Estas coisas emergem de esgotos noticiosos ou de sites onde o fakenewsismo abunda, e a malta fica com a sensação que ali poderá haver gato (espero que esta expressão escape a malha fina do PAN). Mas eis que o Polígrafo mete mão na coisa, e a esmiúça até ao tutano, e fica confirmado para a posteridade que sim, os rendimentos dos deputados da nação beneficiam de um regime fiscal mais simpático que os demais mortais. E a cereja no topo do bolo? São as ajudas de custo e outros “extras”, incluindo aqueles que derivam de vigarices relacionadas com deslocações ou declarações de residência, que escapam ao leviatã fiscal.
Vamos fazer de conta que tudo isto é normal. Que deve ser encarado com naturalidade. Que não há dinheiro para repor direitos aos professores, para resolver a pouca-vergonha na ala pediátrica do São João ou para suprir as carências do SNS, mas que nunca falta para manter uma elite pouco competente de deputados, mais assessores e quejandos, com ajudas de custo e subsídios mil, não raras vezes obtidos através de esquemas desonestos que deveriam, por si só, ser suficientes para encaminhar o aldrabão para o olho da rua.
Depois é vê-los enfurecidos, indignadíssimos com o descontentamento da turba que clama por salazares e merdas dessas. Governam Portugal com salário de alemão, acumulam, muitas vezes através de esquemas indignos, adicionais com os quais os deputados de alguns países mais ricos nem sonham, desempenham um trabalho altamente questionável, não raras vezes em situação de conflito de interesses, e ainda têm a distinta lata de vociferar contra as críticas legítimas que lhes são feitas. Poucos cavam a sua própria cova com tanto afinco. A extrema-direita agradece.
“Os deputados têm a sua vida profissional, não se paga aos deputados o suficiente para eles serem todos apenas deputados”
(Almeida Santos)
Aguardo ansiosamente por uma greve dos deputados o parlamento!
Ah, espera, são eles que fazem o seu salário, as leis que permitem ter ajudas de custo não comprovadas e não serem apanhados em esquemas fraudulentos como estar em dois sítios ao mesmo tempo não é?
Na AR há dois tipos de deputados. O grupo dos que vêm aquilo como um emprego, e o grupo dos que vêm aquilo como um negócio. É no grupo dos que vêm aquilo como um emprego, que emerge mais o sentimento de “revolta e injustiça”, por serem “mal pagos”. Acham que a vaca não dá o leite que eles necessitam para satisfazer as suas necessidades. Mas neste grupo existem ainda duas estirpes. Os que esforçaram na vida por fazer carreira política, sem terem apetência para mais nada, a maioria, diga-se, vindo das jotas, e aqueles que vindo das, escolas, universidades, dos sindicatos, das Ordens profissionais, enfim, da sociedade civil em geral, procurando defender, no mínimo, os seus interesses de classe, na medida em que têm poder reivindicativo e social, seja pelo número de membros, seja pelo nível intelectual, técnico e científico. Por ex: os médicos.
Deixei para o fim, aqueles que vêm aquilo como um negócio, normalmente gente associada à direita e ao mundo empresarial, por via direta ou indireta, cuja ideia base não é servir ninguém que não eles próprios, durante uma ou duas legislaturas, tornando-se testas de ferro dos interesses económicos em jogo, produzindo legislação adequada que favoreça os seus interesses, na tal porta giratória, que mais tarde lhes dará o emprego como CEO ou Chairman numa qualquer PSI 20.
Resumindo, o país, com excepção de 1/3 dos deputados, está entregue a uma matilha de predadores, que decdas apos decdas têm levado Portugal ao estado a que chegámos.
Não me admira portanto de ver o CDS e uma boa parte do PSD populista e demagogicamente “a grunhirem contra o aumento de benesses para os políticos, quando o país está em crise”, uma vez que eles trabalham mais, para um futuro mais risonho, numa qualquer administração de um grande grupo económico, ou nos grandes gabinetes de advocacia, e ver a esquerda, mais o PS, preocupados com os rendimentos auferidos pelos deputados.
