Um olho pequenino e outro grandalhão

Mercosul, com a Argentina e o Brasil à cabeça, diz-se empenhado em „fechar“ acordo comercial com a UE. E vice-versa, é mais que sabido, se há coisa que está a funcionar na UE é a “política comercial e de investimento”.  E aqui se vislumbra a cegueira destes governos e desta UE e a manta de retalhos esburacada que andam a produzir – porque ora abrem o olho pequenino e dão passinhos para diminuir as emissões de CO2, ora abrem o grandalhão e promovem a grande vapor exactamente o contrário.

Exemplo:

No âmbito da apresentação do Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050, o Ministro do Ambiente avançou a intenção de redução da produção nacional de bovinos entre 20% e 50% até 2015. Tanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) como a Confederação dos Agricultores (CAP) de Portugal reagiram:

Para a CAP, esta posição demonstra falta de conhecimento da realidade da agricultura portuguesa e só pode constituir uma intenção isolada do ministério do ambiente no conjunto do governo. Com efeito, a produção de bovinos em Portugal é sobretudo efetuada em regime extensivo, com uma contribuição para os gases com efeito de estufa substancialmente inferior à dos sistemas de produção intensivos praticados em outros países.

Acresce que uma redução da produção de bovinos teria um impacto muito significativo na produção de derivados de leite, queijo, iogurtes, entre outros produtos, os quais iriam também aumentar as importações nacionais e comprometer o nosso crescimento económico.

Para além de tudo isto, é naturalmente questionável, do ponto de vista ambiental, que cada país deixe de produzir o que em seguida irá importar de outros países, com uma pegada ecológica provavelmente superior. No caso da carne em concreto, os grandes produtores mundiais são o Brasil e a Argentina, o que implica um custo e uma pegada ecológica muito considerável só no que concerne ao transporte.”

Ora nem mais, aí está: O MERCOSUR abre as portas da UE a carne barata em massa. Barata? Vinda do outro lado do oceano? Pois, por um lado, devido ao uso de métodos intensivos de produção, utilização de hormonas proibidas na UE e (maior) exploração dos trabalhadores agrícolas. Nos países do Mercosul, o aumento da produção contribui também para que sejam expulsos pequenos agricultores e povos indígenas a fim de aumentar o espaço para as monoculturas do agronegócio e desmatadas áreas de floresta tropical (Bolsonaro esfrega as mãos de contente).

Por outro lado, o transporte continua a não ter o custo que deveria, se fossem consideradas as externalidades negativas, ou seja, incluídos no preço todos os custos reais causados, como a poluição atmosférica.

Ou seja, o preço baratinho tem custos muito elevados mas os estados, em vez de impedirem ou inibirem a geração de externalidades negativas, incentivam e promovem-nas com todo o ímpeto.

Esta abominável casta de piratas com poder de decisão, quando avista negócio, já não pensa em mais nada, “comércio livre” é que é, à desenfreada.

As crianças agradecem.

P.S. – Nós, arraia miúda, também temos o nosso quinhão no contributo: comamos menos carne, compremos produtos locais – e muitas outras coisas, mas neste contexto, basta assim. E se vier agora alguém falar em politicamente correcto ou em liberdade individual, bem pode ficar a falar sozinho.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Assim se suicida a desunião europeia.

  2. ….o mundo á beira do caos !

    Alerta diferente mas mais do mesmo :

    LIBERTAR ASSANGE ANTES QUE SEJA TARDE

    Julian Assange está sob a ameaça iminente de ser extraditado para as masmorras estado-unidenses.
    O conluio entre o novo governo equatoriano e os governos do Reino Unido e EUA está em andamento acelerado.
    Eles pretendem entregá-lo aos carrascos dos tribunais trumpianos.
    Os seus advogados foram proibidos de visitá-lo na Embaixada do Equador em Londres, onde está asilado há anos.
    O antigo embaixador do Equador acaba de ser removido sem quaisquer explicações.
    !!
    Julien Assange a été un courageux lanceur d’alerte afin que nous soyons informés et avertis des invraisemblables abus des maîtres du Monde.

