Um liberal miguelista

Fotografia retirada do jornal Público

João Miguel Tavares sugeriu, no sítio onde escreve, que “num sistema democrático a polícia deve ter a possibilidade de usar força letal”, referindo-se à invasão, por parte dos apoiantes de Bolsonaro, dos edifícios dos Três Poderes e afirmando que, na sua visão, a polícia, a tal que até foi conivente com o desenrolar dos acontecimentos, deveria ter o direito de atirar a matar sobre os terroristas.

Assim mesmo, olho por olho. Dente por dente. Puxar cabelos e lutar na lama. Igualarmo-nos a quem queremos combater.

Ora, João Miguel Tavares diz-se liberal mas, como liberal que diz ser, parece não ter percebido que, num sistema democrático (e liberal), deve acontecer exactamente o oposto do que diz (isto é, a polícia não poder usar força letal, a não ser em casos em que a própria vida do profissional da polícia ou de terceiros seja colocada em perigo). A Lei e a Constituição, pelo menos a portuguesa, são muito claras a esse respeito. Não conheço os meandros da Constituição brasileira, mas com certeza também será directa e sucinta em tal aspecto. Os terroristas bolsonaristas que destruíram tudo o que se atravessava no seu caminho, durante os tristes acontecimentos do último Domingo, hão-de ser julgados dentro dos trâmites da Lei; sem fuzilamentos ou execuções sumárias. A vida não é o ‘Inglourious Basterds’.

Já João Miguel Tavares, dizendo-se um liberal, começa a amealhar demasiadas opiniões que o colam aos miguelistas ou não fosse ele um Miguel.

A insuportável superioridade moral de João Miguel Tavares

Entre alguma direita democrática, há muitos que se distraem a defender o Chega. Para quem anda há tanto tempo a dizer que o crescimento do Chega se deve à esquerda (o que faz algum sentido), seria conveniente, nomeadamente para os eleitores do PSD, que a derrota monumental da direita nas últimas eleições

(sim, sim, não esqueçamos: derrota monumental da direita. Também não me esqueço da derrota monumental da esquerda, mas ficará para depois)

se deve à indefinição de Rio relativamente ao Chega – a origem da debandada dos votos de esquerda no colo do PS.

João Miguel Tavares resolveu dar uma lição de democracia a todos os que desprezam o Chega, mostrando-se escandalizado com o tratamento dado a elementos desse partido em debates televisivos e condenando os preconceitos revelados pelos adversários. Já Rui Rio, relembre-se, sentiu necessidade, na ausência de André Ventura, de explicar a posição do Chega relativamente à prisão perpétua. Podemos (e devemos) acusar o Chega de muita coisa, mas não de falta de agressividade ou, como se diz no futebol, de raça, algo que se aplica também aos chamados caceteiros, o que pode ser um elogio ou não. [Read more…]

Os artistas de circo na hora da morte de Otelo

Capaz de defender tudo e o seu contrário: eis o bufão-mor.

Honra lhe seja feita:

   A morte do Otelo e a posterior decisão de António Costa de não decretar luto nacional, teve o condão de pôr os mais acérrimos críticos do primeiro-ministro a beijar-lhe os pés.
   Ler o João Miguel Tavares, o pinscher da opinião política, a louvar Costa por esta decisão, não só é lindo (o amor tudo supera), como é, ao mesmo tempo, embaraçoso. É preciso lembrar que esta gente é a mesma que, há uns meses, depois do inconsequente derrube de estátuas, veio defender, com o ar mais paternalista do mundo, que “é…preciso…enquadrar…na…época…não…podemos…julgar…com…os…olhos…de…2020…o…que…se…passou…em…1920!”. Teriam razão, se, agora, não se prestassem a fazer estas figuras quando o tema é Otelo, usando, como combustível, as FP-25 (e isto também é gente que tem zero para dizer acerca das spínoladas e do MDLP).
   Ainda assim, é natural: a postura de reaccionarismo, típica da direita em Portugal, leva-os a cair neste ridículo vezes sem conta. Não se cuidem, não…

Fotografia: José Carlos Carvalho

Quando um elogio é um insulto

João Miguel Tavares elogiou os professores. O Paulo Guinote já escreveu que dispensa certos elogios.