Os telemóveis são terríveis. Para quem tem os dedos grossos, ainda pior!
Há aqui uns erros, como “décadas”, umas vírgulas mal colocadas, mas consegue perceber-se.
Diz o povo:
“Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro, ou não tem arte”
Os burros são os que elegem esta gentalha para legislar.
Os artistas, são os eleitos.
Na hora de votar, não esqueçamos. Ponha-se lá um risco forte a toda a largura da página que, algum dia, eles perceberão o que pensamos deles.
É preciso ter algum cuidado. É que a alternativa, a não ser acabar com o voto e a representatividade, é qual?
Não percebo a dialéctica.
Lêem-se aqui dezenas e dezenas de posts onde grassa a queixa generalizada sobre o (mau) carácter da generalidade dos deputados e do funcionamento da assembleia.
Resumo rápido para ajudar a centrar ideias: os deputados são uns chupistas, alguns corruptos, interesseiros, oportunistas, legisladores que protegem malfeitores …
E depois vem-se falar em representatividade!!!
Já deu para perceber a aposta no mal menor e no seu associado – o vale de lágrimas e, naturalmente, os referidos deputados agradecem o conceito de representatividade.
Resta a pergunta: Afinal, de que se queixam?
Acham que este contínuo apontar de malfeitorias e oportunismos vai ter algum reflexo naquela corporação, protegida pelos dois representantes da Nação, portanto, ao mais alto nível?
Embora a pureza e vestes alvas mais rapidamente ajudem a encontrar o caminho dos céus, eu prefiro ser realista e dizer: esta gentalha, não me serve. Não me revejo na representação e por isso, voto sempre, mas nunca em nenhum destes partidos. E o meu voto não tem nada de aventureiro: é uma forma de expressar o que penso desta gente e seguramente intelectualmente mais honesta que a via do mal menor.
Ernesto Martins Vaz Ribeiro
Sim, concordo com o seu texto, na generalidade, e partilho do seu desencanto com “o estado a que isto chegou” !
E contra a “aposta no mal menor” qual será a alternativa ?
Esta ? https://www.youtube.com/watch?v=QEAzldLOoIc
“Ministra da Mulher, da Criança da Família e…do Índio, do governo bolsonaro, e “pastora” da iurd, uma associação de malfeitores acusada de tráfico de crianças em Portugal (duas das quais, alegadamente entregues a dois filhos do “bispo” multimilionário edir macedo.
Extorquindo o “dízimo” a pobres crentes, em desespero à espera de um “milagre”, utilizam figurantes, obrigados ao silêncio, para simularem exorcismos, “expulsam o diabo do corpo” e “curam doenças do corpo e…da alma !!!!
E, tudo isto, sob as barbas das “entidades competentes”, que, displicentes, olham para o lado…
Reportagem TVI – 14 de Dezembro de 2017
Caro José Peralta.
Tem toda a razão quando diz que entre os 230 deputados há gente séria. Não tenho, sobre isso, a mínima dúvida.
Contudo, para mim, o problema é a quase impossibilidade que eles têm de votar pela sua própria cabeça, obrigados que estão à disciplina partidária. Há quem o faça, também, por imperativos de consciência, mas sabem que ficam marcados. Ou há casos, como o aborto, ou a eutanásia, onde o partido “magnanimamente”, deu “liberdade de voto”.
De resto o caro José Peralta toca num ponto fundamental que é a representatividade do deputado. Isso seria bom se existissem os círculos uninominais, como acontece em França onde o votante vota em pessoas físicas e não num grupo cuja lista é feita na sede do partido. E no fim, pede-lhe responsabilidades. Ora este cenário, não se coloca na nossa Assembleia, onde votamos em partidos e portanto na tal lista que, naturalmente só tem “gente da corda”…
É, pois, neste contexto, que lhe digo que não me posso sentir minimamente representado.
Relativamente à justiça, defendo que numa democracia, como o actual regime propala, não chega a tentativa de a executar. A justiça é o pilar mais importante de uma democracia e é o elemento que lhe dá, ou não, valor.