  3. esteve,ayres says:

    Organizemos a nossa luta!

    A situação portuguesa, em termos de classes e luta de classes, de base é muito semelhante à francesa e, a qualquer momento, poderá surgir em Portugal, mesmo com origem espontânea, um movimento político e social semelhante.
    As greves dos estivadores, dos médicos, dos enfermeiros, dos professores, dos funcionários públicos, dos transportes rodoviários e dos ferroviários poderão desembocar num poderoso movimento político e social de massas, a qualquer momento.
    Este movimento, em Portugal, tem sido travado pelos partidos traidores (PCP, Bloco, Verdes) e pelas lideranças sindicais traidoras CGTP-Intersindical e UGT, mas estas traições estão a ser desmascaradas e os traidores cada vez mais isolados.

    • esteve, está xé xé says:

      Viva o mrpp, viva o matos, educador da classe operária; abaixo o bataclan; vivam os jiadistas e… o gambrinus.

    • Paulo Marques says:

      Sim, é já já amanha, como primeiro-ministro-sol da “esquerda” europeia e o discurso responsável. O que vale é que o contabilista vem aí destruir empregos para o capital aumentar os ganhos com os RERT.

  4. “Viva” o CDS + MRPP + PSD… aliança mai nada!

  5. JgMenos says:

    Em Portugal a contestação reside nos beneficiários do Estado e nos que podem chantagear o Estado.
    As vítimas da estatização abrilesca tratam da vida sabendo que o mais que o Estado possa fazer provavelmente fará piorar a sua situação.

    • Paulo Marques says:

      “Em Portugal a contestação reside nos beneficiários do Estado e nos que podem chantagear o Estado.”

      Tem toda a razão, a EDP, a Altice, a CIP, a banca, as sociedades de facilitadores e demais sanguessugas estão sempre a chantagear o estado para conseguir benesses.

    • ZE LOPES says:

      “As vítimas da estatização abrilesca tratam da vida(…)”

      O quê? Não posso acreditar! V. Exa. foi nacionalizado durante o PREC? E colocado “ao serviço da classe operária” a passar a ferro os fatos-macaco dos operários da Lisnave depois das manifestações? Tenho de reconhecer que deve ter sido horrível! Um perfeito exagero!

      Olhe, ainda bem que veio o 25 de novembro, a AD, o Cavaco e as privatizações! Foi um merecido regresso à normalidade. A propósito: a que grupo económico foi distribuído?

      • abaixoapadralhada says:

        Não posso crer

        Ainda respondem a este jesuíta nojento

  6. Luís Lavoura says:

    Portanto, no esquema simplista da Ana, a carne (de vaca) do Mercosur é má mas a carne produzida ao virar da esquina é boa. Acontece que grande parte da carne (de vaca) do Mercosur é produzida nas pampas argentinas, certamente dos sítios mais adequados do planeta para a produção disso, enquanto que boa parte da carne de vaca portuguesa é produzida no Alentejo, que não tem nem nunca teve clima adequado para ela e que só a fornece devido aos subsídios da UE.
    Eu diria que, vaca por vaca, prefiro mil vezes, em termos de sustentabilidade ambiental, comer uma argentina do que uma alentejana!

    • Manuel Silva says:

      Lavoura:
      Esqueceu-se dos custos ambientais do transporte intercontinental?

    • Argumentos says:

      Oh lavoura me too… É que a vaca argentina sabe dançar o tango.

  7. Ana Moreno says:

    Vaca por vaca, Luís, comerá a que bem lhe aprouver e na quantidade que desejar, de acordo com a sua consciência – isso é óbvio.
    Agora em termos de sustentabilidade ambiental, não arranja justificação. Mas como é de prever que as ditas externalidades continuem a ficar por conta da generalidade dos cidadãos e a contribuir para o aquecimento global, o Luís vai poder continuar a saborear do que gosta, com ou sem hormonas, comprando barato. Bom proveito.

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