O combate às desigualdades sociais é muito complicado, especialmente quando as prioridades dos governos correspondem a outras áreas em que há fartura de desperdício de dinheiros públicos.

Essas desigualdades são especialmente revoltantes quando atingem crianças e jovens. São essas desigualdades que, se combatidas demasiado tarde, provocam atrasos culturais e mesmo cognitivos.

A Escola é, evidentemente, um das armas mais importantes desse combate. Por isso, retirar condições às escolas é criminoso – e os verdadeiros problemas continuam por resolver (número de alunos por turma, delírios curriculares, burocratização inútil do trabalho dos professores).

A dedicação de todos os que trabalham nas escolas é tão evidente e geral como frequentemente desvalorizada. E, na verdade, é nas escolas que muitos miúdos encontram pessoas que, fora da família, fazem alguma coisa por eles. As políticas sociais para a juventude assentam, então, em grande parte, na ausência do Estado e na presença da Escola. Acrescente-se que essa luta é feita, muitas vezes, para lá do que é imposto pela lei.

João Miguel Tavares e muitos outros opinadores chegam sempre a estes problemas com atraso ou acertam ao lado. Na maior parte dos casos, não querem saber. Como, de certo modo, já está instituído que as políticas sociais para a juventude se limita às escolas, o facto transformou-se em direito e passou a exigir-se às escolas que resolvam todos os problemas relacionados com a infância e com a juventude. [Read more…]

João Miguel Tavares, a culpa lusitana e o mito de Mário Nogueira

Na sua crónica de hoje, João Miguel Tavares (JMT) consegue o milagre de se afastar de muita direita que vê nos apoios sociais o grande problema da economia portuguesa. Há dias assim, em que JMT escreve menos abjecções.

Quanto ao resto do texto, concordo que Portugal é um país mal gerido, com desvios de receitas – impostos ou fundos europeus – para gastos desnecessários, numa sucessão de actos de corrupção legal e ilegal que fazem de nós um país bastante pior do que deveria ser.

Note-se, no entanto, a diferença: no princípio do texto, JMT consegue, como se viu, explicar claramente quem não tem a culpa. Quando começa a identificar os culpados, limita-se aos últimos dez anos e, pelo meio, como era previsível, deixa a Passos Coelho o papel de alguém obrigado a executar uma política pela qual não era minimamente responsável, o que é uma ficção querida a muita direita.

A história da má gestão portuguesa vem de longe e inclui, entre tanta coisa, a visão deslumbrada de gente que quis ficar na História, com base no folclore de obras inacabadas, como a subordinação de Soares e de Cavaco a uma Europa que impôs a destruição do nosso tecido produtivo, com passagem por uma longa tradição de favores com dinheiros públicos a interesses privados, com bancos e parcerias público-privadas a mamarem na teta dos impostos e na tendencial supressão de direitos ou nos cortes salariais (sempre em nome de uma produtividade sem verdadeiros incentivos que não sejam os de não cair na miséria). A dívida pública, que, por ser pública, todos somos obrigados a pagar, continua por ser verdadeiramente explicada, talvez porque não convenha a quem andou criá-la enquanto parecia estar a governar o país. [Read more…]

Assédio moral será abjecto ou desagradável?

Tribunal Constitucional confirma assédio moral a empregada de corticeira

 

Aguarda-se, a qualquer momento, que João Miguel Tavares (JMT) escolha o adjectivo apropriado. Será que o assédio moral a que foi sujeita Cristina Tavares poderá ser qualificado como “abjecto”? Será vil ou aborrecido? Talvez amargo, talvez desprezível. Há a possibilidade de ser asqueroso, mas JMT poderá escolher enfadonho. O patrão de Cristina Tavares, autor do assédio moral, merecerá ser considerado antipático ou infame? No máximo, será displicente, nunca ríspido.

Repelente, nojento ou horrendo? Que exagero! Isso serve apenas para a quantidade pornográfica de horas que os funcionários públicos trabalham. E pornográfico vem, aliás, a propósito: porque são os funcionários públicos que, de horário imoral em riste, andam a fornicar os trabalhadores do sector privado, jamais os autores de assédio moral.