Ainda esta manhã, na revista da Imprensa e a propósito da crise bancária, ia ouvindo que o incesto entre banca e estado atingiu níveis obscenos e que há a certeza que os responsáveis não foram condenados. Dito de outra forma o saque continuado terá novos episódios, com o aval dos partidos que incluem as tais pessoas de bem, que eu e o meu caro amigo dizemos que existem na Assembleia.
Faz muito bem em perseguir a sua ideia sobre as eleições e o seu sentido de voto. Pela parte que me toca, não tenho, de facto a sua visão nem o seu optimismo. A justiça que temos é a que está à vista do cidadão atento: não tem venda, a balança está avariada e a espada só é usada sobre o desprotegido.
E a única entidade com autoridade para ter mão nesta situação – o garante pelo bom funcionamento das instituições – anda, agora, mais preocupado com as eleições e tem um (o seu) partido que precisa de ajuda…
Cumprimentos.
Caro José Peralta.
A alternativa que me propõe, em nada é diferente da que se vive na Assembleia. Muda apenas o conceito de Deus que, no exemplo que me traz é bíblico e na Assembleia é o orçamento. De resto, ambos os exemplos, são associações mesteirais e corporativas em que o fito é sacar dinheiro a quem trabalha e proteger uns quantos, sejam eles banqueiros, políticos ou “bispos”…
Não percebo porque fala em alternativas quando elas existem e estão consignadas no quadro político social em que nos movemos. O voto nulo e branco (embora eu entenda que num país de falcatruas, como este, o voto branco é perigoso, pois presta-se a manipulações) estão consagrados no panorama actual e deveriam ter tanta validade como o voto em qualquer desses grupelhos corporativos e mesteirais a que chamam partido.
Eu defendo que quando o número de brancos e nulos for substancial, aquela cáfila de oportunistas começará a pensar duas vezes.
De resto o actual presidente já aflorou o tema à juventude. Ele já percebeu, mas sabe que tem tempo, porque conhece a inércia do português e ele já fez 70 anos (quem vier atrás que feche a porta)..
A solução não pode ser o “não votar”. A solução é votar BEM. E num quadro onde eu me não sinto minimamente representado, a solução é o voto nulo ou branco, consignado, como sabe, na lei eleitoral.
Que a classe política não dê valor a esta solução, não me admira nada. O que me admira é ver pessoas a votar para andarem quatro anos a dizer mal em quem votaram.
Eu já tenho a minha alternativa e há um bom par de anos, porque fui daqueles que, em tempos, acreditei. Mas o bónus já passou de validade e agora, nesta gentalha, nunca mais.
O que me quer parecer, com toda a honestidade, é que há muita gente que não quer saber de alternativas e portanto … enfiam a cabeça no buraco como faz a avestruz quando há tempestade e refugiam-se nas redes sociais para dizer mal… de quem elegeram, continuando teimosamente a flagelar-se… e a votar nos mesmos.
Cumprimentos.
Caro Ernesto Martins Vaz Ribeiro
“De resto, ambos os exemplos, são associações mesteirais e corporativas em que o fito é sacar dinheiro a quem trabalha e proteger uns quantos, sejam eles banqueiros, políticos ou “bispos”…”
Sem dúvida ! Mas, pelo menos e por enquanto, na nossa deficiente e anquilosada Democracia, ainda há tentativas de punir, julgar a corrupção e, porventura, condenar, (se fôr caso disso…) a mais alta hierarquia do Estado, da Banca, das Forças Armadas… se para isso, também pudermos contar com a duvidosa “independência” política e corporativa do M.P. e da Judicatura…
E quanto a votar, eu não me demito de, no meu conceito, votar “BEM”, porque considero que na A.R., entre os 230 eleitos, ainda há deputados que me representam e me merecem confiança !
Os meus cumprimentos
Será que MP tb é amigo dos deputado, que se passeiam ao longo dos anos nos claustro de S:Bento!?