manter esse mínimo.
    Tal é o que acontece nas escolas públicas e com os professores e, também, com estruturas que nascem e se desenvolvem à sombra do sector público do Estado – como é o funcionalismo público na sua generalidade.
    Por outro lado, de uma forma geral, na vã tentativa de colmatar a percepção pública desta realidade – mesmo, porque se vão dando acréscimos de meios, como é o caso das tecnologias ao seu dispor – os funcionários (porque estamos perante um problema de funcionalismo) são levados a incrementar procedimentos e tarefas inúteis (burocracia), a fim de justificar o tempo despendido e, questão de fundo, eles próprios.
    Como tal, não me admira que os professores e os funcionários públicos – as câmaras municipais também funcionam assim – digam que trabalham muito e que as escolas precisam de mais gente: professores e não professores. Tenhamos presente que estruturas burocráticas, por natureza, no limite trabalhariam apenas para elas; contudo, no seu entendimento, fartam-se de trabalhar. A questão é que, não estando à altura e não respondendo ao que, por função, deles se espera, para além de despesa, tornam-se apenas em custos para o contribuinte.
    Os Estados são conhecidos por produzirem e manterem, no seu seio, várias instituições que para pouco ou nada servem – fundações e coisas do género; os professores, pelo que se vê, não querem ser excepção. Pelo que gostariam de ter escolas perto de casa, com poucos alunos, turmas reduzidas, menos horas de trabalho, mais férias, progressões e promoções como prémio de presença e, se possível – no limite – trabalhando em circuito fechado, só para eles, os professores: os alunos e os seus paizinhos estão cada vez piores e professor não foi feito para isto.
    O ideal, para eles, seria mesmo uma espécie de convento ou mosteiro!

  2. Tito Adriano (Titus Adrianus) says:

    João Miguel Tavares é um cabotino. Um emplastro da Direita, que só por descuido se lê. Estas bestas da Direita é enfiá-las pelo cano de esgoto abaixo!
    E tenho dito!
    Tito Adriano

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