Os patrões que cometem assédio moral, coitados, são como os violadores que, no fundo, são vítimas da própria violação: explorar empregados é uma coisa que lhes acontece – iam a passar por ali e, de repente, estavam a explorar pessoas. Os empregados, aliás, estavam mesmo a pedi-las, porque não há nada que peça mais um assédio moral do que a condição proletária. «Iam agora ser proletários e não íamos explorá-los? Até parecia mal!», declarou, à nossa reportagem, um patrão mais afável, como diria JMT.

Felizmente, segundo JMT, temos o Chega, de onde nos chegam propostas jocosas, porque os seus militantes são pessoas chistosas, trocistas, divertidas, sempre prontas a brincar com ovários e testículos, mas seriamente preocupadas com coisas importantes, úteis, necessárias, essenciais, como retirar dinheiro aos mais pobres, porque só há uma coisa mais abjecta do que um indigente, um miserável, um pedinte, um necessitado: essa coisa é o número de horas semanais de trabalho de um funcionário público.

Abjecção de consciência

“A democracia é precisamente o regime onde posições abjectas podem ser defendidas de forma legítima, da castração química de pedófilos às 35 horas de trabalho na função pública.” – João Miguel Tavares

 

Há quem use o adjectivo “genial” a propósito de tudo e, portanto, de nada. O uso excessivo desgasta qualquer material e as palavras não são excepção. Se tudo for genial, o que poderemos dizer de um génio?

João Miguel Tavares (JMT) exerce o seu direito ao uso da palavra “abjecção para classificar a proposta de castração química do Chega e do regresso a um horário de 35 horas semanais na função pública em 2015. Nada de novo: a direita, por crença ou por conveniência, segue a moda das falsas equivalências, andando numa esquizofrenia perigosa: ai, não gosto nada do Chega, mas o Chega tem os mesmos direitos que os outros, a esquerda é tão abjecta (ora cá está) como o Chega e o Chega cresce por culpa da esquerda.

Aproveitando o seu espaço no Público, JMT renova o seu direito ao uso de “abjecção” para classificar a injustiça das 35 horas semanais da administração pública, face às 40 dos privados. De qualquer modo, há mais histórias nesta história. [Read more…]

Se eu disser muitas vezes “gajas boas!”, elas caem-me às carradas no colo?

Se assim for, espero que o João Miguel Tavares tenha razão na sua complexa análise da situação no Brasil.

As palas

Para um conjunto de pessoas, a ascensão do facho que faz a preferência dos brasileiros deve-se a Lula e ao PT. João Miguel Tavares faz parte da trupe, afirmando que “Bolsonaro é uma erva daninha que foi diariamente regada por um PT profundamente corrupto, que os brasileiros (à excepção dos nordestinos) querem hoje ver para trás das costas.”

Para esta gente, o golpe de Estado que depôs Dilma, para colocar no seu lugar um corrupto de todo o tamanho não é chamado para estas contas. A ausência de um partido credível que possa servir de alternância não interessa.

A conclusão do ilustre cronista é que a corrupção é de esquerda, assim podemos inferir.

Bolsonaro é uma erva daninha que foi diariamente regada por um PT profundamente corrupto, que os brasileiros (à excepção dos nordestinos) querem hoje ver para trás das costas. A esquerda brasileira demorou muito tempo a perceber isso. A portuguesa ainda não percebeu. A corrupção mata os regimes democráticos. Está a acontecer no Brasil. Era bom que não viesse a acontecer em Portugal. [JMT]

Sai um par de orelhas ali para o canto, s.f.f.

As contradições de João Miguel Tavares

João Miguel Tavares (JMT) resolveu dar alguns conselhos a David Justino, ministro sombra do PSD para a Educação.

Pelo meio, faz muitas confusões, dando uma no cravo e outra na ferradura.

Em primeiro lugar, chama às reivindicações dos professores uma “grandolada”, termo que, na pena de um cronista de direita, é uma maneira de reduzir qualquer atitude a uma reclamação asquerdalhada, como se os professores fossem todos uns comunas num eterno verão quente dominados por Mário Nogueira. Não no fundo, mas à superfície, é uma maneira de afirmar que os professores, coitados, são instrumentalizados por foices e martelos. Como crítica, é fraquita; como argumento, é inexistente.

João Miguel Tavares descobriu que a natalidade em Portugal baixou, o que o leva a espantar-se com o facto de terem entrado 3300 professores no quadro, como se o primeiro factor fosse necessariamente impeditivo do segundo. Seria importante que JMT conseguisse demonstrar inequivocamente que o sistema não precisa de mais professores. Não o fez. [Read more…]

A ingenuidade de João Miguel Tavares

É verdade que há uma tendência tribal para devolvermos ao outro lado as acusações, uma espécie de “quem diz é quem é” muito infantil. Isso nota-se nas discussões sobre futebol, quando criticamos o caceteiro adversário sempre que dizem mal do nosso caceteiro. Confirma-se na política, quando a alusão à imoralidade de uns despoleta referência à falta de ética dos outros.

Com José Sócrates sob fogo cerrado, há, é verdade, socialistas a lembrar a existência de Isaltinos ou de Relvas, mais os submarinos e os bêpêénes. João Miguel Tavares, no entanto, desvaloriza isso, colocando Sócrates num patamar superior a todos os corruptos de direita, garantindo que “aquilo que Sócrates procurou fazer nunca ninguém tentou antes: uma colonização feroz e autoritária de todos os ramos do poder – político, económico, financeiro, judicial e mediático.”
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“À séria”

João Miguel Tavares faz parte do grupo dos que dizem “à séria”, tendo saído a pérola enquanto dissertava sobre os professores. Podia ser pior, como, por exemplo, se estivesse a dizer alguma coisa de jeito. Parafraseando um ditado, assim só se estraga uma fala.

(ao minuto 31)

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"À séria"
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Crónicas do Rochedo #XIV :: A ousadia dos tontos

O comentador de direita(???) que a esquerda mais gosta, João Miguel Tavares, escreveu no Público um artigo em que procura explicar porque não pode um maçon ser Primeiro-ministro em Portugal.

Aguardo pelos próximos artigos onde o autor vai explicar que não pode um membro da Opus Dei ser Primeiro-ministro em Portugal nem uma Testemunha de Jeová e menos ainda um clérigo da Igreja Adventista resvalando nas semanas seguintes para a proibição aos Judeus, seguido do mais que lógico impedimento a qualquer criatura que seja adepta do FC Porto. O mais difícil é começar e JMT já começou.

Porém, uma leitura mais atenta ao seu artigo permite perceber melhor quem quer ele atingir. A maçonaria? Não, este é daqueles que é forte com os fracos e fraco com os fortes. Não. Todo aquele relambório tinha como único objectivo açoitar dois protagonistas da direita portuguesa. E como a esquerda gosta destes fretes! As desculpas e as voltas que o autor deu para chegar a Luís Montenegro e Pedro Duarte. Parece que os dois são da maçonaria. Segundo as fontes do JMT. Porque os visados não desmentiram as referidas fontes/notícias conclui o comentador de direita adorado pela esquerda caviar que eles são da maçonaria. Não sei. Desconfio é que sejam ambos do FC Porto e isso sim, para o JMT e os seus companheiros de luta, isso devia ser criminalizado. O que eu gostava de saber é se qualquer um deles é competente para o suposto cargo. Dispenso, deve ser mania minha, saber se são da maçonaria, da opus ou testemunhas de Jeová ou qual a sua orientação sexual. Mas devo ser eu que estou errado.

Não conheço o Luís Montenegro, penso que me cruzei com ele uma ou duas vezes em cerimónias públicas. Já o Pedro Duarte conheço. E do que conheço considero-o competente para o cargo. Só não sei é se ele o deseja. Se não o deseja, não terá de se preocupar com este tipo de tonto. Se o deseja, então muito cuidado. O ideal é começar, desde já, a usar na manga da camisa uma fita identificadora. Seja ela um triângulo com um olho no meio ou uma estrela de David ou mesmo uma bola de basquetebol azul com um Dragão na parte superior.

É que a ousadia dos tontos é muito perigosa. Mesmo.

Assim se apanha um liberal na curva 

João Miguel Tavares derrapou há dias numa crónica que escreveu no Público. 

O cronista tem-se definido como um  liberal, paladino do conceito de ficarmos todos melhor se tivermos menos Estado. Associadas a esta ideia costumam andar outras, como o privado é mais eficiente do que o público, ou a escolha individual não deve ser condicionada pelo interesse colectivo, ou, ainda, o melhor governo é aquele que não governa, já que o Estado deve ser mínimo mínimo e, portanto, poucas incumbências terá. 

Acontece que na frase que se destaca no seu artigo, Tavares escolheu rebaixar a “geringonça” usando como pretexto que esta nunca poderá governar o país devido a qualquer coisa que lhe passou pela cabeça. Governar o país! Que coisa tão pouco liberal. Então, não é a mão invisível que deverá conduzir a economia? Não são os cidadãos que devem ser livres de fazer as suas suas escolhas? Não deverá ser o governo um simples gabinete que faz sabe-se lá o quê, mas que deverá ser pouco? 

Pode acontecer a qualquer um. Mesmo àqueles, como João Miguel Tavares, que defendem para este governo o que o anterior não lhes deu, ao mesmo tempo que ignoram o que este  conseguiu no campo onde o outro falhou. 

Ao que isto chegou. Uma pessoa tem que passar por defensor deste governo para rejeitar a anterior abantesma.

E os números do ministério estão errados?

14517558_1131366746949176_7518678896045357102_nJoão Miguel Tavares diz que descobriu que Jorge Coelho está na Quadratura do Círculo ao serviço do Partido Socialista. Para isso, baseou-se numa imagem em que se pode ver que o dirigente socialista está a ler um memorando do Ministério da Economia. Ao ler a cábula que lhe foi enviada, declarando que estudou o assunto em profundidade, não espantaria que o alegado comentador pudesse aparecer nas fotografias de curso de Miguel Relvas.

Jorge Coelho é um dos muitos chicos espertos do centrão cuja mediocridade o ajudou a chegar a altos cargos graças à frequência de aparelhos partidários. Tendo passado pela Mota-Engil, depois de ter estado no governo, Jorge Coelho é, assim, uma espécie de Durão Barroso dos pobrezinhos, no sentido em que terá usado cargos públicos como estágio para voos salariais mais altos.

De resto, é um caceteiro cujo momento mais brilhante correspondeu ao célebre “Quem se mete com o PS, leva!” Tanta falta de consistência intelectual, acompanhada por um discurso pobrezinho, fazem de Jorge Coelho o parente pobre do programa, diminuído, para mais, pela presença de gente com a dimensão retórica de um Pacheco Pereira e com a qualidade oratória de um Lobo Xavier, que têm independência suficiente para, pelo menos, não precisarem de prestar sempre serviços partidários ou políticos. Quando essa necessidade existe, nota-se demasiado: ainda me lembro das figuras tristes que Pacheco Pereira fez, nos anos oitenta, a defender o indefensável Cavaco Silva, no Flashback, antepassado da Quadratura na TSF.

A fotografia de João Miguel Tavares confirma, portanto, a pólvora: Coelho está, na SIC, a trabalhar para o PS, o que lhe garante, pelo menos, duas fontes de rendimento. Depois do fait-divers do descobrimento da careca, falta, agora, João Miguel Tavares demonstrar que os números do Ministério da Economia estão errados.

Imagem roubada: facebook de João Miguel Tavares

Aprendiz de Saraiva

JMT quer saber por que não há políticos gays.

O humorista do Tejo anda com piadas novas

O piadista João Miguel Tavares, aquele a quem no Governo Sombra cumpre o papel de soltar uma larachas para animar a conversa quando vai mais séria, anda numa estafada campanha contra os que nas universidades não cumprem as suas premissas ideológicas. É uma doença velha da nossa direita, agora impedida de resolver o assunto à Salazar, quando por exemplo Sílvio Lima foi corrido da docência universitária porque lhe deu para arrasar a mediocridade científica do amigo Cerejeira. Encanitam-se porque se faz em Portugal investigação nas ciências sociais e humanas sem a objectividade positivista de um Ramos ou de uma Bonifácio, malta que à força de estudar o séc. XIX acha que as humanidades estagnaram ali, que nestas coisas os ingleses é que sabem.

Ora conta-nos hoje o Tavares ter trocado o doutoramento académico pelo jornalismo, pela família a sustentar, pela casa e pelo carro, que isso de ser bolseiro implica sacrifícios, já sabíamos. O jornalismo esperava pelo João Miguel, e nele singrou. Não é para todos. Quando em 2008 era director-adjunto da Time Out, uma publicação portuguesa embora não pareça, e precisava de mão-de-obra sem casa, sem carro e sem família, saiu este anúncio:

Procura-se Jornalista Estagiário

Se és jovem, sabes a diferença entre “à” e “há”, és lavadinho e conheces Lisboa como a palma da tua mão, junta-te a nós! A Time Out Lisboa procura estagiários que não se importem de trabalhar de borla durante 3 meses, mas num ambiente muito agradável (e onde nem sequer se pede que nos vão buscar café).

Como bolseiros de doutoramento talvez trabalhassem na mesma os três meses usando as poupanças, mas sempre contribuíam para aquela coisa que nem lhe passa pela cabeça ser fundamental num país: a investigação científica. Terminaram por viver o mesmo sacrifício trabalhando numa publicação pateta, mas tenho a certeza que se fartaram de rir com as piadas da tágide do humor luso.

Os fundamentalistas de Lisboa

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É cíclico: de quando em vez as nossas direitas encanitam-se com Boaventura Sousa Santos. Não costumo seguir essas novelas mas desta vez dois detalhes irritaram-me e não foi pouco. Um humorista do Tejo, Tavares de seu nome, decidiu crismar o homem de “Noam Chomsky do Mondego“, e como não bastasse um analfabeto de Lisboa, conhecido por Zé Manel da Voz do Povo, desenvolveu para “evangelizador de Coimbra“.

Ora bem, esta peregrina ideia de atacar alguém pelo lugar onde reside e exerce a profissão, está mal. Dá muito para os lados da capital do provincianismo luso, suponho que seja da água que bebem, proveniente do Alviela que o rio ibérico não é potável há muito tempo. Neste caso fez-me ler ao que vinham, e vinham pelas patetices do costume, o multiculturalismo, o relativismo e a superioridade da civilização cristã ocidental, um conceito que tem tanto de científico como as previsões de uma vidente do Bairro Alto. [Read more…]

A escória dos dias

Inspirada no título do livro ‘L’Écume des jours’ de Boris Vian de 1947, a expressão ‘a espuma dos dias’ transformou-se em ‘cliché’, escrito e reescrito, dito e redito, que lemos e ouvimos com desusada frequência. Quase sempre usada por comunicadores popularizados sem mérito.

‘A espuma dos dias’ tornou-se, para mim pelo menos, em frase intolerável e repugnante, semelhante ao ‘óleo de fígado de bacalhau’ que me forçaram a tomar às colheres em criança; embora, sei agora, este odiado óleo tenha propriedades nutrientes úteis à saúde, como o actualmente tão famoso ‘ómega-3’ e as vitaminas D, A e K.

Certo, certo é que decidi rebaptizar ‘a espuma dos dias’ e passar a chamar-lhe ‘a escória dos dias’. A decisão baseia-se, fundamentalmente, em acontecimentos, comportamentos e posições que eu e milhares e milhares de outros portugueses assistimos no dia-a-dia deste sofrido País.

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Sezon ogórkowy

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Francisco Sosa Wagner (Reuters/UE: http://bit.ly/1cngda6)


Revejam o primeiro ‘Machete’, por favor: é um péssimo filme, mas tem uma cena em que Danny Trejo abre a barriga a um tipo e usa os seus intestinos para fugir pela janela de um hospital. É a imagem perfeita deste país: esquartejado e, ainda assim, cheio de penduras. Não admira que o Portugal de hoje dê a volta à tripa a qualquer pessoa de bem.

João Miguel Tavares, Público, 30/7/2013

Em trânsito para voluntário retiro nas margens do Neckar e depois de reflectir profundamente acerca de alguns dos episódios mais interessantes deste Verão (como as linhas em epígrafe), confesso a minha indecisão entre redigir uns dois ou três parágrafos sobre esta excelente série, com desnecessária incursão por memórias das minhas peregrinações a Tormes e a S. Miguel (se Seide ou Ceide, lá mais para a frente, passada a época dos pepinos, falaremos), compor umas nótulas soltas acerca da surpreendente querela Chomsky / Žižek  – a propósito, ofereço-vos quatro episódios (Chomsky Ataca, Žižek Responde, Chomsky Contra-Ataca  e Žižek Volta à Carga) e dois bónus (Afirma Thompson e Investigações Starkianas) – ou tecer umas inoportunas e estivais considerações, depois de conhecido este momento histórico (vale a pena ler o artigo de Teresa Firmino, no Público).

No entanto, em vez de redigir, compor, tecer, ou de me deixar enredar no espírito época dos pepinos ou serpientes de verano, preferi debruçar-me sobre outro assunto importante (sim, aquele) e a culpa é da minha Ministra da Educação. [Read more…]

Será que o João Miguel Tavares vai ser processado de novo?

Carta Aberta ao Primeiro-Ministro José Sócrates

 

Excelentíssimo senhor primeiro-ministro: Sensibilizado com o que tudo indica ser mais uma triste confusão envolvendo o senhor e o seu grande amigo Armando Vara, venho desde já solidarizar-me com a sua pessoa, vítima de uma nova e terrível injustiça. Quererem agora pô-lo numa telenovela – perdoe-me o neologismo – digna do horário nobre da TVI é mais um sintoma do atraso a que chegámos e da falta de atenção das pessoas para as palavras que tão sabiamente proferiu aquando do último congresso do PS: "Em democracia, quem governa é quem o povo escolhe, e não um qualquer director de jornal ou uma qualquer estação de televisão." O senhor acabou de ser reeleito, o tal director de jornal já se foi embora, a referida estação de televisão mudou de gerência, e mesmo assim continuam a importuná-lo. Que vergonha.

Embora no momento em que escrevo estas linhas não sejam ainda claros todos os contornos das suas amigáveis conversas, parece-me desde já evidente que este caso só pode estar baseado num enorme mal-entendido, provocado pelo facto de o senhor ter a infelicidade de estar para as trapalhadas como o pólen para as abelhas – há aí uma química azarada que não se explica. Os meses passam, as legislaturas sucedem-se, os primos revezam-se e o senhor engenheiro continua a ser alvo de campanhas negras, cabalas, urdiduras e toda a espécie de maldades que podem ser orquestradas contra um primeiro-ministro. Nem um mineiro de carvão tem tanto negrume à sua volta. Depois da licenciatura na Independente, depois dos projectos de engenharia da Guarda, depois do apartamento da Rua Braamcamp, depois do processo Cova da Beira, depois do caso Freeport, eis que a "Face Oculta", essa investigação com nome de bar de alterne, tinha de vir incomodar uma pessoa tão ocupada. Jesus Cristo nas mãos dos romanos foi mais poupado do que o senhor engenheiro tem sido pela joint venture investigação criminal/comunicação social. Uma infâmia.

Mas eu não tenho a menor dúvida, senhor engenheiro, de que vossa excelência é uma pessoa tão impoluta como as águas do Tejo, tirando aquela parte onde desagua o Trancão. E não duvido por um momento que aquilo que mais deseja é o bem do País. É isso que Portugal teima em não perceber: quando uma pessoa quer o melhor para o País e está simultaneamente convencida de que ela própria é a melhor coisa que o País tem, é natural que haja um certo entusiasmo na resolução de problemas, incluindo um ou outro que possa sair fora da sua alçada. Desde quando o excesso de voluntarismo é pecado? Mas eu estou consigo, caro senhor engenheiro. E, com alguma sorte, o procurador-geral da República também.

Atentamente, JMT.

João Miguel Tavares, in «Diário de Notícias», 12/11/09

Homenagem a João Miguel Tavares contra as manigâncias de Sócrates (onde se compara com João Vale e Azevedo)

Mais uma vez, José Sócrates perde um processo em Tribunal. Desta vez, contra João Miguel Tavares que, no fim de contas, só disse o que muitos já disseram: «A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.»

As dificuldades de José Sócrates em conviver com a democracia impediram-no, mais uma vez, de ver que só um cego não vê que o primeiro-ministro é claramente suspeito de um conjunto de manigâncias, mesmo que as mesmas não tenham sido (ainda) provadas em tribunal. Não é culpado, pelo menos até ver, mas que é suspeito, é.

Faz-me lembrar João Vale e Azevedo: enquanto foi Presidente do Benfica, a Justiça nunca lhe tocou e era tudo difamações do FC do Porto e da Olivedesportos. Quando deixou de o ser, cairam-lhe todos em cima.